ANDRÉ FLEURY MORAES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O Brasil desperdiça 40,31% do que produz de água tratada, recurso perdido antes mesmo de chegar ao consumidor final, mostra estudo do Instituto Trata Brasil divulgado na segunda-feira (24).
O levantamento foi feito em parceria com a GO Associados e abrange os 26 estados e o Distrito Federal.
O resultado é superior ao divulgado no levantamento de 2024, de 37,78%, mas “a evolução da série histórica deve ser analisada com cautela” ante mudanças na metodologia de cálculo implementadas pelo Governo Federal a partir de 2023, ano-base das informações do estudo divulgado na segunda.
São alterações que refletem “um esforço de aprimoramento dos critérios de mensuração e de aproximação a boas práticas internacionais”, diz o Trata Brasil, mas que por outro lado impactam a comparabilidade temporal dos resultados e por consequência a própria série histórica.
Fato é que o índice elevado de perdas permanece estagnado, afirma Luana Pretto, presidente executiva do Instituto Trata Brasil, e ainda distante da meta de 25% estabelecida pelo governo federal até 2034.
O percentual foi regulamentado em portaria do Ministério do Desenvolvimento Regional em 2021 no âmbito das medidas destinadas ao cumprimento das metas de universalização do saneamento básico.
O desperdício anual, segundo o Trata Brasil, soma 5,8 bilhões de metros cúbicos, ou 5,8 trilhões de litros, volume que poderia abastecer 50 milhões de brasileiros durante 12 meses. Em valores, o impacto das perdas é de R$ 13 bilhões.
Diferentes fatores explicam o desperdício, que pode ocorrer por ligações clandestinas no sistema de distribuição –popularmente conhecidas como “gatos”-, erros de medição ou hidrômetros problemáticos.
O maior volume, porém, se deve a vazamentos. Segundo o Trata Brasil, três trilhões de litros de água foram perdidos em 2023 por problemas nas redes de captação ou de distribuição hídrica.
A região Norte concentra os piores índices, mas é também a que mais apresentou evolução na série histórica. Se em 2019 os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins registravam juntos perdas de 55,21%, o número caiu hoje a 49,78%.
O Nordeste segue na casa dos 46%. É seguido por Sudeste, hoje com 38%, Sul (36%) e Centro-Oeste (34%).
Nenhuma das regiões está dentro do índice de perda de água considerado aceitável, de 25%.
O estado de Goiás é o único que se aproxima desse parâmetro, com 25,68% de perdas registradas. É o melhor percentual entre todas as unidades federativas.
Em segundo, terceiro e quarto lugar vêm Tocantins (30,96%), Distrito Federal (31,46%) e São Paulo (32,66%), respectivamente.
Os piores indicadores, por sua vez, estão em Alagoas (69,86%), Roraima (62,51%), Acre (62,25%) e Pará (58,71%).
O estudo analisou também as perdas registradas nas cem cidades mais populosas do Brasil.
Sete dos dez municípios com menores perdas hídricas são paulistas. O ranking é liderado por Suzano (SP), cujo índice é de 0,88%, e Nova Iguaçu (RJ), com 1,89% Em décimo lugar vem Campinas (SP), com 19,67%.
Mais heterogênea, a lista dos dez piores é liderada por Maceió (AL), que desperdiça 71% da água tratada produzida, seguida por Belém (PA), Várzea Grande (MT) e Ribeirão das Neves (MG). Piracicaba (SP) também entra nesse rol, com perdas de 55%.
A dirigente do instituto vê três grandes grupos de municípios no país.
“Temos aqueles que não entenderam que o saneamento precisa ser prioridade na agenda pública local; aqueles que já entenderam, mas focam primeiro na expansão da rede em vez da redução de perdas e aqueles que trabalham tudo isso em conjunto, primando pela eficiência.”
Os níveis de perda ainda elevados preocupa, afirma ela, sobretudo em razão do cenário de estiagem prolongada que o país tem enfrentado. O problema levou municípios a decretar racionamento de água ou emergência hídrica.
“Há previsão de 3,4% da restrição da oferta média de água em nossos rios por ano. Investir na redução de perdas de água e na modernização da infraestrutura hídrica é urgente para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e assegurar o uso sustentável de recursos naturais.”