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Hélio Doyle

Metrô paga bem e funciona mal

Arquivo Geral

28/06/2016 7h00

Josemar Gonçalves

Já se sabe que os funcionários do metrô de Brasília são os mais bem pagos do Brasil. Mas eles estão em greve desde 14 de junho, reivindicando aumento salarial de 9,5% e a contratação de mais 800 funcionários.

Trabalhadores devem ter sempre direito a terem seus salários reajustados, para fazer frente à inflação e aos aumentos do custo de vida. Mas a companhia do metrô já é altamente deficitária e ineficiente, e o que os seus empregados querem é inviável. Os aumentos reais de salários que tiveram nos últimos anos já os colocaram em um patamar invejável.

O salário médio dos 62 metroviários de nível superior é de R$ 20.638,73. O dos 916 funcionários de nível médio é de R$ 9.256,45. O salário médio dos funcionários do metrô é de R$ 9.978,02.

Todos com estabilidade no emprego.

Enquanto isso, 300 mil desempregados

A menor média salarial no metrô é das telefonistas: R$ 5.123,94. O único contador da empresa recebeu R$ 30.477,84 em maio. Os pilotos ganham em média R$ 8.214,15 por mês. Os agentes de estação recebem R$ 7.252,33. Os auxiliares de serviços gerais, R$ 7.129,34. Os técnicos em eletrotécnica, R$ 16.649,81.

Entre os profissionais de nível superior, a menor média é dos comunicólogos: R$ 10.559,28. A dos arquitetos é de R$ 19.835,21 e um engenheiro mecânico recebe em média R$ 22.843,73. Os 13 administradores recebem em média R$ 21.559,72.

Só vai aumentar o rombo

Os metroviários em greve querem também a contratação de mais cerca de 800 funcionários. Contratar mais trabalhadores com esses salários, acima do que se paga em outras empresas e da média do mercado de trabalho, é um ônus com o qual o governo de Brasília não pode arcar.

Nem sob o ponto de vista financeiro, pois não tem dinheiro, nem sob o legal, pois está no limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal.

E não é a falta de gente que faz o metrô funcionar mal.

Previsões mirabolantes às vezes acontecem

Não é incomum que governos inventem ou chutem números que por alguma razão lhes sejam interessantes. Por algum motivo, justificado ou não, a imprensa publica esses números como se fossem reais. Alguns, sem querer checá-los ou sem condições para isso, atribuem a informação a uma fonte e pronto.

Para tentar justificar o gasto de R$ 32 milhões com 10 jogos de futebol olímpico, o governo de Brasília diz que o Distrito Federal será imensamente beneficiado em renda e imagem. E anuncia que 300 mil pessoas são esperadas na cidade.

Tomara que a previsão se confirme. Cartomantes às vezes acertam.

Na ponta do lápis

Esses 300 mil visitantes previstos irão movimentar a economia da cidade, argumenta-se. Certamente irão, se vierem mesmo. Mas seria bom o governo mostrar em que se baseia para chegar ao número e quanto, aproximadamente, isso significará em recolhimento de taxas e impostos para os cofres públicos.

Aí veremos se vale mesmo a pena gastar R$ 32 milhões com 10 jogos de futebol masculino e feminino.

Nem tudo que reluz é ouro

O ganho em imagem para Brasília é difícil de dimensionar, mas seguramente haverá algum, com a transmissão dos jogos e a presença de visitantes nacionais e estrangeiros. É válido pensar em eventos que ajudem a passar uma imagem positiva da cidade e incrementar a vinda de turistas e de investidores.

A relação custo-benefício, porém, nesse caso não compensa. Custo demais e benefícios de menos. Não vale o investimento.

Você viria para isto?

Sinceramente: dá para acreditar que 300 mil pessoas virão a Brasília para assistir jogos de seleções olímpicas masculinas do Brasil, Argentina, África do Sul, Coreia do Sul, Dinamarca, Honduras e Iraque? E femininas da Alemanha, Canadá, China e Suécia?

É só no Congresso?

Há muito tempo se sabe que, geralmente, comissões parlamentares de inquérito no Congresso Nacional são constituídas como negócio: parlamentares negociam convocações e desconvocações, dureza ou moleza nas perguntas em depoimentos e o teor do relatório final. CPIs são apenas uma vertente no amplíssimo leque do rendoso mercado parlamentar e só agora que aparecem as primeiras comprovações disso, graças às delações premiadas.
Vale relembrar o que disse o ex-senador Delcídio Amaral a respeito das CPIs que funcionam no Congresso Nacional: são constituídas para que haja “algum tipo de negociação”. Segundo Delcídio, as extorsões na CPI da Petrobrás não são fatos isolados, pois há outros casos.

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