No fim de 2013, pouco antes de proporcionar uma palestra motivacional no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt conversou com o Jornal de Brasília no canto do teatro. Em pouco mais 10 minutos de conversa, o maior cestinha da história das Olimpíadas falou sobre o passado no Clube Vizinhança, o basquete em Brasília e o mais novo time feminino, o tratamento do câncer e seu principal alvo: Nenê, pivô do Washington Wizards.
O PASSADO EM BRASÍLIA
Ah, o Zezão e o Miúra – ex-técnicos do Vizinhança – me fizeram gostar de basquete, coisa que eu não queria porque só pensava em futebol. Mas os dois são demais. A primeira coisa que o Zezão fazia, algo que lá em casa não acontecia, era me levar para tomar refrigerante e eu achei o máximo. Chocolate era algo que eu gostava muito, mas hoje não gosto mais. São sequelas que tive depois do tratamento da minha doença. E se eu comer chocolate vou explodir. Estou muito gordo.
MIÚRA
Lembro dos exercícios diferentes que ele passava. Um deles era de coordenação. O Miúra espalhava pedrinhas no chão e me mandava quicar a bola enquanto pegava as pedras. Foi ele quem me ensinou a arremessar. Eu, desengonçado, colocava a bola na frente do rosto para tentar acertar. Com isso, não enxergava a cesta e ele sugeriu que eu colocasse a bola acima da cabeça. Não acreditei muito, mas deu certo.
MÃO SANTA
Minha mão não é santa, como todo mundo diz. Ela é treinada demais. Se eu acertei tantas cestas, foi porque treinei muito. Não nasci com o dom. No meu caso, é fruto da própria insistência. Hoje eu gastei toda a gasolina, nem brinco mais de jogar.
O UNICEUB
O basquete de Brasília é um exemplo para o Brasil. É tricampeão e um fenômeno que explodiu e lota ginásios, é uma coisa linda. Nunca assisti a um jogo pessoalmente porque se chegar no ginásio, ninguém me deixa quieto, mas os vejo na televisão.
CLUBE QUE TORCE NO NOVO BASQUETE BRASIL
Torço para o Flamengo e Pinheiros, me desculpe. O Cláudio Mortari – técnico do Pinheiros – me ajudou a conquistar a maioria dos títulos que tenho e o Flamengo porque joguei lá quatro anos maravilhosos. Os caras me pagaram a última parcela que me deviam mês passado, mas foi bacana (risos). O clube não me deve nada.
BASQUETE FEMININO
Queria muito poder ajudar esse time que surge do Vizinhança, mas o meu trabalho não me dá tempo de fazer mais nada. É lindo saber disso, por mim, elas estão super aprovadas.
SELEÇÃO BRASILEIRA
Nunca a seleção precisou de um convite para jogar um Mundial. Se eu fosse a Fiba, não convidaria. O Brasil precisa ficar de fora para aprender. Como pode um Nenê não jogar a classificação para o Mundial e no mês seguinte vir para cá jogar a pré-temporada do NBA. Isso me irrita muito. A NBA é tão idiota que ainda dá o microfone para ele falar. Quero é distância daquele cara. Não representa o Brasil.
TRATAMENTO DO CÂNCER
É algo que vou lutar até morrer, não tem muito o que fazer. Tenho que tratar com otimismo e não ficar aí chorando pelos cantos. Eu descobri a tempo de fazer duas cirurgias. Passei por uma quimioterapia esta semana e estou sendo tratado a base de comprimidos.
FAMÍLIA
A minha tem o vôlei no sangue. Todo mundo jogou ou joga vôlei. Até o meu irmão, pai do Bruno Schmidt, largou o basquete para ajudar o filho no vôlei de praia. Eu fui para o basquete porque sou um idiota, mas bato um bolão no vôlei. Não, mentira. Você acha que eu vou jogar vôlei? É um esporte de mulher.
BRUNO SCHMIDT
Ele vai ser campeão Olímpico. É um fenômeno. Pensa comigo, como ele consegue jogar tão bem com aquela baixa estatura? É o melhor jogador de vôlei de praia do Brasil. Não creio que se prejudicou com a ruptura da antiga dupla que fazia com o Pedro Solberg, isso porque ele já formou três caras. Até eu com ele viro campeão.
Número
55 anos tem Oscar Schmidt.
7 meses tempo que ele tem câncer.
31 anos possui Nenê, algoz de Oscar.