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Exposições

Museu Nacional é presenteado com doação de manto tupinambá do século 17

Peça histórica é repatriada e será exposta no Brasil a partir de 2024, após estar na Dinamarca

Redação Jornal de Brasília

29/06/2023 8h35

Manto Tupinambá. Foto: Museu Nacional da Dinamarca

Um manto tupinambá imponente, com 1,80m de altura e adornado por milhares de penas vermelhas de pássaros guará, encontra-se atualmente guardado no Museu Nacional da Dinamarca, juntamente com outros quatro mantos. Embora tenha chegado a Copenhague em 1689, acredita-se que tenha sido produzido quase um século antes. A expectativa é que essa peça se torne uma das principais atrações do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a partir do próximo ano, quando está prevista a reabertura parcial do prédio devastado por um incêndio em 2018. A doação do manto foi anunciada esta semana, após aproximadamente um ano de negociações entre as instituições dos dois países.

Além de seu valor estético e histórico para o Brasil, a doação dessa peça representa a recuperação de uma memória transcendental para o povo tupinambá, conforme explicado pelo antropólogo e curador das exposições etnológicas do Museu Nacional, João Pacheco de Oliveira. Os indígenas consideram o manto como um material vivo, capaz de conectá-los diretamente com os ancestrais e as práticas culturais do passado.

“Esta é a primeira vez que um objeto etnográfico de tamanha importância para os indígenas brasileiros é repatriado. O povo tupinambá não produz essa peça há muitos séculos. Ela só é mencionada nas primeiras imagens dos cronistas do século 16. Após esse período, ocorreu um processo de guerra promovido pelo governo português contra os tupinambás, resultando em muitas mortes e na destruição de povoados. Aqueles que sobreviveram foram obrigados a abandonar sua língua e hábitos culturais”, explica João Pacheco.

O antropólogo destaca que, além da equipe do Museu Nacional e da embaixada do Brasil na Dinamarca, os representantes tupinambás desempenharam um papel fundamental no retorno do manto. Prevê-se que eles continuem a participar ativamente da curadoria da peça e contribuam para o desenvolvimento das melhores formas de exposição ao público. Estudiosos indígenas já têm contribuído para ampliar o conhecimento sobre esse tipo de vestimenta.

“Fontes do século 16 descrevem o manto como parte de um ritual político antropofágico, quando prisioneiros eram sacrificados. Essas fontes retratam guerreiros usando o manto. No entanto, os pesquisadores indígenas afirmam que os mantos não eram usados apenas pelos guerreiros, mas também pelas mulheres em ocasiões ritualísticas específicas”, disse Pacheco.

“Certamente, trata-se de uma peça extremamente solene, que não fazia parte do cotidiano. O artesão que a produziu pode ter levado meses, ou até mesmo mais de um ano, para criar algo dessa magnitude”, acrescentou.

Cooperação entre museus

O Museu Nacional da Dinamarca e o do Brasil também negociam acordos de cooperação em iniciativas educacionais. Um dos projetos já previstos é a digitalização da coleção brasileira que está na instituição europeia. Quanto ao acervo físico, o diretor do Museu Nacional Alexander Kellner diz que há um empenho para a instituição receba novas peças de valor histórico, como o manto tupinambá. Mas lembra que o país precisa investir constantemente no cuidado do seu patrimônio.

“Estamos pleiteando junto ao Ministério da Educação que no orçamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que é responsável pelo Museu Nacional, seja colocada uma linha orçamentária para manutenção e funcionamento do prédio e do acervo. Temos que mostrar ao mundo que nós sabemos fazer melhor, que nós vamos cuidar dessa e de outras peças que vamos receber”.

Segundo ele, o incêndio que destruiu o museu, em 2018, arranhou a imagem do país. Kellner entende que o Brasil tem a oportunidade de mostrar que aprendeu com a tragédia e merece repatriar outras peças. “E um dos pontos importantes é oferecer melhores normas de segurança para os visitantes e para o nosso patrimônio”.

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