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Brasil

Entenda como é feita a contagem dos indígenas no Censo

A população indígena identificada em 2022 (quase 1,7 milhão) é 88,8% maior do que a contada no recenseamento anterior (896,9 mil), referente a 2010

Redação Jornal de Brasília

07/08/2023 10h39

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

O novo retrato do Censo Demográfico 2022, divulgado nesta segunda-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra uma população de quase 1,7 milhão de indígenas no Brasil.

Esse contingente equivale a 0,83% do total de habitantes no país (203,1 milhões). A seguir, entenda como foi feita a contagem dos indígenas referente a 2022, a metodologia usada pelo IBGE e a importância dos dados.

ONDE A CONTAGEM INDÍGENA É REALIZADA?

A contagem dos indígenas é feita nas 27 unidades da federação, tanto dentro quanto fora das localidades indígenas.

O QUE SÃO LOCALIDADES INDÍGENAS?

O IBGE trabalha com três conceitos de localidades indígenas: terras indígenas oficialmente delimitadas, agrupamentos indígenas e outras localidades indígenas.

As terras são aquelas que contavam com alguma delimitação formal por parte da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Eram 573 até a data de referência do Censo 2022 -31 de julho do ano passado.

Os agrupamentos, por sua vez, são os conjuntos de 15 ou mais indígenas em uma ou mais moradias contíguas espacialmente e com vínculos familiares ou comunitários.

Esses agrupamentos podem ocorrer em áreas rurais ou urbanas, dentro ou fora de terras indígenas. A identificação deles é feita pelo próprio IBGE.

Já as outras localidades indígenas abrangem diferentes situações, como as ocupações domiciliares dispersas em áreas rurais e urbanas e os registros no entorno das terras e dos agrupamentos. A identificação também é feita pelo IBGE.

QUEM É CONSIDERADO INDÍGENA?

O Censo Demográfico segue o princípio da autodeclaração. Ou seja, para ser considerado indígena, o entrevistado precisa se declarar dessa maneira.

O CENSO 2022 É O PRIMEIRO A CONTAR INDÍGENAS?

Não. O IBGE vem investigando sistematicamente a população indígena desde o Censo 1991. O que mudou de lá para cá é parte da metodologia.

No Censo 2022, uma das principais novidades foi o retrato inédito de outra população: a dos quilombolas. Isso ocorreu porque houve a inclusão da seguinte pergunta: “você se considera quilombola?”.

Até então, os quilombolas eram contabilizados apenas na população total, sem o detalhamento de quantos são e onde vivem, agora disponível. O Censo 2022 registrou 1,3 milhão de quilombolas, contingente inferior ao dos indígenas (quase 1,7 milhão).

A POPULAÇÃO INDÍGENA AUMENTOU OU NÃO?

A população indígena identificada em 2022 (quase 1,7 milhão) é 88,8% maior do que a contada no recenseamento anterior (896,9 mil), referente a 2010. Os dados, porém, não são totalmente comparáveis.
Conforme o IBGE, não é possível afirmar que essa população quase dobrou em 12 anos apenas em razão de fatores demográficos. Parte da limitação está associada a uma mudança na metodologia dos questionários.

Além disso, o IBGE também reconhece uma possível subenumeração na contagem de 2010, o que o órgão tentou evitar em 2022 por meio de um refinamento nas técnicas de abordagem aos indígenas.

QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS DE 2022 EM RELAÇÃO A 2010?

No Censo 2022, o IBGE fez a seguinte pergunta em todo o território brasileiro: “a sua cor ou raça é?”. As opções de resposta eram as seguintes: branca, preta, amarela, parda ou indígena.

Se uma pessoa estivesse dentro de uma localidade indígena (terra, agrupamento ou outra localidade) e não se declarasse indígena no quesito cor ou raça, o recenseador abria uma segunda questão: “você se considera indígena?”.

Em 2010, o IBGE também fez a primeira pergunta sobre cor ou raça em todo o território nacional, incluindo as possibilidades de resposta branca, preta, amarela, parda ou indígena.

A diferença é que, em 2010, a segunda questão -“você se considera indígena?”- só era aberta para brancos, pretos, amarelos e pardos se eles estivessem nas terras indígenas oficialmente delimitadas, e não em todas as localidades indígenas, como é o caso de 2022.

Segundo especialistas e representantes de entidades ouvidos pelo IBGE, esse fator pode ter gerado uma subenumeração na contagem anterior. O instituto indicou que a mudança em 2022 veio a partir dessas avaliações.

O IBGE também diz que buscou aprimorar as técnicas de abordagem no Censo 2022 com o objetivo de minimizar as recusas a entrevistas.

Para aplicar os questionários junto aos indígenas, o IBGE teve o apoio de guias e intérpretes, além de reuniões anteriores com lideranças das comunidades. A ideia foi sensibilizar as localidades sobre a importância da contagem.

COMO O IBGE ACESSA OS TERRITÓRIOS INDÍGENAS?

Para chegar até as áreas com presença indígena, os recenseadores do IBGE utilizaram diferentes estratégias, desde caminhadas até uso de barcos, aviões e helicópteros.

Parte dos territórios é de difícil acesso, sem estradas de circulação e com rios onde a navegação é considerada complicada.

Não bastasse isso, o recenseamento também encontrou dificuldades associadas a tensões em locais como a Terra Indígena Yanomami, a mais populosa do Brasil.

O território virou palco de uma crise humanitária em meio a invasões de garimpeiros ilegais. O IBGE contou com o apoio de forças de segurança para concluir a coleta yanomami neste ano.

POR QUE O CENSO TEM IMPORTÂNCIA?

O Censo pode servir como base para a definição e o aprimoramento de políticas públicas. Segundo o IBGE, trata-se da única pesquisa que investiga a população indígena em todo o território brasileiro.

Dados sobre etnias indígenas e outros detalhamentos, como idade e sexo, ainda não estão disponíveis.

Por ora, o Censo 2022 indica que a maioria dessa população vive fora das terras oficialmente delimitadas.
O número de indígenas contabilizados fora desses locais foi de quase 1,1 milhão, o equivalente a 63,27% do total (quase 1,7 milhão). A parcela de indígenas dentro das terras ficou em 36,73% (622,1 mil).

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