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Morando Fora

Viajar é expandir as fronteiras do mundo de cada um

Arquivo Geral

23/10/2018 20h37

Atualizada 04/02/2019 20h44

Foto: Blog www.viajarpelomundo.com

“Viajar não é simplesmente visitar lugares, mas dirigir o olhar para o novo”. Essa frase resume a relação de Claudia Liechavicius com um dos verbos que mais conjuga em sua vida. Viajante de carteirinha, a fonoaudióloga e agora coach de viagens comemora a marca de cem países visitados como o lançamento do livro Quer viajar? O que você precisa saber para se tornar um viajante. A autora e blogueira conta sua trajetória e dá dicas especiais que combinam com vários tipos de roteiros. Além de trazer informações sobre várias facetas em relação ao tema, Claudia quer inspirar pessoas a se aventurar por esse planeta.

O livro é uma coleção de histórias, dicas e experiências da escritora, que começou a se locomover por diferentes países aos 11 anos com a família e nunca mais parou. Lançada no início de outubro, a obra é dividida por 13 capítulos dedicados a assuntos como destinos exóticos, viagens com famílias e crianças ou listas especiais, além de outros temas. Ela traz, por exemplo, a lista dos 12 hotéis imperdíveis e os oito melhores doces do mundo.  Na seção gastronomia, ela ainda conta sobre bebidas e restaurantes em outros países.

Em 144 páginas, a escritora ensina como planejar de forma eficiente uma viagem e conta um pouco de sua vida, como começou a viajar e como enfrentou o receio de cruzar de trem, sozinha, países como China e Japão sem entender uma palavra escrita nas placas. E no capítulo final, ensinamentos de quem acumula a experiência de muitas viagens todos os meses do ano e muitos passaportes carimbados. A autora fala com propriedade sobre como evitar gafes, micos e saias justas em diferentes tipos de lugares.

Além dos pais, Claudia viajou muito com os filhos e o marido, que foi jogador de vôlei da Seleção Brasileira: Marcus Vinicius Freire, o Marcão da seleção medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles de 1984, que foi contratado pelo Comitê Olímpico. Nessas experiências, a autora acumulou muitas histórias para contar. Em 2008, decidiu criar um blog, o www.viajarpelomundo.com.br, durante uma viagem para a China e o Japão com os filhos. “A Ásia foi uma novidade tão grande para os meninos que resolvi relatar a experiência e não parei mais”, explica Claudia.

Para a fonoaudióloga, viajar sozinha, enquanto o marido trabalhava, teve um significado muito mais profundo do que simplesmente conhecer outras cidades. “As minhas aventuras me fizeram ampliar meus horizontes. Escrever foi consequência. Eu queria compartilhar minhas experiências e sabia que muitas pessoas precisavam de um empurrão para tomar algumas decisões simples na vida, como viajar. Hoje eu vejo que é a minha missão: ajudar os outros a soltarem as amarras”.

Com isso, Claudia aprende o prazer de explorar novos lugares sozinha. “Resolvi tomar as rédeas e contar com a minha própria companhia enquanto ele trabalhava. Viajar nos faz sentir o mundo pulsando, faz a gente olhar nossa vida de fora para dentro, sob nova perspectiva. Quem nunca voltou de uma viagem com várias resoluções de vida, prontas para serem colocadas em prática?”, provoca a autora.

Jogo de cintura e menos preconceito

A experiência trazida pelas viagens a fez julgar menos e a ter uma visão menos linear do mundo. “Quando se trata de cultura diferente, há menos certo e errado e mais depende do contexto”, explica. Claudia diz que, ao visitar países tão fora da realidade brasileira, pode verificar, na prática, que algumas pessoas agem de certa maneira porque faz todo sentido naquele ambiente. “Em Cuba, por exemplo, vi um homem carregando um tubarão no ombro. Para quem vê de fora, pode pensar: nossa, ele matou o tubarão. Mas para quem conhece a realidade do país, sabe que ele poderia ter fome, e o animal poderia ser o único alimento naquele dia para a família”, explica.

 

Costumes distintos

Claudia acredita que as diferenças culturais sejam um dos fatores mais interessantes numa viagem. “Servem para quebrar nossos paradigmas e nos fazer entender que todos os conceitos referentes ao que consideramos certo ou errado são moldados por nossa bagagem histórica cultural. Tudo é uma questão de necessidade e ponto de vista. Preconceito para quê? O mundo é uma grande escola”.

 

Liberdade
Para a autora, se a pessoa não pode morar fora, pode então experimentar viajar. É só programar e guardar dinheiro. Ir a lugares desconhecidos é tão incrível que faz as pessoas ter ideias interessantes. Claudia acredita que a despreocupação com a rotina, com o horário e contexto diferentes fazem com que se enxergue a vida sob outra ótica.

