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Livrarias em Paris e Nova York pedem socorro a leitores durante a pandemia

As livrarias brasileiras também sofreram um forte baque com a pandemia, em especial as que não tinham um esquema consolidado de ecommerce

Redação Jornal de Brasília

17/11/2020 12h52

WALTER PORTO
A segunda onda do coronavírus na Europa tem assustado ainda mais as livrarias independentes, que enfrentam a incerteza provocada por um novo fechamento há algumas semanas.

A França, por exemplo, começou um novo lockdown há duas semanas, com previsão de durar de quatro a seis semanas. Isso fez com que a parisiense Shakespeare and Company, ícone dos livreiros no mundo todo, desse um grito de socorro pela internet.

A livraria centenária enviou uma mensagem a seus consumidores fiéis pedindo que fizessem compras ali, depois de observar as vendas caírem cerca de 80% desde março.

Nos dois meses em que ficou fechada, no primeiro semestre, a loja não vendeu nada pela internet por orientação do sindicato, segundo o jornal britânico The Guardian. E já gastou todo o seu dinheiro de reserva.

O medo da falência também baqueou uma das mais famosas livrarias de Nova York, a Strand, que apontou uma queda de receita da ordem de 70% em comparação com o ano passado e fez um apelo virtual a seus clientes.
O contato da proprietária, Nancy Bass Wyden, rendeu frutos. No fim de semana seguinte, a loja recebeu 25 mil pedidos e viu entrar em caixa um valor de cerca de US$ 200 mil, mais de R$ 1 milhão.

Na França, o fechamento das livrarias gerou revolta, ainda mais porque o governo proibiu a venda de livros em estabelecimentos como supermercados para evitar prejudicar as lojas especializadas.

A Bélgica solucionou o problema, por exemplo, considerando o livro como um produto essencial, portanto passível de ser comercializado durante a fase mais dura da quarentena.

Até a prefeitura parisiense reagiu à decisão do governo francês. A prefeita Anne Hidalgo pediu à gestão Macron que reconsiderasse e aos cidadãos parisienses que boicotassem a Amazon, maior gigante do comércio online.
“Digo claramente aos parisienses. Não comprem na Amazon. É a morte das nossas livrarias e do nosso comércio local”, afirmou Hidalgo no começo de novembro. “Comprem em livrarias. Vocês podem encomendar e ir buscar o livro.”

Em outros países, também cresce o clima de boicote à plataforma de vendas virtuais, criticada por uma política de preços e descontos que as livrarias pequenas enxergam como impossíveis de bater.

O Bookshop.org, uma iniciativa americana de reunir livrarias independentes para fazer frente à Amazon, começou modesta, mas viu seu alcance explodir desde o lançamento em março, antes da pandemia.

A cooperativa tem arrecadado cerca US$ 1 milhão por dia só em livros, segundo estimativa do site LitHub. E separa parte dos lucros para um fundo que abastece as cerca de 900 livrarias que integram o projeto, além do percentual que elas já recebem por cada livro que vendem no site.

Neste mês, o Bookshop ampliou seus trabalhos também para o Reino Unido, que está de volta ao lockdown, integrando 130 lojas parceiras. No Brasil, as principais entidades do setor livreiro se juntaram nesta semana na campanha #tudocomeçanalivraria, voltada a valorizar as lojas físicas.

Além da divulgação da hashtag entre lojas e editoras para disseminar o afeto por aquele espaço nas redes sociais, está prevista uma ação do dia 11 ao dia 13 de dezembro em que os livros terão desconto especial para quem comprar nos estabelecimentos físicos – uma espécie de Black Friday da literatura.

As livrarias brasileiras também sofreram um forte baque com a pandemia, em especial as que não tinham um esquema consolidado de ecommerce. Há alguns meses, o projeto Retomada, idealizado pelo livreiro Alexandre Martins Fontes, arrecadou dinheiro para destinar R$ 10 mil a 53 pequenas livrarias que tinham sofrido com a penúria depois do fechamento das portas.

Mesmo depois de meses de reabertura, segundo Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro, o movimento nas livrarias está por volta de 70% a 80% do normal, o que tem prejudicado as novas publicações das editoras, que contavam com aquelas vitrines para impulsionar suas vendas.

“O lançamento no ecommerce não responde tão bem quanto na livraria, por que ali você vende mais para clientes cativos, que entram no site sabendo o que comprar”, diz Tavares. “As editoras sentiram muito a perda de exposição e têm se reinventado junto com as livrarias.”

As informações são da FolhaPress

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