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Literatura

‘Pente Quente’: uma poderosa contribuição à narrativa da ‘jornada do cabelo’

É sobre essa jornada que Ebony Flowers escreve sua HQ “Pente Quente”

Redação Jornal de Brasília

23/06/2023 10h58

Foto: Reprodução

A expressão “hair journey” tem sido adotada por afro-gringas nas redes sociais para descrever suas aventuras capilares. Essas jornadas capilares não perdem em complexidade para as histórias de heróis que encontramos nos estudos narrativos. O livro “Esse Cabelo”, de Djaimilia Pereira de Almeida, destaca essa comparação ao abordar a escrita de memórias relacionadas ao cabelo, confrontando acusações de futilidade com as histórias de veteranos de guerra amputados, considerados heróis. Fica a pergunta: há algo no corpo que possa ser fútil?

Em todo o mundo, pessoas com cabelos crespos lidam de diferentes maneiras com o que a sociedade racista insiste em rotular como um “problema”. Métodos dolorosos de alisamento foram adotados como uma regra para a aceitação social, apagando um traço fenotípico importante da população negra. Esse processo muitas vezes resulta em sofrimento, tortura e danos duradouros à saúde, tornando-se uma experiência traumática para as mulheres negras.

É sobre essa jornada que Ebony Flowers escreve sua HQ “Pente Quente”. Em oito contos, a obra retrata a vivência e a socialização entre mulheres negras, elementos intrinsecamente ligados às suas identidades. O primeiro conto, que dá nome ao livro, ilustra essa relação. Passado na década de 1990, aborda a adolescência, a participação em um show de talentos com amigas, o desejo de se assemelhar a uma integrante do grupo TLC e a vontade de se encaixar no ambiente do bairro. Todos esses eventos levam a protagonista a fazer um relaxamento em um salão de beleza.

A HQ de Flowers retrata episódios marcados pelo racismo cotidiano, utilizando conceitos como o “racismo dissimulado” mencionado por Philomena Essed e Grada Kilomba em obras como “Memórias da Plantação”. A autora também aborda formas mais sutis de racismo, como nos contos “O espanhol” e “A senhora do metrô”. Neste último, a personagem é confrontada com perguntas invasivas sobre sua origem por uma mulher cheia de preconceitos. A estrangeirização presumida, seja nos Estados Unidos, Brasil ou em qualquer país com histórico de racismo, é apenas um dos muitos mecanismos usados pela supremacia branca para excluir e negar a autonomia da pessoa negra.

Ebony Flowers adota um estilo de traço marcante, com ênfase em linhas grossas e finas, enroladas, curvas e esticadas, recriando a atmosfera intrincada de suas vivências. Suas narrativas ressoam em outras meninas, mulheres e senhoras negras que, em algum momento, despertaram para a própria identidade por meio do cabelo, trazendo consigo memórias de cumplicidade e união entre suas iguais. “Pente Quente” é uma obra que oferece uma visão autêntica e poderosa das jorn

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