A cena é simples de imaginar. Susana Vieira, homenageada com estrela na calçada da fama dos Estúdios Globo, decidindo que o grande momento não seria apenas de aplausos, mas também de um desabafo daqueles que fazem o país virar a cabeça. E virou.
Entre sorrisos, memória afetiva e um discurso de onze minutos que fez jornalista suar frio, a veterana disparou sem dó: até o tradicional peru que os funcionários recebiam no Natal sumiu da cesta. O peru do seu Roberto virou lenda. O mimo, que um dia brilhou nas ceias de muitos, desapareceu como figurante cortado na edição final.
E não parou aí. Susana puxou o fio da saudade. Dois panetones, um salaminho, brinquedinhos pras crianças. Coisas pequenas que viravam cenas grandes no coração dos funcionários. Tudo trocado por um silêncio de Compliance e por uma política de enxugamento que ninguém finge que não vê.
A atriz, que há décadas reina como uma instituição viva da TV brasileira, lembrou também da recente conversa sobre salários. A tal diminuição. A frase atravessada. A constatação de que o glamour continua, mas a conta bancária já não acompanha como no passado.
Susana brincou, ironizou, cutucou, e ainda avisou que seu contrato é vitalício. Quem pensa que ela vai embora cedo, prepare a cadeira: se depender dela, a Globo vai ter que segurá-la até os 100.
O momento mais afiado? Quando ela relembrou o famoso peru do fundador Roberto Marinho e disse sem piscar que tudo isso acabou na gestão seguinte. O público? Dividido entre gargalhar e arregalar os olhos.
No fundo, a atriz fez aquilo que poucos têm coragem: escancarou a mudança de cultura na emissora, falou de cortes, falou de clima, falou do que todo mundo comenta no estacionamento, mas ninguém põe no microfone.
E ela fez isso com carisma, ironia e aquele veneno que não mata, mas deixa a plateia viva, acordada e querendo saber qual será a próxima frase que viraliza.
Susana não entregou apenas uma fala. Entregou manchete, contexto histórico, crítica social e entretenimento em um movimento só. Um peru, um panetone, um salaminho e um recado direto para o país: os tempos mudaram e ela não tem medo de falar.
Porque, quando Susana Vieira resolve sincerar, pode preparar a pipoca. E, neste caso, sem peru.