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Cinema

Identidade e território marcam o terceiro dia do Festival de Brasília

A Mostra Competitiva Nacional do Festival de Brasília seguiu explorando narrativas conectadas por três documentários que se entrelaçam em temas complementares

Tamires Rodrigues

03/12/2024 23h41

Atualizada 04/12/2024 1h29

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Foto: Tamires Rodrigues/Jornal de Brasília

O terceiro dia da Mostra Competitiva Nacional do 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, realizado na última terça-feira (3) no Cine Brasília, trouxe obras que mergulham em histórias profundas de ancestralidade e território.

O destaque da noite foi o longa-metragem mineiro Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, dirigido por Sueli Maxakali, Isael Maxakali, Roberto Romero e Luisa Lanna. O filme explora vivências e memórias dos povos indígenas, conectando passado e presente em uma narrativa sensível e potente que emocionou o público.

Na programação, também estiveram presentes os curtas Mar de Dentro, da pernambucana Lia Letícia, e Confluências, da diretora e professora de audiovisual da UnB, Dácia Ibiapina. Cada um, à sua maneira, contribuiu para a diversidade temática da mostra, refletindo questões que dialogam com o coletivo e o íntimo, sempre com uma abordagem cinematográfica marcante.

“Ditadura não acabou para o nosso povo”, diz Sueli Maxakali, co-diretora de Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá

Em entrevista ao Jornal de Brasília, Sueli Maxakali, co-diretora do longa Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, reflete sobre os desafios de abordar a busca por Luiz Kaiowá em um contexto de memórias e marcas deixadas pela ditadura militar no Brasil. O filme, destaque no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, percorre narrativas indígenas e territoriais, ecoando vozes ancestrais.

Ao falar sobre o impacto da ditadura em comunidades indígenas, Sueli foi enfática: “Para nós, a ditadura não acabou. É uma marca que levamos para o resto da vida. Nosso povo ainda enfrenta prisões, violências e lutas constantes pelo direito aos territórios. É como se estivéssemos lutando contra as fronteiras que começaram com os portugueses.” Ela destacou também a resistência do povo Maxakali e de outros povos indígenas, que ainda vivem as consequências de décadas de opressão.

A montagem do filme se apresenta como um espaço de respeito às narrativas indígenas, integrando os cantos e rituais que carregam a memória dos ancestrais. Para Sueli, essa escolha foi essencial: “Todas as nossas produções têm a força do nosso Nyamin, os espíritos que acreditamos e respeitamos. Mesmo com a natureza sendo destruída, carregamos na memória a presença dos nossos espíritos.”

Percorrendo quatro territórios indígenas, a produção do longa reforça a conexão profunda entre terra, memória e identidade, mostrando o que Sueli descreve como “a força da luta pelo território e pela nossa mata”. Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá é uma obra que une denúncia e poesia, destacando a resiliência dos povos originários em tempos de constantes desafios.

Narrativas de resistência e cultura marcam curtas na Mostra Competitiva Nacional

Os curtas-metragens complementaram a programação da noite. “Confluências”, dirigido por Dácia Ibiapina, e “Mar de Dentro”, de Lia Letícia, exploram as histórias de comunidades marginalizadas e as relações de poder que atravessam a sociedade brasileira, proporcionando ao público uma reflexão profunda sobre os legados culturais e as lutas por justiça.

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Foto: Tamires Rodrigues/Jornal de Brasília

Dácia Ibiapina encontrou inspiração para “Confluências” ao conhecer o quilombo Saco Curtume por meio de Antônio Bispo dos Santos, figura central do filme. “Ele tinha muitas ideias e queria que filmes fossem feitos lá. A partir disso, criamos o projeto”, explicou a diretora em entrevista ao Jornal de Brasília. O curta mergulha nos modos de vida quilombola, captando práticas culturais autênticas e a conexão profunda com o território. Para Dácia, o público tem liberdade de dialogar com o filme ao seu modo: “Toda forma de apreciação é importante”.

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Foto: Tamires Rodrigues/Jornal de Brasília

Já Lia Letícia, com “Mar de Dentro”, nos leva a Fernando de Noronha para narrar a história de Preto Sérgio, que enfrentou injustiças ao ser preso na colônia penal da ilha. O curta conecta a trajetória do protagonista com as dualidades do “mar de fora” e do “mar de dentro”, metáforas que refletem as hierarquias políticas do Brasil. Lia destacou a potência simbólica da narrativa: “Preto Sérgio, mesmo em meio a adversidades, tomou atitudes que, no contexto, podiam parecer incorretas, mas mostraram ao final que ele estava correto. É um clamor por liberdade”.

O 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ocorre de 30 de novembro a 7 de dezembro no Cine Brasília e nos espaços culturais do Gama, Planaltina e Taguatinga.

Os ingressos para a mostra competitiva no Cine Brasília custam a partir de R$ 10, e as demais exibições têm entrada gratuita.

SERVIÇO
57o FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
Data: Até 7 de dezembro
Local: Cine Brasília (106/107 Sul), Cia. Lábios da Lua (Gama), Centro Universitário Estácio (Pistão Sul, Taguatinga) e Complexo Cultural de Planaltina.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) somente para as sessões da Mostra Competitiva Nacional no Cine Brasília. Entrada franca mediante retirada prévia de ingressos para as demais sessões.
Programação completa: festcinebrasilia.com.br

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