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Nova espécie de peixe elétrico da Amazônia produz um choque de 8 tomadas

O trabalho, publicado na edição desta terça-feira, 10, na revista Nature Communications, foi um esforço de mais de 20 pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos

Lindauro Gomes

10/09/2019 18h22

Um projeto científico que planeja descrever todos os peixes elétricos da América do Sul encontrou uma espécie que emite a maior voltagem já registrada por um animal, chegando a 860 volts De quebra a pesquisa ainda descobriu que esse peixe típico da Amazônia, que se julgava ser apenas uma espécie, na verdade são três.

Trata-se do poraquê, descoberto há 250 anos e que é amplamente espalhado pela região. Isso levantou a suspeita dos cientistas, porque ele ocorre em ambientes muito distintos, o que sugeriria uma separação ecológica. Análises morfológicas e genéticas revelaram que são três espécies.

O trabalho, publicado na edição desta terça-feira, 10, na revista Nature Communications, foi um esforço de mais de 20 pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos. Teve apoio da Fapesp, da Instituição Smithsonian e da National Geographic Society.

A espécie Electrophorus electricus, descrita em 1766 pelo naturalista sueco Carl Linnaeus, agora nomeia apenas os animais que vivem no extremo norte da Amazônia, no chamado Escudo da Guiana, que abrange o norte de Amapá, Amazonas e Roraima, além de Guiana, Guiana Francesa e Suriname.

A Electrophorus voltai ocupa áreas mais altas, com corredeiras e cachoeiras, do chamado Escudo Brasileiro, no sul do Pará e do Amazonas, Rondônia e norte de Mato Grosso. Já a Electrophorus varii foi encontrada na região mais baixa da bacia amazônica.

A descarga de 860 volts foi medida em campo em um exemplar de E. voltai. Até então, o maior registro para esses animais era de 650 volts. Segundo o zoólogo brasileiro David de Santana, do Museu Nacional de História Natural, da Instituição Smithsonian, dos Estados Unidos, que liderou o estudo, a alta voltagem é importante para defesa e predação.

“As outras espécies produzem descargas mais fracas, de cerca de 10 volts, usadas para comunicação e navegação. São animais que não enxergam bem, então usam as descargas como um tipo de sonar. Essa espécie também faz isso, mas a descarga bem mais forte tem outras funções”, explica.

O pesquisador, que liderou o trabalho, conta que tomou alguns choques enquanto estava na água fazendo a pesquisa, mas explica que, apesar de ser uma descarga forte, não chega a ser letal para o ser humano porque o choque é muito curto, de 1 a 3 segundos de duração.

“Apesar de representar quase 8 vezes a descarga produzida por uma tomada comum (as tradicionais em casa emitem 100 volts), o efeito é menor do que colocar o dedo na tomada, que traz uma descarga contínua, apesar da voltagem mais baixa”, diz. Ele alerta, porém que uma pessoa num rio, com água na cintura, se tomar um choque de um poraquê, pode se desesperar e acabar se afogando.

A espécie foi batizada em homenagem ao físico italiano Alessandro Volta, que criou a primeira bateria elétrica, em 1799, justamente após se inspirar nos poraquês. Já a E. varii é uma homenagem ao zoólogo Richard Vari, pesquisador da Smithsonian que fazia parte do grupo e morreu em 2016.

O trabalho, que foi iniciado há dois anos, já descobriu cerca de 50 espécies de peixes elétricos na América do Sul, das quais seis já receberam nomes científicos.

Os autores sugerem que o sequenciamento e a comparação dos genomas dessas espécies podem fornecer informações sobre as origens e estruturas responsáveis pela geração de descargas elétricas de alta tensão.

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