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Hélio Doyle

Sem aumento para os federais a paridade continua

Arquivo Geral

29/09/2016 7h00

O governador Rodrigo Rollemberg recebeu o que, para ele, é uma boa notícia: é grande a possibilidade de o governo federal não dar o prometido aumento de 37% em três anos aos policiais federais. Como o presidente Michel Temer decidiu que não haverá neste ano mais nenhum aumento para servidores, os policiais federais não serão exceção.
A informação não é oficial, mas dá um alívio ao governo de Brasília, que assim não terá de conceder o mesmo aumento de 37% aos policiais civis de Brasília, que há dois meses estão em campanha para manter a equivalência entre seus salários e os dos policiais federais.
A pressão para o governo federal não dar mais aumentos para os servidores parte principalmente do PSDB e do DEM, mas não prosperará sem o apoio do PMDB. O ônus será grande, mas o ajuste fiscal está prevalecendo.

Já que o salário é o mesmo, melhor ficar aqui

Para os policiais civis de Brasília é questão de honra manter a paridade de seus salários com os da Polícia Federal. É assim há muitos anos, talvez porque ambas as corporações tenham origem no extinto Departamento Federal de Segurança Pública, antes responsável pela polícia judiciária de Brasília.

Há casos de pessoas que fizeram os dois concursos e optaram pela Polícia Civil, já que ganhariam a mesma coisa e não sairiam de Brasília. Na Polícia Federal, correriam o risco de serem transferidos para outras cidades, inclusive na fronteira amazônica, e serem deslocados para ações em todo o país.

Pauta política e radicalizada

A reivindicação dos policiais é legítima, mas o governo de Brasília alega que não tem como pagar e, em especial, arcar com a primeira parcela do aumento já em janeiro de 2017. Propôs pagar os 37% em cinco anos, começando no segundo semestre de 2017. Os policiais não aceitaram.
O impasse continua e quem sofre as consequências do movimento é a população, como sempre. Os sindicatos de delegados e de agentes aumentaram a lista de reivindicações e agora exigem até a demissão da secretária de Segurança, Márcia de Alencar, e a extinção da Casa Militar, chefiada pelo coronel Cláudio Ribas, da Polícia Militar.
A pauta aumenta a cada semana, e a radicalização, segundo se diz, tem também a ver com as eleições nos sindicatos dos delegados, em novembro.

Como em tudo, eleições de 2018

A movimentação dos policiais civis, sem prejuízo de seu caráter reivindicatório legítimo, tem desdobramentos políticos, naturalmente vinculados às eleições de 2018. A Polícia Civil há anos vinha sendo loteada entre os grupos políticos de Brasília e em especial entre os integrantes da corporação que são eleitos deputados federais ou distritais.

A Polícia Civil é forte até no Tribunal de Contas do DF: são dela oriundos o presidente Renato Rainha e o “Dr. Michel”, que no tribunal é conselheiro Márcio Michel. Ambos eram deputados distritais antes de serem indicados para o tribunal.

Em Brasília se diz que ter o apoio dos policiais civis é fundamental para um candidato a governador. Ter a oposição dos policiais civis é fatal.

Chance de voltar ao controle

Há grupos políticos que têm um interesse muito específico no movimento dos policiais civis: querem ter o poder na corporação, especialmente para controlar a área de inteligência e as delegacias que investigam o crime organizado e os crimes contra a administração pública, e que podem complicar a vida de alguns deles e seus aliados.

Esses e outros políticos estão também de olho nas eleições. A crise na Polícia Civil desgasta o governador Rollemberg e o diretor-geral Eric Seba, favorecendo a oposição. O objetivo de parlamentares ligados a delegados e agentes é colocar no lugar de Seba um delegado afinado com eles.

A vacinação é o de menos

O Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate) não gostou, como era de se esperar, das notas desta coluna em que é abordada a chantagem que fez ao governo de Brasília: ou se comprometia a pagar em dobro as horas trabalhadas pelos servidores no sábado ou não iriam trabalhar na campanha de multivacinação.

O Sindate divulgou “Nota de Repúdio”, muito mal escrita e repleta de erros de português, em que tergiversa a questão central: ameaçou boicotar uma campanha de vacinação de crianças e adolescentes se não tivesse atendida sua reivindicação de folgar em dobro as horas trabalhadas no sábado, e não em domingo ou feriado.

Enquadra-se bem de acordo com o significado de mercenário: o que trabalha visando apenas vantagens pessoais, sem se importar com as regras, a ética e os princípios da profissão que escolheu.

Nada a retratar

Na carta em que encaminha a “nota”, o Sindate diz esperar uma retratação pública minha. Pois não a terá – não retiro uma só palavra do que escrevi.

Na “nota”, o Sindate diz que ataquei trabalhadores. Não é verdade, critiquei alguns servidores públicos da saúde que mais parecem mercenários e prejudicam os que prezam a ética da profissão. Diz também que defendi o governo – não é verdade, critiquei o governo por ter cedido à chantagem.

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