Definidos os resultados eleitorais nas cidades, vão se intensificar em Brasília as articulações para 2018. Diferentemente do que se diz, eleições municipais têm pouca influência nos pleitos para presidente e para governador. Em Brasília essa influência é nula, mas os principais sinais emitidos agora pelo eleitorado têm de ser avaliados pelos políticos e seções partidárias locais.
Os eleitores deram indicações relevantes que não podem ser ignoradas: a rejeição aos partidos e aos políticos tradicionais; a vitória dos candidatos de centro-direita; o enfraquecimento do PT e, em menor escala, da esquerda; e o sucesso de 15 dos 20 prefeitos de capitais que tentaram a reeleição.
“Não votos” elegem o que não querem
A rejeição à política tradicional, que pesquisas mostram com clareza, foi expressada no elevadíssimo número de abstenções e votos nulos e em branco – os não votos — e na eleição, em algumas cidades, de candidatos que se apresentaram, ainda que falsamente, como não políticos.
Essa postura do eleitorado poderia favorecer candidatos que não se identificam com as práticas políticas tradicionais e viciadas e que se posicionam como adeptos de novos métodos na gestão. Mas os resultados mostram que os eleitos, salvo pouquíssimas exceções, têm trajetória política e não representam mudanças significativas de paradigmas.
A legislação eleitoral, ao computar como válidos apenas os votos dados a candidatos, ignorando nulos e em branco, deixa a enorme quantidade de insatisfeitos sem influência no resultado final. A repercussão das abstenções, dos brancos e dos nulos é apenas política e estatística.
Fora da política, mas nem tanto
No segundo turno, os não votos refletiram também a insatisfação com as opções colocadas, especialmente onde o confronto era entre candidatos da centro-direita ou, no caso do Rio de Janeiro, entre candidatos considerados extremados em suas posições políticas e ideológicas. Muitos ficaram sem opção.
Alguns que se apresentaram como não políticos nessas eleições, como João Dória em São Paulo, tinham o suporte do governo estadual e de um grande partido, o PSDB. Já Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, e Hildon Chaves, em Porto Velho, são duas exceções – candidataram-se pela primeira vez, Kalil por um pequeno partido (PHS), mas Hildon pelo tradicional PSDB. E, dado importante, ambos são ricos.
O ciclo é conservador e neoliberal
A vitória de candidatos da centro-direita, com diferentes nuances de conservadorismo e neoliberalismo, é irrefutável. E mais significativa se considerarmos as capitais dos estados que reúnem 45% do eleitorado brasileiro: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. É verdade que os números obtidos pelos vencedores têm de ser relativizados pelos não votos, que reduzem sua representatividade, mas o fato é que foram eleitos.
Essa tendência à direita está clara desde a polarização entre Dilma e Aécio e ganhou força com a nítida opção da maioria da população pelo impeachment. A maior probabilidade é que essa tendência se mantenha até 2018. Mas o desempenho do governo de Michel Temer, dos governadores que se situam nesse espectro político e dos prefeitos agora eleitos, especialmente no enfrentamento das crises financeira e econômica, será decisivo.
Se as medidas de ajuste fiscal desagradarem os mais pobres e a classe média, o quadro pode mudar. E até 2018 ainda tem a Lava-Jato e outras operações repletas de delações premiadas.
PT perde a hegemonia na esquerda enfraquecida
É irrefutável também o enfraquecimento do PT e, por tabela, da esquerda. Será quase impossível o PT se recuperar na capital federal até 2018, mesmo que haja um fracasso completo do governo Temer. O partido deixou de ser a opção hegemônica e preferencial do eleitorado de esquerda.
Os partidos à esquerda que elegeram prefeitos de capitais – PDT, com três; PT, PCdoB e Rede, com um cada –, e o PSol, que não elegeu ninguém mas teve um bom desempenho no Rio de Janeiro e em Belém, estão em conversas preliminares, ainda bilaterais, tendo em vista a eleição em Brasília. Mas nunca é fácil a esquerda se unir, ainda mais porque PDT, Rede e PSol deverão ter candidatos a presidente da República.
Rollemberg está isolado no meio
O PSB do governador Rodrigo Rollemberg não é chamado para conversas nem à direita nem à esquerda. O partido tem hoje uma posição dúbia no cenário nacional e está sempre colocada a possibilidade de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ser seu candidato a presidente.
Os partidos à esquerda consideram que Rollemberg não tem assumido posições que o coloquem nesse campo. Citam o apoio a Aécio no segundo turno em 2014, declarações consideradas favoráveis ao impeachment e à PEC 241 (agora 55) e a edição do decreto contra as greves e outras posturas consideradas contrárias aos servidores públicos, que esses partidos defendem a todo custo.
Há um fator, porém, que fortalece o governador: a força da máquina pública, especialmente em eleição sem financiamento privado. Afinal, 15 de 20 prefeitos de capitais foram reeleitos.