 

Viagens de berço
Os pais de Claudia sempre viajaram. Cirurgião plástico, o pai ia todo ano para Roraima operar gratuitamente índios com lábio leporino. De férias e a trabalho, sua família visitava diversos países. Há mais de 30 anos, se interessavam por lugares como Taiti, Nova Zelândia e Austrália. A menina, que nasceu no Rio Grande do Sul e veio morar no Rio com seis anos, viveu em um ambiente cercado de histórias do mundo.

 

Viver a experiência 

Claudia acredita que a tendência atual é a de viagens onde se conheça rotina e espaços locais. “Alugar um bangalô na ilha central de Bora Bora e viver por alguns dias a rotina dos ilhéus tornou a ida ao Taiti absolutamente genuína. Esperar todas as manhãs pela baguete quentinha na fila do supermercado batendo papo com as pessoas, reverenciar o pôr do sol degustando um vinho francês indicado por algum nativo, parar numa barraca de frutas para comprar o lanche da tarde, rodar a ilha de carro e descobrir cantinhos nada turísticos foram algumas das experiências que tornaram a experiência especial. “Percebo que as pessoas estão indo exatamente em busca dessas vivências mais locais, de viver como os nativos daquele lugar. Se isso era difícil antigamente, hoje não faltam ofertas”, explica.

 

Com um monte de dinheiro no Uzbequistão

O hospitaleiro país foi paixão instantânea. “É um lugar lindo, lendário, repleto de madrassas, mausoléus e mesquitas azuis, e fica plantado do outro lado do mundo – numa região desértica da Ásia Central. Lá, fazer a conversão para a moeda local, chamada SOM, nem sempre é fácil. A taxa do câmbio muda diariamente. Apesar de proibido, o câmbio negro domina o mercado, pois paga o dobro da cotação oficial. Em qualquer esquina tem gente oferecendo câmbio em dólares para a moeda local. Pagar uma conta de 10 dólares com a moeda do país é até engraçado: precisa de um bolo de dinheiro. Difícil para carregar e manusear. E, por ironia, muitos lugares só aceitam dinheiro. Então, a ordem é carregar bolos e mais bolos de SOM e se divertir com a situação inusitada”, conta Claudia em um trecho do livro.

 

A poliandria do Butão

Nesse país, sexo não é considerado tabu. Claudia descreve que eles aceitam bem relacionamentos homossexuais, podem ter vários parceiros e são adeptos à poliandria, que significa mulheres casadas com vários homens. A autora conta que o seu guia no país, Dorji, explicou que as mulheres recebem do pai as terras como herança para ter mais poder e não serem submetidas ao domínio dos homens. No entanto, para colocar uma propriedade rural em funcionamento, precisam ter vários maridos. “Eles auxiliam na plantação de arroz e nos cuidados com a propriedade. Quanto aos filhos, muitas vezes não sabem quem é seu pai. Pode ser qualquer um dos maridos da mãe”, diz.

Dica de expert

A experiência de Claudia, com tantos embarques, desembarques, arrumar e desfazer malas, deu a ela um grande aprendizado: “viajo sempre com uma mala de mão”.
A autora explica que não importa o tempo que dure a viagem, programa roupas para cinco dias e todas elas devem combinar entre si. “Assim, você acaba levando poucas peças, mas parece que tem muitas, pois tudo casa com tudo. Você deve escolher blusas que combinem com todas as calças ou saias que levar. Então, de “cinco modelitos”, você pode fazer muito mais de dez. Montar a mala é como um quebra-cabeça”, explica a autora.

 

Surpresa

A obra tem também prefácio de Carlos Alberto Parreira, o ex-técnico da Seleção Brasileira de Futebol, e orelha da blogueira de moda Camila Coelho. Os dois seguem as dicas de Claudia há vários anos. Parreira, inclusive, é o autor de uma foto de Claudia, publicada em seu blog, no meio do campo de lavandas da Provence, na França. Ele é amigo da família e viajou com a autora e suas respectivas famílias de férias para o país.

 

Serviço

Claudia Liechavicius – @claudia_liechavicius; Blog Viajar pelo Mundo.
Editora:  Memória Visual.


Liliana Tinoco Bäckert é jornalista e tem mestrado em Comunicação Intercultural pela Universidade da Suíça Italiana. Carioca, tem dois filhos, é casada com um alemão e vive naquele país desde 2005, onde também trabalha como treinadora intercultural independente. Decidiu transformar o próprio choque cultural em combustível para ajudar outros brasileiros que já vivem fora ou que pretendem se lançar nessa aventura globalizada.

 

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