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Hélio Doyle

Só preto ou branco, nenhum tom de cinza é aceito

Arquivo Geral

20/09/2016 7h00

Atualizada 19/09/2016 22h46

O clima de polarização e intolerância em que vivemos tem impedido o debate sobre questões importantes para a cidade e para o país. Hoje, em qualquer discussão ou se está de um lado ou se está do outro, integral, incondicional e emocionalmente.

Posições intermediárias, ou que não sejam totalmente alinhadas a um ponto de vista, não são aceitas, como se fossem oportunistas ou comodistas. Se você elogia ou critica, imediatamente é considerado alinhado a um grupo, mesmo que a ele tenha enormes restrições e não se identifique com suas ideias básicas.

Os indecisos que querem fixar posição não têm sequer condições de conhecê-las.

Faltam argumentos, sobram xingamentos

Todos os que tentam travar o debate, já tendo ou não posição firmada, são vítimas desse ambiente de sectarismo e radicalização. Não há racionalidade nas discussões, nem a preocupação de encontrar caminhos que sejam os melhores para a sociedade, mesmo que signifiquem perdas para alguns.

O país e a cidade são prejudicados com a ausência de abertura ao debate aprofundado e qualificado, em que argumentos se sobreponham a palavras de ordem e xingamentos, e no qual as defesas de legítimos interesses particulares sejam fundamentadas, e não impostas no grito.

E não há nenhuma preocupação em levar a discussão à sociedade que, afinal, é quem tem de decidir qual o rumo que quer dar às coisas.

O povo nem sabe o que é uma OS

A implantação de organizações sociais (OS) no sistema de saúde é um exemplo dessa polarização indesejável. É natural que alguns sejam contra ou a favor em função de seus interesses pessoais ou corporativos, ou de posições políticas. Mas isso não deveria impedir que o debate sobre o tema pudesse fluir de modo ordenado e produtivo.

A quase totalidade da população não tem ideia do que significa uma organização social e que vantagens ou desvantagens sua implantação trará ao atendimento na rede de saúde pública. O bate-boca, por enquanto, está restrito a questões ideológicas, políticas e corporativas. Os benefícios ou prejuízos reais à população estão em segundo plano.

Calma, são só algumas dúvidas

Há alguns tabus que deveriam ser debatidos sem preconceitos. Mas a simples menção ou a proposta de tratar do assunto já é considerada um crime de lesa-alguma coisa. Não há racionalidade nem objetividade no enfrentamento da questão, apenas posições apriorísticas e geralmente mal fundamentadas.

Um exemplo explosivo: Brasília precisa mesmo de um banco distrital? Que benefícios reais o Banco de Brasília traz efetivamente à população brasiliense? Não seria melhor privatizá-lo ou vendê-lo ao Banco do Brasil e aplicar o dinheiro em projetos importantes para a população?

Quem ganha mesmo com o BRB?

Só levantar a possibilidade de se fazer essa discussão já provoca reações iradas dos que defendem a existência do BRB. Ao mesmo tempo, há os que pregam a privatização do banco apenas por posição ideológica.

As contas serem minuciosamente feitas para se verificar se o BRB realmente atende aos interesses dos brasilienses – e aí deve ser mantido como está – ou se beneficia alguns poucos privilegiados – nesse caso seria melhor vendê-lo a um banco privado ou federalizá-lo, o que o manteria público.

O que é bom para o povo é melhor

Outro tabu é o metrô. Há anos o sistema não se desenvolve, permanecendo com o mesmo número de passageiros e causando um rombo anual de R$ 180 milhões, no mínimo. O governo não tem recursos para investir sequer na construção de estações inacabadas, quanto mais na ampliação de linhas e modernização do sistema.

Uma saída, a ser discutida, poderia ser a concessão da operação do metrô a um consórcio privado. Em São Paulo, por exemplo, parecem nítidas as vantagens, para a população, da linha concedida em relação às linhas operadas pela companhia estadual. Mas isso não é uma verdade absoluta, inquestionável.

Há quem seja a favor da concessão, há quem seja contra. Há quem perca e quem ganhe com ela. O que tem de ser visto é se os usuários do metrô, atuais e em potencial, ganharão ou perderão. Por que não discutir isso?

Não custa nada repensar

As obras do novo trevo de triagem norte, no final da Asa Norte, estão sendo intensamente questionadas por causarem prejuízos ambientais e privilegiarem o tráfego de automóveis, em detrimento de ciclistas e pedestres e do transporte coletivo. O movimento Repense Ponta Norte produziu um vídeo expondo as restrições à obra, um projeto de 10 anos que está sendo executado pelo governo de Brasília sem adaptação às novas realidades.

Os opositores do projeto alegam também que a população que pretensamente será beneficiada não foi consultada, a não ser em uma daquelas audiências públicas fajutas em que a maioria dos presentes trabalha no governo. Segundo eles, de 30 presentes, cinco não eram do governo ou de construtoras.

Vale a pena conhecer a argumentação do Repense Ponta Norte, para concordar ou discordar: http://pontanorte.blogspot.com.br ou www.facebook.com/repensePontaNorte.

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