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Brasil

Cônsul acusado de matar marido ameaçou testemunha, diz polícia

Hahn deixou a prisão na última sexta (26) por uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio. Ele viajou para a Alemanha dois dias depois

FolhaPress

30/08/2022 19h18

Foto: Reprodução

Yuri Eiras
Rio de Janeiro, RJ

O cônsul alemão Uwe Herbert Hahn, 60, que é réu acusado de homicídio qualificado contra o marido, o belga Walter Henri Maximilien Biot, 52, no Rio de Janeiro, ameaçou uma testemunha do caso por meio de um aplicativo de troca de mensagens, segundo a polícia.

Hahn deixou a prisão na última sexta (26) por uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio. Ele viajou para a Alemanha dois dias depois. Nesta segunda (29), a Justiça decretou a prisão preventiva dele e determinou à Polícia Federal que seu nome seja incluído na lista de foragidos da Interpol.

Biot foi encontrado sem vida por bombeiros na noite do dia 5 de agosto, uma sexta-feira, numa cobertura em Ipanema. Eles foram acionados por Hahn, que disse que o marido havia sofrido um mal súbito. Após notar marcas de agressões, os agentes encaminharam o caso à polícia.

Segundo a polícia, nas mensagens enviadas em francês a um amigo do belga, Hahn afirma: “Eu estou seguro, você não. Você conhece a polícia, eles vão adorar a verdade sobre você”.

A vítima responde: “Eu não preciso estar seguro ou fugir do país, ao contrário de você… Você é um assassino, você matou meu amigo e vai pagar por isso”.

O homem alvo das ameaças procurou nesta terça-feira (30) a 14ª DP (Leblon), que conduz as investigações sobre a morte.

Para a delegada Camila Lourenço, que lidera o inquérito, a troca de mensagens após a fuga mostra que o cônsul tem a confiança de que não será punido.

“Para a Polícia Civil nunca houve dúvidas acerca da autoria do crime, tanto é que efetuei a prisão em flagrante do cônsul”, afirma Lourenço. “A troca de mensagens após a fuga só deixa evidenciada a sensação de impunidade do investigado e caracteriza coação no curso do processo, outra conduta criminosa. Quando a vítima me procurou para narrar esse episódio (das mensagens), de imediato determinei o registro de nova ocorrência.”

Ao longo da investigação, segundo a delegada, Hahn tentou descredibilizar o marido, insinuando que Biot era alcoólatra e dependente de medicamentos.

O argumento do cônsul sobre a morte é que Biot sofreu um mal súbito durante um surto, tropeçou e caiu com o rosto no chão. O laudo de necropsia, entretanto, aponta a existência de múltiplas lesões decorrentes de ação contundente, inclusive lesões antigas, em várias partes do corpo. A causa da morte foi traumatismo cranioencefálico na altura da nuca.

“Eu acompanhei os trabalhos da perícia de local e pude constatar que havia fezes e sangue em diversos pontos do imóvel. Todas as evidências sinalizam para um espancamento da vítima”, relembra a delegada. “Por ocasião da realização da perícia de local, eu mesma realizei uma entrevista com o cônsul, na qual ele, de forma espontânea, tentou nos convencer da falaciosa versão de mal súbito”.

Hahn chegou a ficar preso por 20 dias. Na última sexta (26), após decisão do Tribunal de Justiça, ele deixou a penitenciária em Benfica, na zona norte do Rio, em que era mantido.

A decisão de liberdade do cônsul gerou divergências entre a Justiça e o Ministério Público. A Justiça disse que o habeas corpus foi concedido porque a Promotoria demorou para apresentar a denúncia. Já a Promotoria afirmou que não houve perda de prazo processual.

Nesta segunda (29), após o Ministério Público oferecer a denúncia contra Hahn, o juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, decretou a prisão preventiva e determinou que o nome do cônsul figure na lista da Interpol.

Procurada, a Polícia Federal afirmou que não poderia se pronunciar sobre o assunto. O Consulado-Geral da Alemanha no Rio de Janeiro disse que não irá fornecer informações sobre o cônsul ou detalhes do caso.

“Manter o criminoso encarcerado depende do esforço e da atuação diligente de todos os órgãos da persecução penal. A sensação que tenho é de completa frustração. Como diz o ditado, ‘Inês é morta’. Morreu também todo um trabalho investigativo”, afirma a delegada.

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