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Hélio Doyle

Sem coragem e com demagogia não dá para enfrentar a crise

Arquivo Geral

04/08/2016 6h12

Atualizada 03/08/2016 23h14

Dificuldade para pagar salários e honrar compromissos com servidores e fornecedores, falta de dinheiro para investir e custear serviços básicos, impossibilidade de conceder reajustes salariais, excesso de gastos com pessoal diante da receita. Está realmente difícil a situação do Distrito Federal.

O governo de Brasília está pagando agora, e provavelmente pagará nos próximos meses, pelo que poderia ter feito e não fez no início da gestão, em 2015: um ajuste nas contas que se mostravam altamente deficitárias e com tendência clara de piorar, inclusive devido à recessão no país.

É verdade que para fazer esse ajuste o governo teria de enfrentar reações na Câmara Legislativa, nos sindicatos de servidores e nas entidades empresariais. Cada uma dessas instituições brandindo seus motivos justos e seus pretextos demagógicos e corporativistas para se defender, e isso se refletiria na sociedade.

O governo até ensaiou fazer um ajuste, tímido diante das circunstâncias, mas recuou diante das primeiras e previsíveis reações contrárias. Cedeu à demagogia da Câmara e ao corporativismo de sindicatos de servidores e de empresários e não enfrentou o debate.

Recuou em decisões importantes.

Agora, paga sozinho pela falta de coragem.

Pode cortar, mas o dos outros

É fácil combater o ajuste nas contas públicas com discursos vazios e retumbantes. Um deles é de que a sociedade, ou parcela dela, não pode arcar com a conta da crise, pois não é a responsável pelos erros e gastos mal feitos. O governo que se vire.

Outro discurso fácil é dizer que aumentar impostos só vai piorar a crise econômica, e cobrar do governo “criatividade” para aumentar a arrecadação. Essas medidas criativas, quando explicitadas, mostram-se absolutamente insuficientes diante da gravidade da situação.

Cortar despesas, sem dizer onde e com cada segmento social defendendo a total prioridade de seus gastos, é outro discurso fácil. Todos aceitam os cortes, desde que não sejam em seus orçamentos — e assim pouco se corta.

Em suma: a receita não cresce e os gastos não são reduzidos. E a crise continua.

Esquerda também tem de fazer ajuste

A questão básica de qualquer ajuste é que toda a sociedade perde e paga por erros estruturais ou conjunturais cometidos por governos que essa mesma sociedade elegeu. Não dá para fingir que nada temos com isso e mandar que se virem os últimos que elegemos.

Ajuste das contas, para que o Estado possa funcionar e atender à população, é essencial para qualquer governo de qualquer matiz político. É totalmente equivocada a visão de que ajuste é coisa da direita, dos neoliberais. Com déficit e contas desorganizadas, o Estado não cumpre suas funções, à direita ou à esquerda.

O que diferencia o ajuste da “direita” do ajuste da “esquerda” é, em tese, quem vai pagar a conta maior: os que têm mais ou os que têm menos. São as opções que são feitas.
Um aumento do IPTU, por exemplo, pode atingir mais os que têm imóveis maiores, ou vazios, ou em determinadas regiões. E não incidir sobre imóveis menores e em regiões mais pobres.

Quem vai perder mais é uma decisão política.

Melhor, mas longe de ser boa

O governo de Rodrigo Rollemberg (foto) tomou várias medidas para reduzir custos, inclusive desagradando setores empresariais da área de prestação de serviços. Mas, assim como as medidas tomadas para aumentar a receita, são tímidas e insuficientes.

Nos primeiros meses do mandato houve um esforço desgastante, mas necessário, para mostrar à sociedade a gravidade da situação financeira e econômica do Distrito Federal. Esse esforço, porém, não foi acompanhado de um debate qualificado sobre as alternativas para melhorar o quadro e reduzir os impactos negativos. A área econômica não chegava a consensos e o viés tucano da equipe da Fazenda provocava desconfianças.

As medidas insuficientes e as concessões feitas à Câmara, aos servidores e a segmentos empresariais, ao longo do ano passado, acabaram passando à sociedade a impressão de que a situação estava melhorando.

Até estava, mas não na dimensão necessária. Aliás, muito longe dela.

E 2018 está chegando

A grande oportunidade que teve o governo para mostrar à sociedade o tamanho do buraco e propor medidas para, se não tapá-lo, pelo menos reduzir sua profundidade, foi no início da gestão. Agora, o governo não tem mais como se eximir da responsabilidade pela situação. O que passa na cabeça das pessoas é que em um ano e meio poderia ter melhorado a situação e avançado mais. As insatisfações se acumulam e tornam mais difícil a compreensão da realidade.

Os deputados distritais, os políticos em geral, os sindicalistas e os empresários corporativistas vão continuar proferindo seus discursos fáceis e demagógicos. E, agora, com o olhar mais próximo de 2018.

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