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Hélio Doyle

Brasília tinha de ter a melhor educação do país

Arquivo Geral

13/09/2016 7h00

Atualizada 12/09/2016 22h40

O fracasso da educação é brasileiro, não é apenas brasiliense. É um processo que vem ocorrendo há mais de 50 anos, não é de hoje. O país vai muito mal na educação, do maternal à pós-graduação, e Brasília não é exceção. Os resultados do índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb), recentemente divulgados, mostram que o Distrito Federal não alcançou sequer as metas definidas para o ensino fundamental e para o ensino médio.

A questão é que Brasília deveria ser, sim, uma exceção. Mais do que isso: Brasília tinha a obrigação não só de ter atingido todas as metas do Ideb como a de ser a primeira colocada no país, em qualquer ranking. Nenhuma unidade da Federação tem tantas condições favoráveis para o desenvolvimento da educação como o Distrito Federal.

Há, com certeza, algo muito errado.

Não é por falta de gente e salário

Brasília tem três milhões de habitantes em uma área de quase seis mil quilômetros quadrados. O orçamento de 2016 é de R$ 32,6 bilhões, dos quais R$ R$ 6,2 bilhões destinados à educação. São valores que causam inveja em qualquer outra cidade brasileira, mesmo tomando os valores relativos à população.

Da despesa com pessoal, 39,5% vai para os servidores da educação: são 46.146 na carreira de magistério, com salário médio bruto de R$ 8.732,10, e 18.293 na de assistentes educacionais, com salário médio de R$ 4.876,35. A folha na área de educação chega a quase R$ 500 milhões.

Há carência de pessoal em alguns setores, o que causa problemas. Os salários, embora estejam entre os melhores do país, são baixos diante dos pagos às carreiras jurídicas e aos auditores, por exemplo. Mas não dá para atribuir nem à falta de quadros nem aos salários as deficiências na educação em Brasília.

Há problemas federais e locais

Especialistas alinham dezenas de problemas na educação brasileira, em todos os níveis de ensino. Entre eles, claro, os poucos recursos financeiros. Mas, independentemente disso, há questões ligadas à metodologia do ensino, aos currículos, à evasão escolar, à má formação de muitos professores e por aí adiante.

Há outras ligadas ao cotidiano das escolas, como deficiências na infraestrutura física e tecnológica e no transporte escolar, problemas de segurança e ausências constantes de professores, deixando os alunos sem aulas. As frequentes e longas greves só contribuem para piorar a situação, prejudicando o desempenho dos alunos e contribuindo para desprestigiar ainda mais a escola pública.

Sair do mesmo e ir para o mais

Algumas dessas questões têm de ser resolvidas no âmbito federal, mas outras podem ser equacionadas aqui mesmo. É preciso, porém, que o governo as discuta com profundidade com todos os envolvidos no processo educacional – professores, servidores, alunos e pais – e leve esse debate à sociedade.

Os sindicatos dos profissionais do ensino poderiam deixar de lado por um tempo suas reivindicações meramente corporativas, que fazem com que mais de 90% do orçamento da educação seja destinado ao pagamento dos servidores e dos trabalhadores terceirizados. Sobram menos de 10% para
custeio e investimentos, como mostra o secretário
de Educação, Júlio Gregório.

Em vez de só brigar por aumentos de salários – o que seria justo, mas inviável no momento – os sindicatos poderiam organizar suas categorias para debater as questões de fundo e do cotidiano da educação no Distrito Federal. E participar de discussões organizadas com o governo e com os alunos
e seus pais.

Cabe ao governo de Brasília, urgentemente, começar esse processo.

E seriam apenas duas…

No início da atual gestão, diante da impossibilidade financeira em se ter escolas em tempo integral em grande escala, discutia-se a implantação de pelo menos duas delas, que seriam modelo ou piloto em termos de arquitetura, metodologia e qualidade de ensino. Uma para a educação básica e outra para o ensino médio, ambas em regiões mais carentes.

Aprovado o modelo, as demais iriam sendo implantadas progressivamente. Mas o plano foi abandonado.

A fórmula já existe, é só adaptar

Se os gestores da educação quiserem conhecer um modelo revolucionário de ensino médio, com atividades em tempo integral, metodologia moderna de ensino, práticas desportivas e vocacionais, professores competentes e dedicados e alunos altamente envolvidos, basta estudar o que foi o Centro Integrado de Ensino Médio da Universidade de Brasília.

O Ciem funcionou na segunda metade dos anos 1960 e supera, em todos os aspectos, qualquer escola de ensino médio, pública ou privada, que temos hoje em Brasília.

Rollemberg à frente de Temer

A decisão do presidente Michel Temer de não ter nas paredes dos órgãos públicos a tradicional fotografia oficial nada tem de original. O governador Rodrigo Rollemberg, antes dele, deixou de lado a prática ultrapassada e cafona de espalhar sua fotografia por todos os gabinetes do governo.

Na verdade, levado pelos puxa-sacos que todo governante tem à volta, Rollemberg chegou a tirar a foto, com faixa e tudo. Felizmente ficou só nisso.

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