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Família utiliza relatos de médico morto pela Covid-19 para alertar sobre perigos da doença

De acordo com os filhos, o médico, de 78 anos, havia voltado a atuar devido ao amor que tinha pela profissão

Redação Jornal de Brasília

24/06/2020 10h24

O médico especialista em alergia Vitório Marchesini Júnior veio a óbito em  6 de junho, aos 78 anos, em decorrência da Covid-19. De acordo com os filhos de Vitório, o médico havia voltado a atuar devido ao amor que tinha pela profissão e após perceber que os pacientes precisavam de sua ajuda. Durante o tempo em que ficou internado, ele enviou diversas mensagens para a família.

Vitório dedicou mais de 50 anos à medicina e desfrutava de uma boa condição de saúde. A família, que reside em Salvador-BA, optou por divulgar a historia do idoso, a fim de conscientizar as pessoas sobre a gravidade da pandemia do novo coronavírus. 

O médico Victor Marchesini, filho de Vitório, tentou entender a insistência do pai em retornar ao trabalho e abrir mão do isolamento social. O idoso foi encaminhado para uma unidade hospitalar com sintomas leves da Covid-19, no entanto, após 20 dias de internação, ele não resistiu. 

Em um grupo de whatsapp, Vitório compartilhou os momentos de internação. O Portal G1 teve acesso aos relatos. 

“Essa mensagem é de fé, carinho e sinceridade. Uma boa noite a todos, vou lutar por vocês, que estão comigo. Eu preciso de todo apoio de vocês”, disse Vitório em uma chamada de vídeo, no dia 3 de junho.

Para a esposa, Dr. Vitório mandou uma mensagem particular:

“Te amo, estou controlado, viu? Beijos!”.

Vitório também enviou uma mensagem para a nora, onde revela planos para quando recebesse alta do hospital.

“Rafinha, bom dia ou boa tarde, né? Eu estava dizendo a mim mesmo que, quando eu sair daqui, eu vou escrever uma reflexão, sobre o que é o médico que trata os seus pacientes, mas o médico que tem que tratar a si próprio para não morrer. E entre as coisas mais importantes, não todas, mas entre a mais importante, é ver essas fotos de vocês. Isso me dá uma vontade muito grande de voltar. Pode ter certeza que a gente tem que ter uma meta, um aconchego, e é a família, são vocês. Beijo”.

No dia 20 de maio, após realizar alguns exames, o médico demonstrou que estava esperançoso e que lutava pela melhora.

“Cau, repetiram a tomografia, deu um resultado semelhante à outra, até melhor um pouco. Tiraram sangue arterial, fizeram oximetria, né? Disse que está normal, e até agora só. Entende? Só estou aqui em observação, já não estou mais com oxigênio, não precisou botar. Nem fui pra UTI. Estou aguardando os médicos passarem aqui, pra ver o que pretendem fazer. Todos os meus dados vitais estão ótimos.”

No dia 22 de maio, ele relatou estar indisposto e confirmou o diagnóstico para a Covid-19.

“Fiquei hoje foi mais cansado, mas não é cansado de falta de ar não, cansado de indisposto, de ficar tanto tempo deitado. Mas de uma certa maneira, eu estou melhor, viu? O exame do vírus, né? Deu positivo, mas era o que se esperava mesmo, né?”

No dia 23 de maio, Vitório revelou não estar bem.

“Hoje não passei um dia bom, não. Também não foi dos piores. Eu fiquei com… Não era bem falta de ar, mas muita astenia, cansaço, sem vontade de acordar, sem vontade de comer. O pior de tudo que eu estou aqui é falta de apetite. Mas o resto vai levando devagar. E essa tosse que de vez em quando chega, mas num conteúdo geral, eu espero que eu esteja melhor.”

Ele foi transferido para a UTI após 5 dias de internação, mas prosseguiu com as mensagens onde afirmava que estaria bem.

“Hoje, permaneci 4h sentado e almocei melhor, a falta de ar ainda está, mas está bem melhor também. O oxigênio está na faixa de 92%, 94%, 95%, viu? Estou tomando todos os remédios, lembrando muito de vocês. Saudade muito, muito grande. Querendo sair daqui.”

Vitório enviou uma mensagem para o filho, que também é médico:

“Victor, pode falar com o médico. Eu confio muito em você. Acompanha, viu? Só para você ter uma ideia, já estou com 19 dias aqui, se você acompanhar, fica mais fácil. Já já estou na enfermaria. Fica acompanhando os médicos, confio em você. Te amo.” Para Victor, o pai foi a maior inspiração que o motivou a escolher a medicina como profissão.

Em 31 de maio, Vitório enfatizou que não poderia receber ligações, devido ao estado de saúde.

“Galera, estou fraco, com falta de ar, não estou podendo falar, e digitar muito pouco. Todas as informações, através de Victor. Peça a ele para ligar aqui para o hospital”, pediu Vitório.

O idoso veio a óbito no dia 6 de junho, após sofre uma parada cardíaca.

Felipe Marchesini, que também é filho de Vitório, disse: “Eu acho que a principal mensagem seria para você tomar muito mais cuidados do que você imagina que deveria estar tomando.”

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