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Omar, um bebê de Gaza, morre por fim da cooperação entre palestinos e Israel

A operação de Omar foi planejada para acontecer em Israel, onde os hospitais estão muito bem equipados

Redação Jornal de Brasília

23/06/2020 10h27

Por Hiba ASLAN

Com problemas cardíacos, Omar Yaghi, um bebê de oito meses de Gaza, precisava ser transferido para um hospital israelense. Mas com o fim da cooperação decretada pelos palestinos, a operação foi adiada e Omar morreu.

A família Yaghi está “no fundo do poço” desde a morte de Omar na quinta-feira passada. Segundo as ONGs, ele é a primeira vítima desde a interrupção da cooperação de segurança anunciada em maio pelo presidente palestino Mahmoud Abbas para protestar contra o projeto israelense de anexar áreas da Cisjordânia ocupada.

“Somos vítimas dessa discordância”, lamenta Mohamed, tio do bebê, explicando que os pais do menino pediram que ele respondesse à AFP por estarem devastados.

Omar, nascido em outubro com problemas cardíacos, precisava realizar uma operação em 24 de maio, quatro dias após o decreto do presidente Abbas para encerrar a cooperação com o Estado hebreu.

A operação de Omar foi planejada para acontecer em Israel, onde os hospitais estão muito bem equipados.

Os feridos e gravemente doentes de Gaza e Cisjordânia podem ser transferidos para hospitais em Israel, mas sua passagem de um território para outro requer coordenação entre as administrações.

Embora Gaza esteja sob o controle do movimento islâmico Hamas, a regulamentação para entrar e sair é entre Israel e a Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas.

Após a suspensão no final de maio, várias ONGs se mobilizaram para tentar encontrar uma solução.

Mas Omar sucumbiu três dias antes da nova data da operação em um hospital perto de Tel Aviv, cerca de 60 km ao norte da Faixa de Gaza.

– Quem é responsável? –
Quem é responsável pela morte do pequeno Omar? “A ocupação (termo usado por muitos palestinos para se referir a Israel) é responsável pelo acesso de Gaza”, diz Mohamed, contatado por telefone.

A unidade do governo israelense encarregada de coordenar com os territórios palestinos, o COGAT, diz que continua a acordar o acesso “aos residentes da Faixa de Gaza para tratamento vital ou outras necessidades humanitárias”.

Quando Omar tinha um mês, foi transferido para o hospital Tel Hashomer.

Na quarta-feira passada, pouco antes da meia-noite, os pais de Omar o levaram a um hospital em Gaza, “onde ele recebeu ressuscitação cardíaca e respiração assistida”, explica seu tio. Mas sua condição deteriorou-se rapidamente.

Sua família tentou obter uma transferência urgente para Israel. “Mas às 10h (de quinta-feira), a administração do hospital entrou em contato com Ahmed, pai de Omar, para informá-lo da morte de seu filho”, relata o tio.

Em um comunicado, a ONG israelense “Médicos pelos Direitos Humanos”, que havia ajudado a família a encontrar outra data para a operação, atribuiu a morte de Omar a Israel e às autoridades palestinas.

“Israel é o principal responsável, mas a Autoridade Palestina não deu alternativas” para tratar Omar, denuncia Ghada Majadle, diretora-geral desta organização, para quem o sistema de permissão israelense é “burocrático e arbitrário”, o que Israel nega.

Do lado palestino, o diretor de transferências médicas do Ministério da Saúde, Dr. Haitham Al Hadra, rejeita a ideia de que não havia alternativa palestina.

“95% das condições médicas podem ser tratadas em hospitais palestinos, sejam eles governamentais ou privados”, garante.

Ele também afirma que, desde o decreto do presidente Abbas, os pacientes que precisam ir a Israel exercem a coordenação “por conta própria”, sem passar pelo seu ministério.

Mas Omar não é o único caso.

Hala Al Johari, uma mulher de 58 anos com leucemia “aguda”, moradora de Nablus, no norte da Cisjordânia, precisa ir ao hospital Hadassa Ein Kerem em Jerusalém toda semana para receber tratamento plaquetário que reforça seu sangue.

As autoridades palestinas pagavam seu tratamento e remédios em Jerusalém e facilitavam o transporte. Mas, desde o final da cooperação, tudo mudou para Hala.

“Estou diante do desconhecido”, lamenta a mulher.

Na quarta-feira, pacientes palestinos com câncer protestaram em Ramallah, a sede da Autoridade Palestina. Alguns dias depois, Hala recebeu boas notícias.

“Eles me ligaram para dizer que terei remédio suficiente para o próximo mês”, diz com algum alívio. “Eu não quero morrer.”

 

© Agence France-Presse

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