Natasha Dal Molin
Especial para o Jornal de Brasília
Foco e habilidade são duas características essenciais no dia a dia de Thiago Milhomem de Moraes, 32 anos. Quem o vê remando nas águas tranquilas e silenciosas do Lago Paranoá não imagina que, algumas horas depois, ele entra madrugada adentro trabalhando, concentrado, no centro de controle operacional do Metrô.
Determinado, ele foi prata no Campeonato Sul-Americano realizado agora em maio em Porto Alegre e acumula várias vitórias. E ainda encontra tempo para treinar jiu-jitsu e estudar. Formado em Direito, está na segunda graduação, no curso de Filosofia, na Universidade de Brasília (UnB).
Tudo começou há oito anos, quando o jovem brasiliense, que estava morando com a família em São Paulo, passou no concurso do Metrô-DF. Assim que chegou à cidade, soube, por um panfleto, de aulas de remo no Lago Paranoá e se matriculou na escolinha da Asbac, onde treina até hoje. “O que me atraiu no remo foi a parte física, pois é um esporte que exige do corpo todo. Além disso, mentalmente, ele exige uma dedicação, e adoro isso. Também gosto de atividades ao ar livre e é um esporte que possibilita ao atleta viajar e conhecer muitos lugares”, destaca.
Logo no primeiro ano de prática Moraes já começou a competir local e nacionalmente, e de lá pra cá, os títulos em competições não param de aumentar. Foi campeão brasileiro Master 2014 e vice-campeão da Copa Norte/Nordeste 2014.
Sem patrocínio e sem facilidades por causa da vida de atleta, ele tem que utilizar as folgas acumuladas para viajar e competir. No trabalho, seu horário é das seis da tarde à meia-noite e, de tempos em tempos, de meia-noite às seis da manhã. A escala é a seguinte: são seis dias trabalhando à noite, dois dias de folga, dois trabalhando de madrugada, duas folgas novamente e reinicia a escala.
Já os treinos no lago são diários, incluindo fins de semana e feriados. Remando, são 40 minutos a uma hora e mais um treino de musculação.
Saiba mais
Os barcos a remo podem ter 1, 2, 4 ou 8 remadores.
As tripulações de 2 e 4 remadores podem ter ou não timoneiro, enquanto as de 8 remadores têm obrigatoriamente timoneiro.
O single skiff é o barco com dois remos e um atleta.
Já as tripulações de 2 e 4 remadores com um par de remos cada é chamada double skiff e four skiff, respectivamente.
O preço de um single skiff novo pode variar de R$4 a R$20 mil.
Trabalho em equipe dentro e fora d’água
No trabalho, Thiago de Moraes fica na Central de Controle, monitorando a circulação de trens. Ele atua em equipe, com mais três profissionais. No remo, treina tanto em barcos individuais, em dupla, de quatro e de até oito atletas. O atleta vê semelhança entre as duas funções: “É preciso saber trabalhar em equipe, respeitar as características de cada um para chegarmos ao melhor resultado”, compara.
A atividade exige foco, pois um erro pode comprometer toda a mobilidade urbana da cidade. “O sistema é muito seguro, mas um erro poderia ocasionar atrasos e paralisações, o que afetaria a vida de cerca de 200 mil pessoas que utilizam esse transporte”, avalia.
Por isso, Moraes se dedica ao trabalho e ao treino com a garra de quem quer vencer uma competição. “Encaro as duas atividades com a mesma seriedade e disciplina”, diz.
Para enfrentar o período de competições e trabalho puxado, além dos treinos, ele fica atento à alimentação e ao descanso. “Tento me alimentar da maneira mais saudável possível”, afirma.
Ele sonha em ver o esporte mais valorizado. “Não conheço ninguém que viva do esporte nesta área. As pessoas não entendem exatamente a vida de um atleta e no trabalho, não incentivam e nem aliviam por isso”.