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Hélio Doyle

É preciso coragem para enfrentar problemas estruturais

Arquivo Geral

16/09/2016 7h00

Atualizada 15/09/2016 22h51

Brasília tem, como toda grande cidade brasileira, problemas de todo o tipo. As notícias em outras cidades não são muito diferentes das que temos aqui, quando se trata de mau atendimento nos hospitais, deficiências na educação, problemas no transporte e na mobilidade, falta de segurança, buracos, alagamentos, lixo. Não é só em Brasília que a crise financeira se reflete na economia, que empresas estão fechando e o desemprego aumentando.

Isso, porém, não absolve nenhum dos responsáveis por solucionar ou minimizar esses problemas, a começar do governador. Alguns problemas não são resolvidos por incompetência, outros por dificuldades conjunturais, mas há os que, por serem estruturais, dependem da adoção de medidas mais profundas e bem planejadas que geralmente contrariam interesses muito bem estabelecidos.

Aí esses problemas não são enfrentados por comodismo ou por falta de coragem.

Só seminários não fazem avançar

Há inúmeras questões que deveriam ser debatidas com profundidade pelo governo, pelos parlamentares e pela sociedade civil. São importantes para a resolução de problemas que, sem esse debate, vão continuar sendo enfrentados pontualmente e sem resultados eficazes.

Não tem havido em Brasília, porém, esses debates qualificados e aprofundados. Há no máximo alguns encontros e seminários bem-intencionados – e outros meramente mercadológicos — em que os temas são tratados com superficialidade, apesar da competência e experiência de palestrantes e debatedores, e o que fica é no máximo o registro no papel ou nos pen-drives.

Não há entrosamento entre a sociedade civil e o governo e, na prática, não fica nada.

Para que fazer hoje se pode ser amanhã

Alguns dos temas para discussão na cidade são tabus que já provocam arrepios só ao serem mencionados. Como se fossem “cláusulas pétreas” que não admitem a mínima contestação. É mais cômodo deixá-los de lado, mas isso significa deixar que os problemas se agravem até um ponto de ruptura, no futuro, no qual todos perderão.

O não enfrentamento de uma reforma do Estado, por exemplo, com uma reavaliação da organização administrativa e burocrática do Distrito Federal, revisão das carreiras e adequação da estrutura aos tempos modernos, pode levar em poucos anos à total falência financeira e de gestão do governo de Brasília.

Mas, hoje, ninguém quer sequer falar nisso. É mais fácil deixar para quem vem depois.

Educação precisa de mudanças radicais

Uma questão fundamental a ser debatida é a educação. Nem é preciso relatar todas as suas deficiências, que vão da infraestrutura precária às metodologias arcaicas que persistem em todos os níveis de ensino. A educação pública em Brasília, salvo poucas ilhas de exceção que se sobressaem em meio à mediocridade, é deplorável.

Em vez de promoverem uma ampla e profunda discussão sobre os empecilhos colocados à melhor qualidade da educação, e que levem a transformações profundas no ensino, os administradores públicos se contentam em tentar resolver os problemas do dia a dia e os trabalhadores da área parece que só pensam nos aumentos de salários.

E, se não tiverem aumento, na próxima greve. Que só agrava os já gravíssimos problemas do ensino público em Brasília.

Para começar é só começar

Há expressões populares que refletem o que é preciso fazer: parar para pensar, ou dar um freio de arrumação. Só que não dá para parar para pensar nem frear o andamento do governo. É preciso pensar sem parar a máquina e arrumar sem frear.

Não serão implantadas organizações sociais na saúde, de modo eficiente, sem que se discuta o atual modelo e todas as alternativas para melhorá-lo ou superá-lo. Não adianta construir escolas que não atraiam os alunos e alardear dados quantitativos na educação quando não há qualidade no ensino.

A lista é interminável. Não dá para enfrentar tudo de uma vez, mas também não dá para deixar tudo para o futuro. Para isso é que se definem prioridades.

É preciso mudar quase tudo

Por falar em educação, vale a pena reproduzir duas frases da entrevista que o professor José Pacheco deu a O Globo. Ele foi, durante 30 anos, diretor da Escola da Ponte, em Portugal. A resposta que deu sobre o que precisa mudar nas escolas brasileiras para tornar o ensino mais atraente:

— Quase tudo. A começar por insistir menos no ensino e mais na criação de condições de aprendizagem, porque toda formação é autoformação.

Segundo Pacheco, as escolas devem deixar “de estar presas a um modelo educacional obsoleto e a uma gestão burocratizada, na qual os critérios de natureza administrativa se sobrepõem a critérios de natureza pedagógica”.

Isso não muda com canetada.

Para não esquecer o que foi bom

O Museu da Educação do Distrito Federal lançará em 2017 sua terceira publicação sobre a história da educação pública em Brasília e o Centro Integrado de Ensino Médio da UnB (Ciem) será objeto de um dos artigos. O Ciem foi uma escola revolucionária nos anos 1960 e seria ainda hoje. Na educação, Brasília regrediu.

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