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Música

Rock in Rio vai fazer o ‘We Are the World’ brasileiro com 60 artistas, de Ivete a D2

Aos moldes de “We Are the World”, gravada em 1985 para arrecadar doações contra a fome na África, a iniciativa é do criador do Rock in Rio.

Redação Jornal de Brasília

30/04/2024 10h28

Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

PEDRO MARTINS
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Parecia uma confraternização de Réveillon fora de época no anfiteatro da Cidade das Artes, que foi tomada na tarde desta segunda-feira por nada menos do que 60 artistas, do heavy metal ao sertanejo, para gravar uma música e um videoclipe que pregam a união ante a polarização, notadamente política, que divide o Brasil.

Aos moldes de “We Are the World”, gravada em 1985 nos Estados Unidos para arrecadar doações contra a fome na África, a iniciativa é de Roberto Medina, o criador do Rock in Rio, que neste ano celebra quatro décadas. O empresário teve a ideia ao assistir ao documentário “A Noite que Mudou o Pop”, que entrou em janeiro no catálogo da Netflix, sobre a iniciativa do U.S.A. for Africa.

A composição, assinada por Lionel Richie e Michael Jackson no exterior, no Brasil ficou a cargo de Zé Ricardo, vice-presidente artístico do Rock in Rio e do The Town. Ele conta que teve cerca de três meses para escrever a letra e convidar os artistas, que vão doar seus cachês às ONGs Ação da Cidadania, que já vai receber a doação de 1,5 milhão de pratos de comida, e Gerando Falcões, responsável pelo atendimento de 250 famílias em situação de vulnerabilidade social pelo país.

Participam do projeto nomes do rock nacional, como Dinho Ouro Preto, do axé, caso de Ivete Sangalo, do pop, representado por figuras como Ludmilla, do pagode, na voz de artistas como Xande de Pilares, e do funk, que tem MC Livinho. Há ainda os rappers como Marcelo D2, os DJs como Pedro Sampaio e sertanejos, dos mais tradicionais, caso de Chitãozinho e Xororó, às novidades, como Ana Castela. A MPB também tem seu espaço com nomes como Ivan Lins e Roberto Menescal.

“Deixa o coração falar/ não temos tempo a perder/ a vida é acertar e errar/ eu não quero ficar longe de você”, diz o refrão chiclete da música, chamada “Deixe o Cora Falar”, que terá seu clipe lançado na próxima semana.

Uma parte desse elenco, somada a alguns outros nomes, vão compor o line-up do penúltimo dia do próximo Rock in Rio, o sábado de 21 de setembro, chamado “Dia Brasil”, quando pela primeira vez o festival terá uma data dedicada apenas a shows de brasileiros.

As apresentações, com duração de cerca de uma hora e meia cada uma e espalhadas por todos os palcos, serão divididas por gênero. Cada artista deve cantar uma seleção de três a cinco músicas escolhidas do melhor de seu repertório.

“A coisa que mais falta no mundo hoje é a escuta. As pessoas se julgam antes mesmo de terminarem de falar, então a música trata de reconciliação. Espero que seja uma ponte para que as pessoas deem o primeiro passo para recomeçar as conversas”, diz Zé Ricardo. “Mas é importante que entendam que não é uma campanha política.”

A preocupação é legítima. Às vésperas das eleições passadas, os palcos viraram ringues políticos, com festivais atravessados por manifestações intensas, inclusive o último Rock in Rio, que ocorreu um mês antes do pleito que levou Lula de volta ao Alvorada em derrota para Jair Bolsonaro.

Era nítida a divisão, que às vezes levava não só o público, mas alguns artistas a atacarem os outros –enquanto a maioria dos sertanejos se posicionaram a favor de Bolsonaro, em rodeios e festas do peão, onde criticavam a Lei Rouanet, os artistas da MPB e do pop declaram apoio a Lula, fazendo o “L”.

É também pensando nisso que o curador esclarece a ausência no projeto de alguns nomes incontornáveis para a música brasileira, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento.

“Recebi muitos telefonemas e mensagens emocionadas de artistas que escutaram a música, dizendo que queriam participar, mas tinham algum compromisso que impedia. Gil mesmo foi supercarinhoso, mas não podia. Caetano e [Maria] Bethânia estão ensaiando para uma turnê, então nem sempre é possível reunir todo mundo”, diz Zé Ricardo.

Vice-presidente da Rock World, a empresa por trás do Rock in Rio e do The Town, Roberta Medina faz coro ao colega e diz acreditar que, na Cidade do Rock, as discordâncias não importam. “Lá as pessoas se respeitam. Foi assim sempre. O Brasil estava saindo da ditadura militar na primeira edição, em 1985, e foi provado que ali toda diferença podia conviver junta.”

A executiva descarta a ideia de que a iniciativa seja uma resposta a artistas, como Anitta e Rita Lee, que criticaram o festival ao longo de sua história, sob a acusação de dar pouco espaço a talentos nacionais.

Ela afirma que os equipamentos e as demais condições técnicas oferecidas a todos são as mesmas, independentemente de sua nacionalidade ou de seu gênero musical.

A venda de ingressos do Rock in Rio começa em cerca de um mês, no dia 23 de maio, às 19h. Para além dos artistas nacionais, haverá também nomes de peso do cenário musical estrangeiro, como Ed Sheeran, Travis Scott, Imagine Dragons, Katy Perry, Shawn Mendes e Mariah Carey. Do cenário nacional, haverá ainda o retorno da banda Penélope e nomes como Belo e Pato Fu.

As apresentações do festival estão marcadas para dois fins de semana de setembro, os dias 13, 14 e 15 e 19, 20, 21 e 22, na Cidade do Rock, na zona oeste do Rio de Janeiro.

*O jornalista viajou a convite do Rock in Rio

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