A equipe do Sport Check-up, do Hospital do Coração de São Paulo, diagnosticou uma carência preocupante nos atletas pré-classificados para o Pan-americano do Rio de Janeiro, em 2007. Contratados pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para a realização de exames e testes, os profissionais concluíram que 15% dos atletas que já foram avaliados têm uma alimentação inadequada.
De acordo com o chefe da equipe, o cardiologista especializado em medicina esportiva Nabil Ghorayeb, o nível de ingestão proteínas é o principal problema. “O pessoal come muita carne achando que vai ficar forte. Teve casos de atletas com 60% de proteínas em sua dieta. O exagero compromete os rins, faz perder potência física e conseqüentemente a capacidade esportiva”, explica.
A dieta recomendada para atletas de alta performance combina a ingestão predominante de carboidrato, que é a principal fonte de energia. Como os competidores geralmente seguem uma rotina de treinamentos intensa, o desequilíbrio na alimentação provoca fadigas e lesões mais freqüentes.
Até agora, passaram por avaliações cerca de 300 atletas que fazem parte das seleções permanentes de suas respectivas modalidades, como boxe e atletismo. Até fevereiro, o número de avaliados chegará a 600 e a perspectiva é que a alimentação siga como principal problema.
O presidente do Comitê Médico do COB, João Grangeiro, não demonstrou surpresa com os resultados parciais dos testes. Presente no Simpósio de Medicina Esportiva organizado pela Sports Check-up HCor neste sábado, ele culpou a cultura alimentar dos atletas como principal causa da deficiência.
“Muitas vezes o atleta até ouve os especialistas, mas desde cedo entrou em contato com uma maneira diferente de pensamento que não larga. Muitas vezes eles também vão atrás do paladar ou de um suplemento, piorando as coisas”, analisa.
A partir dessa análise, Grangeiro considera restrito o poder de atuação do COB para equilibrar a dieta dos atletas. “Não adianta nada você forçar uma alimentação nos clubes e na concentração se quando eles chegam em casa eles fazem diferente. Eles comem o que eles querem comer”, avisa.
Dessa forma, a solução apontada é de longo prazo. “Na prática, o que podemos fazer é nos preocupar com a alimentação oferecida por nós e mudar a mentalidade da base. Se conseguir direcionar um garoto em início de carreira para a alimentação adequada, você não terá esse problema no futuro”, justifica.