MAURÍCIO BUSINARI
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)
Uma adolescente de dezesseis anos fugiu de casa após dois anos mantida em cárcere privado, segundo o Conselho Tutelar.
Jovem foi encontrada com desnutrição severa e lesões da cabeça aos pés. Ao UOL, Aline Pinheiro Braz dos Santos, do Conselho Tutelar de Goiânia, contou que a jovem estava em condições “assustadoras” e chegou a perder o ciclo menstrual por desnutrição. Ela estava com os joelhos muito machucados “de tanto ser castigada, ficando de joelho por horas”, e apresentava sinais de agressões “de várias formas”, cometidas com “pau, fio de ferro e até bitucas de cigarro”.
Adolescente era privada de alimentos e humilhada pela mãe, diz conselheira. “Quando ela comia, a comida era jogada ao chão porque a genitora dela falava que era uma cadela, que ela tinha que ser tratada como tal”.
Vítima conseguiu fugir do imóvel por uma escada deixada por descuido no quintal. Ela contou que percebeu o “erro” da genitora, conseguiu subir no muro e pular em direção à calçada. A fuga ocorreu na madrugada do dia 21.
A mãe e o padrasto da jovem foram presos, além de outra mulher que vivia com a família no imóvel.
Conselho Tutelar acionou a polícia após denúncia de uma vizinha.
TRABALHO FORÇADO
Adolescente era obrigada a trabalhar na confecção da família. Aline afirmou que os responsáveis “inventavam que ela não limpou direito ou não trabalhou direito” para justificar castigos e agressões. A conselheira disse ainda que vídeos em posse da polícia registram episódios de assédio praticados pelo padrasto.
A jovem vivia em isolamento total, sem contato com vizinhos, acesso à rua ou telefone. A mãe já tinha histórico de agressões contra outras filhas, segundo o Conselho Tutelar. Não há, porém, registros de denúncias anteriores envolvendo especificamente a adolescente resgatada.
A adolescente voltou a viver com o pai, a madrasta e o irmão após o resgate. Ela passou a receber acompanhamento de saúde, atendimento psicossocial e medida protetiva, além de ser encaminhada ao Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), ao Caps (Centro de Atenção Psicossocial) e a profissionais de diversas especialidades.
Caso é investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. O UOL não conseguiu contato com a defesa dos três suspeitos envolvidos no caso. O espaço permanece em aberto para futuras manifestações.
COMO IDENTIFICAR OUTROS CASOS
Denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo Disque 100, pelo Conselho Tutelar local ou diretamente às forças de segurança, como a Polícia Militar (190) e a Polícia Civil. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) estabelece que a responsabilidade pela proteção é compartilhada entre família, Estado e sociedade. “Precisamos denunciar. A comunidade tem papel essencial para evitar que crianças permaneçam no sofrimento”, disse a conselheira.