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‘Em reunião de uma hora, fornecedores xingavam a Americanas por 40 minutos’, diz CEO

“A gente chegava para uma reunião de uma hora e era xingado por 40 minutos. Só nos 20 minutos finais havia negociação”, disse à Folha Leonardo Coelho, presidente da Americanas

Redação Jornal de Brasília

15/11/2024 8h21

Foto: Americanas/Divulgação

DANIELE MADUREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

As reuniões da Americanas com fornecedores foram muito hostis no ano passado. A varejista, que assumiu uma fraude contábil de R$ 25,3 bilhões, e entrou em recuperação judicial com dívidas de R$ 42,5 bilhões, viu sua credibilidade desabar com todos os públicos com os quais se relacionava.

“A gente chegava para uma reunião de uma hora e era xingado por 40 minutos. Só nos 20 minutos finais havia negociação”, disse à Folha Leonardo Coelho, presidente da Americanas. “Hoje a reunião inteira é de negócios”, afirmou o executivo.

A varejista anunciou na noite de terça-feira (13) um lucro líquido de R$ 10,3 bilhões contra prejuízo de R$ 1,63 bilhão frente ao mesmo período de 2023 –mas o resultado está ligado diretamente à execução do plano de recuperação judicial, não à operação em si, que ainda não se mostra lucrativa.

‘INABILIDADE CRÔNICA DE GERAÇÃO DE CAIXA’
“A fraude contábil é só um aspecto da inabilidade crônica de geração de caixa da Americanas”, disse Coelho, para quem a crise que levou a varejista ao fundo do poço é “página virada” e o trabalho agora está em fazê-la voltar às origens, como uma operação rentável como era no final dos anos 1990. No período, a varejista havia acabado de passar por uma reestruturação capitaneada pela Galeazzi & Associados.

A empresa registrou no terceiro trimestre uma receita líquida de R$ 3,2 bilhões, com ligeira alta de 0,6% sobre o mesmo período do ano passado. O varejo físico é quem vem mantendo a operação de pé: as vendas brutas nas lojas avançaram 11% no trimestre, para R$ 3,4 bilhões. Mas as vendas no canal digital vêm desabando: queda de 45% no período, para R$ 658 milhões, uma vez que itens de maior valor agregado, como eletrônicos e smartphones, deixaram de ser comercializados diretamente pela empresa.

Segundo Coelho, a Americanas vem mantendo o plano de fortalecer sua operação no varejo físico, onde tem como principais clientes as mulheres das classes B e C em busca de guloseimas, lingerie e brinquedos. “Essa consumidora continuou comprando e confiando na marca, mesmo depois da enxurrada de notícias negativas sobre a empresa”, diz ele, ressaltando que o resgate da credibilidade junto aos fornecedores também vem permitindo que a empresa feche boas negociações, que a permitam oferecer preços competitivos.

‘A GENTE NÃO VAI À FALÊNCIA POR CAUSA DO ALUGUEL DO IGUATEMI’
Apesar de se manter com as vendas das lojas físicas, a varejista fechou as portas de 10% dos seus pontos de venda desde o início da recuperação judicial. “Vamos continuar encerrando as lojas que não apresentem um Ebitda [lucro antes de juros, depreciação e amortização] positivo”, diz Coelho.

Isso pode incluir a loja da Americanas no Shopping Iguatemi, em São Paulo, que foi alvo de uma ação de despejo em agosto, por aluguéis atrasados que somariam R$ 662,2 mil. O executivo diz que a empresa não tem aluguéis atrasados com o shopping e que, por estar em recuperação judicial, não pode acumular novas dívidas sob o risco de ir a protesto, o que poderia levá-la à falência.

“Ou eu pago ou vou à falência. A gente não vai à falência por causa do aluguel do Iguatemi”, afirma. De acordo com o executivo, as vendas na loja do shopping da família Jereissati, um dos centros comerciais mais sofisticados de São Paulo, estão aquém do esperado.

“Se a loja do Iguatemi não gerar resultado positivo depois de todo o catálogo de ações que a gente está colocando, o primeiro a querer fechar a loja não vai ser Iguatemi, vai ser a gente”, disse.

Questionado pela Folha sobre o andamento da ação de despejo contra a varejista, o Iguatemi respondeu apenas que “não comenta relações comerciais com seus lojistas”.

Nesse “catálogo de ações” está, por exemplo, adequar o mix de produtos ao perfil da loja, que deve estar preparada para atender às necessidades do consumidor da região. “Não adianta enviar para a loja de Campos do Jordão a mesma quantidade de guarda-sóis que eu vendo na loja de Copacabana [no Rio]”, disse Coelho.

Segundo o presidente da Americanas, hoje a adequação deste sortimento está em nível regional. Mas a ideia é torná-lo cada vez mais personalizado por município e por loja. “É um trabalho para os próximos três trimestres”, diz ele, que também planeja lançar um novo programa de fidelização da clientela.

De acordo com a diretora financeira e de relações com investidores da companhia, Camille Faria, a empresa está no caminho certo para voltar ao lucro. No terceiro trimestre deste ano, registrou um lucro operacional antes do resultado financeiro de R$ 279 milhões, o que a fez reverter uma perda de R$ 616 milhões no indicador de um ano antes.

Entre julho e setembro, apresentou um Ebitda negativo de R$ 250 milhões (após o pagamento de alugueis e sem contar eventos extraordinários). “É um número bem melhor do que apresentamos no primeiro semestre, de R$ 750 milhões negativos”, disse ela, ressaltando que, no terceiro trimestre, não existiram datas que puxam consumo, como Páscoa e Dia das Mães. “Estamos evoluindo na direção certa.”

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