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Casal de agricultores gay faz sucesso nas redes ao mostrar rotina no campo

Juntos há sete anos, eles moram e trabalham há três em uma fazenda de café em Santana do Manhuaçu, em Minas Gerais

Redação Jornal de Brasília

07/08/2024 7h23

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Foto: redes sociais

ANAHI MARTINHO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Quem vê os peões na lida em novelas como “Renascer” tenta imaginar como é o cotidiano de quem trabalha com a terra. Carregar sacas de café no lombo, cuidar da horta, alimentar os animais e ainda fazer o serviço da casa -essa é a rotina do casal Diogo Henrique Galizan, 29, e Thiago de Abreu, 25.


Juntos há sete anos, eles moram e trabalham há três em uma fazenda de café em Santana do Manhuaçu, em Minas Gerais. Foi mostrando seu dia a dia na roça com espontaneidade e bom humor que o casal conquistou 350 mil seguidores no Tiktok, 135 mil no Instagram e 315 mil no Kwai.


“A gente trabalha junto na roça, cuida da nossa horta, da casa e dos animais”, conta Thiago em entrevista à reportagem. Assim como nos vídeos, ele termina todas as frases com “Né, amor?”.


Desde o ano passado, o casal adquiriu mais uma função diária: a de gravar e postar vídeos para as redes sociais. “Sempre fazemos o vídeo da ‘jantinha dos meninos’. Se não fizer, o pessoal cobra”, contam. O cardápio do dia foi arroz, feijão, angu, miolo de porco e salada da horta que cultivam no quintal.


No cafezal, ganham cerca de R$ 80 por dia, a depender da função, além de moradia, água e luz. A fazenda é de porte médio e tem apenas três empregados: o casal e um irmão de Thiago, que foi quem os indicou no serviço.


O apelido adotado por eles nas redes, Os Meninos, veio, aliás, do patrão. “Ele fala que nós é os menino dele [sic]. Nosso patrão é maravilhoso, ele nos aceita e nos apoia muito”, conta Thiago, que até se emociona ao falar dos empregadores.


Antes de conseguir emprego e moradia na fazenda, Diogo e Thiago chegaram a ser expulsos e agredidos por antigos senhorios, vítimas de homofobia. Não paravam em nenhuma casa. Até que, há três anos, o irmão de Thiago conseguiu a vaga para eles na fazenda.


Sucesso começou com hater


O sucesso dos Meninos começou há pouco mais de um ano, e da maneira mais improvável: com um hater. “Uma pessoa criticou e aí mil vieram nos apoiar”, conta Thiago. “Aí a gente pensou: a gente não pode parar. Vamos continuar lutando pela nossa bandeira, porque do mesmo jeito que respeitamos os outros, queremos respeito. A gente só quer amar e ser feliz”, simplifica.


E bota feliz nisso. A maioria dos comentários nas redes é sobre como o alto astral dos Meninos é contagiante. Seja comendo marmita à sombra do cafezal, pegando pesado na enxada ou colhendo as couves da horta: gastar uns minutos no Tiktok dos Meninos é garantia de sair mais leve.


“A gente se sente muito bem cuidando da natureza, das flores, dos animais”, dizem os dois, que se divertem com os nomes que eles mesmos colocaram nos bichos: “Tem a Lupita, a Akira, a Shakira”, enumeram, rindo.


Sem tigrinho


Em um dos vídeos, eles aparecem trabalhando em um terreno. “A plataforma em que a gente ganha dinheiro é essa aqui, não tem jogo, não tem tigrinho. É acordar cedo e pegar na enxada”, ensinam.


Mas viralizar na internet ajuda: além de serem monetizados no Kwai e no Tiktok, eles ganham mimos de seguidores. A maioria dos presentes são itens de cozinha e alimentos. “Coisas que a gente estava precisando, e assim vamos montando nossa casinha”, comemora Thiago.


O dia da dupla começa às 5h40. Cuidam dos animais e da horta e depois vão para a roça, onde trabalham até as 17h. Aos finais de semana, fazem churrasco com amigos e parentes ou frequentam as festas da região, como a Festa do Café, que ocorreu em julho. As famílias são bem próximas.


Filho de agricultores, Thiago conta que estudou até o nono ano, mas sempre gostou de trabalhar na roça. “Tive uma família muito boa. Essa rotina aqui é a mesma que meus pais viveram e me criaram. É o legado que nós temos” diz ele, que atribui o sucesso à espontaneidade dele e do marido. “A gente mostra uma coisa que as pessoas têm vergonha de mostrar: a simplicidade”, diz.


Diogo se formou no EJA (educação de jovens e adultos) e chegou a começar uma faculdade de geografia, que precisou abandonar devido aos altos preços do aluguel na cidade. Hoje, o sonho do casal é ter seu próprio pedaço de terra. “Poder ter nossos pezinhos de café para a gente trabalhar, ter nossa horta e outros animais”, diz.


Quanto aos haters, eles que lutem. O casal, que já teve medo e escolheu ficar calado diante de ataques homofóbicos, hoje faz questão de se defender. “Não pode deixar passar em branco. A bandeira que a gente carrega, temos que defender. Eles têm a obrigação de nos respeitar”, diz Thiago.

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