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Brasil

2 de novembro: qual é a origem do Dia de Finados?

Há pouco mais de mil anos, fortaleceu-se a crença de que, por meio das práticas religiosas desse dia, os vivos podiam ajudar os mortos a alcançar a salvação com mais facilidade

Redação Jornal de Brasília

01/11/2023 8h57

Foto: divulgação/ Sejus-DF

REINALDO JOSÉ LOPES
SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS)

O Dia de Finados, marcado, no Brasil, por costumes como visitar túmulos de familiares e enfeitá-los com flores, surgiu graças a uma importante mudança nas ideias sobre a morte entre os cristãos da Idade Média. Há pouco mais de mil anos, fortaleceu-se a crença de que, por meio das práticas religiosas desse dia, os vivos podiam ajudar os mortos a alcançar a salvação com mais facilidade.

Embora as orações em favor de entes queridos que já tinham morrido remontem aos primeiros séculos do cristianismo, as versões mais antigas da fé não esclareciam em detalhes como isso poderia beneficiar os defuntos. Alguns textos do Novo Testamento, a porção cristã da Bíblia, davam a entender que praticamente todas as pessoas que morressem ficariam “adormecidas”, num estado de espera, até o momento do retorno de Jesus Cristo e do Juízo Final, no qual, então, seriam julgadas por Deus e receberiam recompensas ou punições eternas.

Logo, no entanto, desenvolveu-se a crença de que ao menos alguns dos fiéis cristãos, como aqueles que acabavam sendo perseguidos e executados por sua fé, poderiam ir ao Céu imediatamente após a morte.

Os que carregavam os pecados mais graves seriam condenados ao Inferno de imediato. Para a maioria, porém, ainda se imaginava algum estado intermediário de espera.

Com o tempo, foi se desenvolvendo a crença de que era possível, por meio das orações, das penitências e de outros atos de religiosidade dos vivos, fazer com que algumas dessas almas em estado de espera pudessem ser enfim recebidas por Deus.

Essas práticas também foram influenciadas por uma série de relatos místicos do fim da Antiguidade e começo da Idade Média, nos quais havia descrições de almas sofrendo uma série de punições no Além e pedindo que os vivos rezassem por elas.

Foi um desses relatos que, segundo a tradição, chegou aos ouvidos de Odilo de Cluny (962-1049), figura importante da ordem religiosa dos beneditinos na França. Odilo foi o primeiro a celebrar o Dia de Finados em 2 de novembro, estabelecendo que os fiéis deveriam jejuar, dar esmolas aos pobres e ir à missa. A data, provavelmente não por acaso, cai um dia depois do Dia de Todos os Santos, dedicado a celebrar aqueles que a Igreja considerava já estar junto de Deus.

O prestígio de Odilo e de sua comunidade em Cluny, uma das mais influentes da Europa na época, fez com que a prática se espalhasse de forma relativamente rápida pela cristandade.

Ao mesmo tempo, nas décadas seguintes, com o surgimento das universidades e do ensino formal da teologia no continente, em locais como Paris, começou a ser formalizada a doutrina do Purgatório. É o que explica o medievalista britânico Peter Heather em seu mais recente livro, “Christendom: The Triumph of a Religion” (“Cristandade: O Triunfo de uma Religião”), ainda inédito no Brasil.

Segundo Heather, o Purgatório passou a ser visto como uma condição formalizada que a maioria dos fiéis defuntos teriam de enfrentar para serem admitidos ao Céu. E as provações que enfrentavam poderiam ser abreviadas pelas orações e outras práticas em favor deles no Dia de Finados e em outros momentos. “Os mestres de teologia de Paris amarraram os diferentes fios da teologia sacramental, do Purgatório, do cuidado para com os mortos e da tradição penitencial num único relato coerente”, escreve o historiador.

Em essência, a doutrina atual da Igreja Católica ainda segue esses pressupostos. A recomendação é que os fiéis, nesse dia, façam a confissão e a comunhão e visitem um cemitério para rezar pelos defuntos, além de rezar também pelo papa.

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