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Celebridades

Samba de Chico Buarque afasta mutreta, e músico sai ovacionado de estreia de show em São Paulo

No show, assim como já tinha feito no Rio de Janeiro, ele brincou sobre seu jeito de tocar violão e sobre às vezes esquecer as próprias letras

FolhaPress

03/03/2023 10h58

Imagem: Reprodução/Instagram

Lucas Brêda
São Paulo – SP

Chico Buarque recebeu aplausos incessantes na estreia de sua atual turnê, “Que Tal um Samba?”, em São Paulo. O cantor se apresentou na noite desta quinta-feira (2), na primeira de 18 apresentações com ingressos esgotados no Tokio Marine Hall, casa de espetáculos localizada na zona sul da cidade.

Chico ficou calado durante praticamente todo o show, até a reta final, quando apresentou sua banda e resolveu tirar sarro de uma polêmica recente. Isso porque uma juíza questionou se ele era o verdadeiro autor da música “Roda Viva”, depois que cantor processou Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL, por usar a canção em um vídeo na internet.

No show, assim como já tinha feito no Rio de Janeiro, ele brincou sobre seu jeito de tocar violão e sobre às vezes esquecer as próprias letras. Afirmou que queria colocar um teleprompter para lhe auxiliar no palco, mas ouviu que não seria uma boa ideia -afinal, iriam desconfiar que ele não era realmente o compositor das canções. “Como é que eu vou provar?”, disse.

Depois, disse que já leu coisas horríveis a seu respeito na internet, mas ficou encucado com essa história em especial -a de que ele comprava suas composições. “Não compro música. Mas posso vender”, brincou, puxando o refrão de “Bancarrota Blues”.

O show foi inteiro dividido entre Chico e a cantora Mônica Salmaso -ora juntos, ora separados. Ela começou no palco, cantando uma sequência que teve “Todos Juntos”, trilha dos Saltimbancos, “Mar e Lua”, que retrata um trágico romance lésbico, “Bom Tempo” e “Beatriz”, antes da estrela da noite surgir em “Paratodos”.

A música, que marca o processo de urbanização das grandes cidades do país e é uma ode ao artista brasileiro, foi bastante celebrada, com Chico saudando a plateia. Foi um “boa noite” tímido, com o cantor evitando interações com o público.

Assim como boa parte de sua poética, “Paratodos” celebra as misturas que compõem a cultura brasileira, ideia que se repete no repertório. Em “Sinhá”, a personagem da letra chora em iorubá, mas ora para Jesus.

Juntos, Chico e Salmaso protagonizaram momentos de puro entrosamento, com as vozes se complementando num mesmo verso, ou cantando coisas diferentes. Foi o caso de “Sem Fantasia” e “Biscate”, cantadas em sequência.

Acompanhado por uma banda extremamente técnica, Chico intercalou momentos de contemplação com outros de maior balanço. A percussão, minimalista na maior parte do show, por vezes se multiplicava, com o tamborim servindo como uma lembrança da batida clássica do samba -base da bossa nova e de grande parte de seu repertório.

Mesmo nos momentos mais animados, foi difícil ver a plateia em êxtase. Isso se deve à estrutura do show, apenas com pessoas sentadas em mesas, garçons transitando entre elas e pessoas repreendendo quem gritava ou queria cantar mais alto. É uma atmosfera que fica entre o teatro e o restaurante, algo que já é comum em turnês de gigantes da MPB.

Os gritos, principalmente os de “lindo” e “gostoso”, ficaram para os intervalos entre as performances. As palmas vieram quando ele brincou com a juíza que questionou sua autoria de “Roda Viva” e na reta final da apresentação.

A plateia cantou junto em “Choro Bandido” e “Sob Medida”, com Chico sentado empunhando o violão. Também em “Bastidores” e “Mil Perdões”, composição de Chico que Gal Costa, homenageada com sua foto no telão, gravou nos anos 1980.

No palco, cada música foi acompanhada por uma fotografia de nomes como Sebastião Salgado e Thereza Eugênia que conversava com o tema da canção. Seja pela arquitetura do palco, com formas geométricas ao fundo, seja pela iluminação, na maior parte do tempo foi difícil entender de que imagem se tratava.

O universo de romances intensos e confusos, de um Rio de Janeiro multifacetado e de um Brasil colorido, surgiram em “Samba do Grande Amor”, “Injuriado”, “Futuros Amantes”, “Assentamento” “Tipo um Baião” e “As Minhas Meninas”.

O horror racista de “As Caravanas”, temperada por uma batida de funk, veio logo depois de “Meu Guri”, uma lembrança de Elza Soares, que gravou a música, e emendada na perturbante “Deus lhe Pague”.

“Que Tal um Samba?”, o single lançado ano passado que dá nome à turnê, abriu a sequência final, que também teve citações a Vinicius de Moraes, com “Samba da Benção”, e a Dorival Caymmi, com “O Samba da Minha Terra”. Miúcha, irmã de Chico que morreu em 2018, foi lembrada por ele na música “Maninha”.

Mesmo bastante comportada, a plateia chegou a se levantar e cantar a plenos pulmões “João e Maria”, que botou ponto final no show. Chico saiu cumprimentando a parte do público que foi até o palco.

Amigo e eleitor do presidente Lula, do PT, Chico deixou os acenos políticos ao repertório, e o público tampouco puxou gritos a favor do petista ou contra seu antecessor. Saiu do palco ovacionado, como se seu samba tivesse afastado a mutreta, a cascata e a demência, como anuncia na música que motiva a atual turnê.

Na estrada desde o ano passado com o show “Que Tal um Samba?”, Chico ainda faz outros 17 shows no Tokio Marine Hall, entre março e abril. Sua primeira turnê desde 2018 já passou por dez capitais antes de chegar a São Paulo.

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