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Hélio Doyle

Luiz Estevão pode exagerar, mas é por aí mesmo

Arquivo Geral

08/09/2016 7h00

Atualizada 07/09/2016 21h18

Rafaela Felicciano/Cedoc

A frase do empresário, ex-deputado distrital e ex-senador Luiz Estevão (foto) é forte: “Nesta cidade, de cada 100 caras, 90 são bandidos. E vivem de bandidagem, putaria e sacanagem. Vivem roubando, tomando dinheiro, cobrando comissão, entendeu? Fazendo negócio fajuto com o governo local, com o governo federal”.
Estevão conhece muito bem o mundo político e empresarial de Brasília, pois participa intensamente de ambos há muitos anos. Mesmo recolhido à Papuda, não deve estar alheio ao que acontece na cidade.
Ao se referir aos “100 caras”, Luiz Estevão certamente não está se referindo à população em geral, mas ao universo dos que vivem em torno dos governos local e federal – políticos, funcionários, empresários, executivos, lobistas. É impossível comprovar que o percentual de 90% de bandidos seja correto, provavelmente seja exagerado.
Mas Luiz Estevão sabe do que está falando e, mesmo com margem de erro elevada, não está fora da realidade.

Corrupto não é só quem foi pego

Na conversa gravada pela distrital Liliane Roriz, Luiz Estevão parece estar, no seu jeito frio, direto e cínico, desabafando. Ele sabe que há inúmeros personagens da vida brasiliense que poderiam estar na mesma situação que ele – à época, condenado várias vezes, em semiliberdade e prestes a ser preso de novo –, mas que transitam livremente pelos espaços públicos e privados de Brasília.
Algumas práticas criminosas, como, apenas por exemplo, ganhar comissões pela aprovação de emendas parlamentares ou por contratos com órgãos públicos, sempre existiram. Aqui em Brasília, em todos os estados e no governo federal. As práticas corruptas estão institucionalizadas nos três poderes e nas três instâncias da Federação.
O que não quer dizer que todos os que circulam ou circularam na área já cometeram ilícitos ou são corruptos e corruptores. O percentual é grande, mas há exceções.

Com hora marcada e registro

Ao dizer que não precisava de Liliane Roriz para defender seus interesses na Câmara Legislativa e no governo, Luiz Estevão aparentemente procurava diminuir a importância da deputada distrital eleita pelo partido que ele presidia, o PRTB. No estilo autossuficiente e prepotente que o caracteriza há muitos anos, ele afirma que tem “boa interlocução com o governo”:
— Eu falo diretamente com o Rodrigo e com o Hélio a hora que eu quero e da maneira que eu quero.
O governador Rodrigo Rollemberg falou com Luiz Estevão, por telefone, uma única vez, segundo relato dele próprio. Como então chefe da Casa Civil, não me lembro de ter atendido a uma só ligação telefônica do empresário e presidente do PRTB. Trocamos poucas mensagens por WhatsApp e recebi duas solicitações formais, entregues na Casa Civil por emissárias de Luiz Estevão: para que o governo pagasse os alugueis atrasados de um prédio e que impedisse a invasão de terras de propriedade dele.
Nem o governador nem eu, como chefe da Casa Civil, tivemos contatos pessoais com Luiz Estevão. Se ele tivesse pedido audiência eu teria atendido – no dia e hora em que fosse possível e acompanhado de um assessor para registrar a conversa, como sempre fazia quando recebia empresários.

Só vai terminar quando acabar

O deputado Chico Vigilante (PT) recebeu a informação de que alguns arapongas e jornalistas pouco afetos ao código de ética profissional têm sido contratados para produzir e veicular dossiês contra adversários políticos dos contratantes.
Vigilante fez a denúncia, sem dar nomes, na tribuna da Câmara Legislativa. Citou apenas o atual presidente da casa, o distrital Juarezão, como possível vítima das acusações falsas ou, digamos, aumentadas. Mas, segundo Vigilante diz, há alvos também no governo.
Os contratantes apostam que, ao divulgarem acusações falsas, equilibram na mídia o jogo no qual estão perdendo ou se sentem próximos de perder.
Pode ser que funcione por um tempo, mas quem vai decidir mesmo a parada, no fim, é o Ministério Público e a Justiça.

Mais crises para quem não precisa

A Polícia Civil não aceitou a proposta de aumento salarial feita pelo governo, por ser em prazo mais longo que o que terá a Polícia Federal. Seus integrantes prometem prosseguir com o movimento reivindicatório indefinidamente – a chamada operação legal nas delegacias e a vacância de todas as chefias.
A Polícia Militar está em ebulição porque quer ter o mesmo aumento que a Polícia Civil ainda não tem e há descontentamento pela exoneração do coronel Jean Rodrigues Oliveira da direção da Academia de Polícia. Ele foi acusado pelo comando-geral da PM de ter infringido dispositivos disciplinares ao defender aumento salarial.
Há problemas de todo tipo no cotidiano do governador Rodrigo Rollemberg, mas, sob o ponto de vista das repercussões na população e de ambiente político, as crises no setor de segurança são os maiores no momento. E não será fácil desatar esses nós.

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