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Hélio Doyle

Eleições municipais não influem em Brasília, mas resultados têm de ser considerados

Arquivo Geral

01/11/2016 7h00

Atualizada 31/10/2016 23h11

Definidos os resultados eleitorais nas cidades, vão se intensificar em Brasília as articulações para 2018. Diferentemente do que se diz, eleições municipais têm pouca influência nos pleitos para presidente e para governador. Em Brasília essa influência é nula, mas os principais sinais emitidos agora pelo eleitorado têm de ser avaliados pelos políticos e seções partidárias locais.
Os eleitores deram indicações relevantes que não podem ser ignoradas: a rejeição aos partidos e aos políticos tradicionais; a vitória dos candidatos de centro-direita; o enfraquecimento do PT e, em menor escala, da esquerda; e o sucesso de 15 dos 20 prefeitos de capitais que tentaram a reeleição.

“Não votos” elegem o que não querem

A rejeição à política tradicional, que pesquisas mostram com clareza, foi expressada no elevadíssimo número de abstenções e votos nulos e em branco – os não votos — e na eleição, em algumas cidades, de candidatos que se apresentaram, ainda que falsamente, como não políticos.
Essa postura do eleitorado poderia favorecer candidatos que não se identificam com as práticas políticas tradicionais e viciadas e que se posicionam como adeptos de novos métodos na gestão. Mas os resultados mostram que os eleitos, salvo pouquíssimas exceções, têm trajetória política e não representam mudanças significativas de paradigmas.
A legislação eleitoral, ao computar como válidos apenas os votos dados a candidatos, ignorando nulos e em branco, deixa a enorme quantidade de insatisfeitos sem influência no resultado final. A repercussão das abstenções, dos brancos e dos nulos é apenas política e estatística.

Fora da política, mas nem tanto

No segundo turno, os não votos refletiram também a insatisfação com as opções colocadas, especialmente onde o confronto era entre candidatos da centro-direita ou, no caso do Rio de Janeiro, entre candidatos considerados extremados em suas posições políticas e ideológicas. Muitos ficaram sem opção.
Alguns que se apresentaram como não políticos nessas eleições, como João Dória em São Paulo, tinham o suporte do governo estadual e de um grande partido, o PSDB. Já Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, e Hildon Chaves, em Porto Velho, são duas exceções – candidataram-se pela primeira vez, Kalil por um pequeno partido (PHS), mas Hildon pelo tradicional PSDB. E, dado importante, ambos são ricos.

O ciclo é conservador e neoliberal

A vitória de candidatos da centro-direita, com diferentes nuances de conservadorismo e neoliberalismo, é irrefutável. E mais significativa se considerarmos as capitais dos estados que reúnem 45% do eleitorado brasileiro: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. É verdade que os números obtidos pelos vencedores têm de ser relativizados pelos não votos, que reduzem sua representatividade, mas o fato é que foram eleitos.
Essa tendência à direita está clara desde a polarização entre Dilma e Aécio e ganhou força com a nítida opção da maioria da população pelo impeachment. A maior probabilidade é que essa tendência se mantenha até 2018. Mas o desempenho do governo de Michel Temer, dos governadores que se situam nesse espectro político e dos prefeitos agora eleitos, especialmente no enfrentamento das crises financeira e econômica, será decisivo.
Se as medidas de ajuste fiscal desagradarem os mais pobres e a classe média, o quadro pode mudar. E até 2018 ainda tem a Lava-Jato e outras operações repletas de delações premiadas.

PT perde a hegemonia na esquerda enfraquecida

É irrefutável também o enfraquecimento do PT e, por tabela, da esquerda. Será quase impossível o PT se recuperar na capital federal até 2018, mesmo que haja um fracasso completo do governo Temer. O partido deixou de ser a opção hegemônica e preferencial do eleitorado de esquerda.
Os partidos à esquerda que elegeram prefeitos de capitais – PDT, com três; PT, PCdoB e Rede, com um cada –, e o PSol, que não elegeu ninguém mas teve um bom desempenho no Rio de Janeiro e em Belém, estão em conversas preliminares, ainda bilaterais, tendo em vista a eleição em Brasília. Mas nunca é fácil a esquerda se unir, ainda mais porque PDT, Rede e PSol deverão ter candidatos a presidente da República.

Rollemberg está isolado no meio

O PSB do governador Rodrigo Rollemberg não é chamado para conversas nem à direita nem à esquerda. O partido tem hoje uma posição dúbia no cenário nacional e está sempre colocada a possibilidade de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ser seu candidato a presidente.
Os partidos à esquerda consideram que Rollemberg não tem assumido posições que o coloquem nesse campo. Citam o apoio a Aécio no segundo turno em 2014, declarações consideradas favoráveis ao impeachment e à PEC 241 (agora 55) e a edição do decreto contra as greves e outras posturas consideradas contrárias aos servidores públicos, que esses partidos defendem a todo custo.
Há um fator, porém, que fortalece o governador: a força da máquina pública, especialmente em eleição sem financiamento privado. Afinal, 15 de 20 prefeitos de capitais foram reeleitos.

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