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Celebridades

‘Ganhar muito menos do que jovens brancos é um absurdo’, diz ator de ‘Bacurau’

Wilson Rabelo tem 45 anos de carreira, mais de 40 novelas e séries no currículo e um sólido caminho percorrido no teatro

FolhaPress

22/06/2022 9h08

Wilson Rabelo tem 45 anos de carreira, mais de 40 novelas e séries no currículo e um sólido caminho percorrido no teatro

Foto/Reprodução

Foi curioso. Na mesma tarde em que o ator Wilson Rabelo, 64, conversava com à Folha de S.Paulo sobre a falta de oportunidade na TV para atores negros de sua geração e também sobre o abismo salarial que o separa de jovens e inexperientes artistas brancos, eis que é divulgada a notícia: a influenciadora Jade Picon, 20 anos e 20 milhões de seguidores no Instagram, havia sido confirmada como uma das protagonistas de “Travessia” (Globo), nova novela de Gloria Perez.

Jade não é atriz e sequer tem registro profissional, o que a impediria de atuar. Mas a ela foi concedida uma autorização especial para que fizesse parte do elenco da trama, em horário nobre. Wilson tem 45 anos de carreira, mais de 40 novelas e séries no currículo e um sólido caminho percorrido no teatro.

Ele trabalhou na série “Dom”, na Globoplay, e no longa “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho, dois dos maiores sucessos do audiovisual nacional nos últimos tempos, e vai fazer uma participação na novela “Mar do Sertão” (Globo), próxima a ocupar a faixa das 18h. “É mais um papel pequeno, como todos os que fiz na TV”, reclama. “Me sinto profundamente desrespeitado e quero ganhar o que mereço”, diz.

Leia abaixo a entrevista que Wilson concedeu à Folha de S.Paulo:

PERGUNTA – Negros continuam tendo menos oportunidade na TV? Este panorama não melhorou com o tempo?

WILSON RABELO – Salvo algumas exceções -atores que merecem ser protagonistas e conseguiram chegar lá, como o Fabricio Boliveira, o Lázaro Ramos-, continua sendo muito mais difícil para nós conseguirmos bons papéis e uma remuneração justa. Me sinto profundamente desrespeitado ao ver brancos que começaram agora ganhando muito mais do que eu.

P. – Mas apostar em novos nomes não é prática comum na indústria do entretenimento?

WR – Olha, eu não sou uma estrela, tenho noção do meu lugar e não romantizo na hora de ganhar dinheiro. Mas um jovem branco ganhando papel de destaque pressupõe um background e uma experiência que ele não tem. Queria saber qual o critério na hora de escalar e precificar a remuneração, apesar de estar consciente de que agora há outras formas de qualificação profissional na hora de aferir o salário.

P. – Que outras formas?

WR – Ter participado do Big Brother Brasil, por exemplo. O Babu Santana é um excelente ator e só melhorou o salário dele depois de entrar no BBB. Eu fiz muito teatro, peças importantes como “Calabar, o Elogio da Traição” [de Chico Buarque e Ruy Guerra]; “Rasga Coração”, último espetáculo do Vianninha [Oduvaldo Vianna Filho], interpretei Cartola no “Por Toda a Minha Vida”… Hoje sou um velho e só fui fazer sucesso aos 62 anos, com “Bacurau”. Mesmo assim não consegui aumentar o meu preço, estou nessa briga agora.

P. – Na prática, como você tenta combater a injustiça salarial no audiovisual?

WR – Denunciando essa estrutura e não aceitando mais o desrespeito pelo meu trabalho. Agora tenho consciência do meu valor e me juntei a esse novo movimento negro, jovens artistas que estão peitando essa situação, não aceitam o que aceitei. Estou pegando um pouco do punch que eles têm, não estou mais isolado.

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