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Kátia Flávia
Kátia Flávia

Por que Padre Júlio Lancellotti foi afastado das missas?

Entre a batina e o barulho político, a Igreja puxou o freio e mandou o padre Júlio sair do palco digital antes que a missa virasse comício.

Kátia Flávia

16/12/2025 11h53

julio lancellotti

Padre Lancellotti. Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

O nome é grande, o barulho é maior ainda. Padre Júlio Lancellotti, figura carimbada nas redes, nas ruas e nas tretas públicas, virou centro de uma decisão que a Igreja tentou tratar como discreta, mas falhou miseravelmente. Quando envolve Júlio, nada passa batido. Nem silêncio vira silêncio.

Nos últimos dias, o padre foi orientado pela Arquidiocese de São Paulo a suspender as transmissões de missas e reduzir drasticamente sua atuação nas redes sociais. Nada de lives, nada de sermão com Wi-Fi, nada de altar com ring light. Um freio puxado com força, desses que fazem o carro derrapar.

A versão oficial veio com aquele tom clássico de comunicado eclesiástico, educado, redondo e cheio de palavras que não dizem tudo. Segundo a Arquidiocese, trata-se de um “período de recolhimento”, uma espécie de pausa para proteger o padre e evitar desgastes maiores.

Traduzindo do latim institucional para o português claro, o recado foi simples. Menos exposição, menos ruído, menos política misturada com evangelho transmitido ao vivo.

O próprio padre Júlio confirmou que acata a decisão. Segue celebrando missas presencialmente, segue na paróquia, segue trabalhando com a população em situação de rua. Só não pode mais transformar a missa em evento digital com audiência nacional.

Padre Júlio Lancelotti anuncia o fim das transmissões das missas. Depois de quase 40 anos na paróquia, ele deve ser transferido após virar alvo constante de ataques de parlamentares da direita.

Padre Júlio Lancellotti não é apenas um padre. Ele é personagem. Ícone para uns, provocação ambulante para outros. Há décadas atua com moradores de rua, enfrenta discursos conservadores, bate de frente com políticos e virou alvo fixo de ataques, denúncias e campanhas de desgaste.

Nos últimos tempos, a pressão aumentou. Grupos conservadores passaram a cobrar posicionamento da Igreja, políticos fizeram barulho e o nome do padre entrou num território que a instituição odeia frequentar, o da polarização aberta.

A Igreja pode até falar em recolhimento espiritual, mas o cheiro é de contenção estratégica. Quando o altar começa a competir com palanque, Roma costuma pedir silêncio.

Nada disso foi oficialmente assumido. Não houve afastamento formal, não houve transferência, não houve suspensão de ordens sacerdotais. Foi aquele movimento clássico de empurrar o assunto para dentro da sacristia e fechar a porta devagar.

Mas convenhamos, quando um padre conhecido nacionalmente é mandado desligar a câmera, o gesto fala mais alto que qualquer nota fria.

Padre Júlio continua sendo padre. Continua celebrando. Continua nas ruas. Continua incomodando. Só não pode mais amplificar isso em tempo real para milhares de seguidores.

A Igreja, por sua vez, tenta estancar uma sangria política que vinha crescendo. Menos like, menos corte de vídeo, menos frase fora de contexto rodando em grupo de WhatsApp.

O afastamento das missas online não apaga a figura de Júlio Lancellotti. Pelo contrário. Alimenta o debate, inflama os lados e deixa no ar a pergunta que ninguém responde em voz alta.

Até onde vai a fé quando ela vira discurso público?
E até onde a Igreja aguenta quando um padre fala alto demais?

A batina segue lá. O microfone, por enquanto, foi guardado na gaveta.

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