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Hélio Doyle

A deputada quer se meter até na sala de aula

Arquivo Geral

06/07/2016 7h00

Raphael Ribeiro

É tão grande o conservadorismo, o obscurantismo, a ignorância e o autoritarismo de alguns distritais que a deputada Sandra Faraj (foto) interpelou o diretor do Centro Educacional 06 da Ceilândia para contestar o conteúdo ministrado por uma professora em sala de aula.
A deputada Faraj enviou ofício ao diretor da escola pedindo “esclarecimentos e informações” sobre denúncia que recebeu: um professor passou para seus alunos a elaboração de um trabalho em grupo sobre um dos seguintes temas: homofobia, integração entre gêneros, pansexualidade, relações poliamorosas e transsexualidade.

Para a deputada, isso não pode. Segundo ela, o trabalho pedido pelo professor vai “de encontro às leis distritais e nacionais vigentes”. Na verdade, vai de encontro é às convicções pessoais dela. E vai ao encontro da defesa da diversidade e do combate aos preconceitos.
É quase desnecessário dizer que a deputada Faraj é da bancada evangélica fundamentalista e de direita. Seu partido, aliás, é o Solidariedade, liderado por Paulinho da Força – pelego sindical e deputado ligado a Eduardo Cunha. Felizmente há muitos evangélicos sérios e inteligentes.

Distrital é distrital, professor é professor

É absurda a interferência de uma deputada distrital no conteúdo ministrado por um professor em sala de aula. A autonomia pedagógica do professor tem de ser defendida pelo governo e pela Secretaria de Educação. Cabe apenas à escola e às instâncias educacionais agir quando há abusos ou ilegalidades. O que, obviamente, não é o caso. Faz bem o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal em apoiar a escola e o professor, repudiar a ação da distrital retrógrada e pedir à Promotoria de Defesa dos Direitos da Infância e da Juventude que analise a postura da deputada.

Aliás…

A obscurantista e atrasada deputada Sandra Faraj comanda, por intermédio de um aliado, a Secretaria de Justiça e Cidadania do governo de Brasília. Imagine-se que tipo de justiça defende e que tipo de cidadania ela promove.

Que medo da Câmara e do TCDF!

Por que os servidores da Câmara Legislativa e do Tribunal de Contas do Distrito Federal têm direito a aumento salarial de 8% em outubro (e mais 5% em 2017 e 5% em 2018) e os do Executivo e das empresas públicas não têm?

Quem tem de responder é o governador Rodrigo Rollemberg, que sancionou o projeto de lei aprovado pela Câmara Legislativa na última sessão do semestre. Poderia ter vetado e teria muitas justificativas para isso, mas aceitou participar da “bondade” dos distritais articulados com o presidente do Tribunal de Contas.

Não vale dizer que é porque esses aumentos não incidem nos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. E que o impacto nas finanças do Distrito Federal será pequeno.
Afinal, há crise ou não? Estão resolvidos os problemas financeiros do governo? E haverá mesmo dinheiro para pagar os aumentos, os salários e o décimo-terceiro dos servidores do Executivo até dezembro?

Servidores da Câmara e do Tribunal de Contas já ganham muito bem e poderiam esperar um pouco mais. Os aumentos custarão R$ 7 milhões só neste ano.

Farol ligado não é o problema

Nada contra o uso do farol baixo em rodovias. A norma existe em vários países e em alguns o farol é obrigatório inclusive em vias urbanas, para dar mais segurança a motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres.

O que chama a atenção em Brasília é o grande número de rodovias que na verdade são avenidas que cruzam regiões densamente ocupadas. Pareciam com rodovias nos primeiros anos da cidade, não mais. As vias principais dos Lagos Sul e Norte são rodovias. O Eixão é uma rodovia (até se chama Eixo Rodoviário), mas os eixinhos são vias urbanas. E até muitas estradas-parque ligando cidades têm mais cara de avenida que de rodovia.

O problema não é ligar o farol, apesar das bobagens levantadas contra a medida. O problema que afeta os brasilienses é a dispersão de esforços de engenharia de trânsito e fiscalização entre o Departamento de Trânsito (Detran) e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER).

Divisão artificial

Várias das “rodovias” de Brasília poderiam ser transformadas em vias urbanas e passar ao controle do Detran. Não tem lógica, por exemplo, o Eixão estar sob jurisdição do DER e os eixinhos na do Detran. O DER poderia se dedicar melhor às rodovias que realmente são rodovias e deixar as vias urbanas com o Detran.

E ambos os órgãos deveriam estar vinculados à Secretaria de Mobilidade, e não à Secretaria de Segurança (Detran) e à Secretaria de Infraestrutura (DER).

Atitude para mudar

Os velhos manuais da velha comunicação política ensinam que todo governo tem de ter uma marca visual própria e um slogan. Confundem administração pública com campanha eleitoral. O que pode ter sido um achado nos anos 1950, hoje é velho, antiquado e ultrapassado.

Mas sempre há quem não se renove e não tenha coragem para mudar.

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