IVAN FINOTTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Alguns paulistanos foram surpreendidos na semana passada ao receberem um golden ticket parodiando aquele do cinema, com o qual Willy Wonka convidava alguns felizardos para conhecerem a fantástica fábrica de chocolate.
O ingresso, porém, era para o Bahamas Hotel Club, casa noturna de Oscar Maroni que “personifica o luxo como um ponto de encontro dedicado à filosofia do hedonismo, uma busca contínua pelo prazer”, conforme descrição em seu site.
Boate frequentada por garotas de programa, e com quartos alugados por hora, o Bahamas é uma casa “tradicional” na noite de São Paulo. Tão tradicional que o golden ticket era para sua festa de três décadas de existência, na última sexta-feira (6).
Na verdade, a boate aproveitou o dia do sexo para comemorar sua fundação. A data, inventada há alguns anos por publicitários brasileiros, é celebrada em 6/9, remetendo à posição sexual “meia nove”, em que dois parceiros fazem sexo oral ao mesmo tempo.
E, como caiu no dia em que, pela primeira vez, um jogo de futebol americano da liga NFL foi realizado na cidade, havia muitos americanos passeando por suas dependências durante a semana passada.
“Ontem [quinta, 5], eu fiz quatro programas. Muito gringo por causa do jogo. Foi meu melhor dia no Bahamas até agora”, contou à Folha de S.Paulo Isabela Soares, que frequenta o local há três meses.
Aos 27, Isabela é mais nova que o próprio Bahamas, onde comparece de quatro a cinco vezes por semana, sempre de vestido e salto agulha (“meu estilo é elegante”). Diz cobrar entre R$ 1.000 e R$ 2.500 por uma hora de programa, dependendo de sua percepção.
“O cara que vai para o quarto sem perguntar valor é o que pode pagar mais”, diz ela, que preferiu dar seu nome verdadeiro e aceitou se deitar languidamente no sofá para o repórter tirar algumas fotos não foi permitida a entrada de fotógrafos na festa, assim como em qualquer outro dia, já que a discrição dos clientes é ponto nevrálgico neste ramo.
Em seus 30 anos, o Bahamas já passou inúmeras aventuras. Foi lacrado pela prefeitura, recebeu celebridades como Mike Tyson e viu seu alvará cassado. Ficou seis anos interditado, entre 2007 e 2013.
Abrigou equipes inteiras das escuderias de Fórmula 1, teve um hotel construído atrás da boate embargado por estar na rota dos aviões de Congonhas e sofreu críticas de Zezé Di Camargo pelo preço da champanhe importada.
À frente de todas essas festas e perrengues estava Oscar Maroni, que se tornou uma figura tão lendária em São Paulo quanto sua casa noturna.
Aos 73 anos, Maroni sofre de Alzheimer, não tem memória atual e foi interditado judicialmente pela família que tem sua curatela. O empresário está desde o início do ano meses internado em uma casa de repouso no Jardim Europa.
“Ele não está mais a par do que acontece. Diz, por exemplo, que está na praia e já não lembra que minha mãe morreu”, conta o mais velho, Aruã, 42, que trabalha com o pai desde os 16.
Aruã e Aratã, 37, assumiram a gestão do Bahamas, enquanto Acauã, 35, cuida da fazenda Santa Cecília, em Araçatuba, que já foi invadida pelo MST e hoje tem plantação de cana.
Aritana, 45, a única filha, é uma chef pansexual que inclusive participou de realities como “MasterChef”, “A Fazenda” e “Cozinhe se Puder”. Os nomes foram inspirados em “Aritana”, novela com Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi que foi ao ar pela rede Tupi em 1978 e 1979.
Em 2011, Maroni foi preso e condenado em primeira instância e depois inocentado a quase 12 anos de prisão por favorecimento de prostituição e tráfico de mulheres. Após 45 dias preso, recorreu em liberdade e foi inocentado.
Nos últimos 30 anos, o empresário frequentou as manchetes dos jornais paulistanos, e em 2017, lançou sua biografia “O Colecionador de Emoções: A Vida de Oscar Maroni”. Em 2008, foi candidato a vereador e, 10 anos depois, a deputado federal. Falhou em ambas as vezes. “O Brasil está uma zona; e de putaria eu entendo”, dizia, na campanha.
Em 2014, foi o primeiro eliminado de “A Fazenda”, e em 2018, cometeu uma de suas estripulias mais famosas. Prometeu distribuir 9.000 cervejas gratuitamente na frente do Bahamas se o então ex-presidente Lula fosse preso. Dito e feito. O local foi tomado por centenas de motoboys, que recebiam as latas das mãos do empresário, vestido de irmão metralha.
Dono de um humor no mínimo duvidoso, Maroni levou suas piadas ao Bahamas. Na seção de Perguntas Frequentes do site da boate, entre questões pertinentes como “preciso fazer reserva” (não precisa) ou “existe estacionamento no local” (sim), pode-se ler a seguinte estupidez: “Posso limpar meu pau na cortina?”. A resposta: “Não temos cortina”.
A entrada custa R$ 210 ou R$ 400 consumíveis. Quem chega antes das 20h, paga R$ 210, e pode consumir todo o valor. Uma cerveja sai a R$ 35, assim como a dose de uísque, enquanto a porção de oito bolinhos de mandioca com provolone custa R$ 63.
As mulheres têm um tíquete a R$ 100 consumíveis, mas costumam ganhar entradas gratuitas se forem heavy users ou chegarem mais cedo. Também pagam o que consomem, só que há um cardápio secreto com preços bem menores só para elas.
Quanto cobram da clientela, não diz respeito à casa. Esse é um negócio delas, que aceitam Pix ou cartões, pois têm suas próprias maquininhas acopladas nos celulares que levam nas bolsas.
Na sexta, além das moças com vestidos colados, como Isabela, muitas estavam fantasiadas; estudantes ou coelhinhas eram vistas aqui e ali.
Uma delas, com rabinho pompom, orelhas de Pernalonga e gravata, contou que houve época em que a maioria ficava de lingerie, mas essa moda passou, não se sabe bem por quê.
“O que não pode é usar moletom, tênis: salto tem que ser agulha”, disse. Suas duas amigas não estão fantasiadas. Preferem microvestidos.
Com 22, 23 e 26 anos, elas cobram entre R$ 500 e R$ 1.000 por hora e frequentam outras casas, como Scandallo, Connection, Bamboa e Café Photo, mas dizem gostar do mais do Bahamas. “Aqui é legal.
Tem cadeado grátis para guardarmos nossas coisas nos armários”. A infraestrutura, é claro, também conta ponto.