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Celebridades

Beth Goulart fala da perda da mãe, Nicette Bruno: ‘Éramos muito unidas’

Na semana passada, Beth representou a família na homenagem feita a Nicette no Prêmio São Sebastião de Cultura, no Rio

Redação Jornal de Brasília

25/01/2021 8h49

Por Adriana Del Ré
Beth Goulart aparece na tela do Zoom. Está em sua casa, em um condomínio no bairro do Recreio, no Rio, de onde conversa com o jornal O Estado de S. Paulo. Sua fala é doce e seu semblante, sereno. Mas inevitavelmente a tristeza vem à tona quando ela se lembra da mãe, a atriz Nicette Bruno, que morreu aos 87 anos, há pouco mais de um mês, no dia 20 de dezembro, após perder a batalha contra a covid-19. A voz embarga, a saudade bate forte. Difícil não se emocionar com Beth. Afinal, Nicette era uma espécie de membro da família de cada brasileiro.

Foram décadas encantando gerações, ao interpretar os mais diversos personagens na TV. “Era a mãe de todos”, define a filha, também atriz. Difícil não se entristecer junto com Beth. Afinal, o desfecho trágico da vida de Nicette foi o mesmo dos outros mais de 216 mil brasileiros que também não sobreviveram ao coronavírus.

“Éramos muito unidas, fazíamos aulas juntas, viajávamos juntas. Eu colocava a mamãe muito na minha vida. Isso dava uma intimidade muito grande entre nós. É claro que sinto falta dela, é claro que eu adoraria recebê-la: ‘Mãe, vem almoçar comigo’. Não vai poder mais almoçar comigo”, diz, emocionada.

Na semana passada, Beth representou a família na homenagem feita a Nicette no Prêmio São Sebastião de Cultura, no Rio. “Ainda estou sensível, estou sentindo falta da presença dela aqui. Mas a presença dela está tão aqui no meu coração sempre. Então, cada vez mais essa dor vai ser substituída por uma imensa gratidão, pelos momentos maravilhosos que vivemos juntas, pelo humor. Mamãe era uma mulher muito alegre, muito feliz.”

Nicette morava no mesmo condomínio que ela. Aliás, conta a atriz, a mãe chegou a realizar o sonho de ter os filhos – Beth e seus irmãos, os atores Paulo Goulart Filho e Bárbara Bruno – morando perto dela. Ela cumpria isolamento à risca havia 10 meses. Esperava a vacina chegar.

Não deu tempo. Recebeu um parente, que, sem saber que estava contaminado, acabou transmitindo o vírus para ela e para outras pessoas da família, como o próprio Paulo Goulart Filho. Beth e Bárbara não pegaram covid. “Foi extremamente rápido. Foram 21 dias desse processo. Ela foi entubada. Ela começou três dias sem nada. Achou que até estaria assintomática. Mas no 5.º dia começou a febre, começou o processo. Mamãe tinha 87 anos, era diabética, tinha colocado um stent. O médico falava assim: ela não pode pegar, porque ela é a tempestade perfeita. Se pegasse, tudo indicava que teria um desenvolvimento mais grave da doença. Por isso, tomávamos todos os cuidados. Mas, enfim, imprevistos acontecem, como no caso aconteceu.”

Beth fala do sentimento de impotência por se tratar de “uma doença muito cruel, porque isola o doente e também isola a família”. “As coisas foram se agravando dia a dia. Então, nesse momento, se você não se alimenta de fé, de uma confiança no poder superior que vai acontecer o que for melhor para ela. Chegou uma hora que eu já orava para isso: ‘Mãe, que seja o melhor para você’.”

O espiritismo, que é seguido pela família, de certa forma, dá a eles as explicações, o alento. “Não existe perda sem dor, nós passamos por isso, sim, mas temos um entendimento maior de que a morte não é o fim, é um novo começo, é um novo nascimento para uma outra dimensão de existência. Isso já nos dá uma certa tranquilidade de que ela terminou um ciclo, o ciclo terreno dela, e iniciou um novo ciclo espiritual. A mamãe, que era uma mulher profundamente espiritualizada, consciente, nos passou essa consciência”, diz Beth, que perdeu o pai, o ator Paulo Goulart, em 2014 – ele e Nicette foram casados por mais de 60 anos.

Beth diz que reza pelo parente que passou covid para a mãe. “É um pouco você lidar no seu coração com o sentimento do perdão. Perdoar é amar em dobro, é você aceitar que as pessoas erram, que às vezes as pessoas são inconsequentes. São dificuldades do processo de cada pessoa, que a gente tem que orar, sim, para que essa pessoa tire uma lição disso, que não tenha sido em vão essa situação, que traga uma consciência, um chamamento: ‘Preste atenção, houve consequências da sua atitude’. Por mais que tenha causado dor, quem somos nós para julgar?”

Alerta.

Beth completa nesta segunda, 25, 60 anos de idade. Há 10 anos trabalhando na Record TV, ela está na novela bíblica Gênesis, que estreou no último dia 19.

A atriz começou a gravar em novembro, seguindo os protocolos de segurança, mas as cenas de sua personagem, Jaluzi, a rainha de Sodoma, só estão previstas para ir ao ar a partir do capítulo 53 Isso porque a novela, escrita por Camilo Pellegrini, Raphaela Castro e Stephanie Ribeiro, é dividida em sete fases: Criação; Dilúvio; Torre de Babel; Ur dos Caldeus; Abraão; Jacó e José. São mais de 250 atores no elenco.

“É sobre a origem do homem na Terra, da relação dele com a Terra, com Deus, com a própria natureza, consigo mesmo. E aí, a partir do momento que ele conhece o mal, como é que ele desenvolve esse bem e mal dentro dele, e fora dele, como isso se manifesta nas relações que ele estabelece com a própria natureza, com a família que ele começa a construir, com as vontades próprias, com a vontade do Criador. Como lidar com isso no desenrolar da história de uma civilização”, conta ela. “Acho que essa novela é necessária neste momento. A humanidade se perdeu de si mesma. É bom você lembrar das origens, de como tudo começou, como o homem se conectou com Deus, como se perdeu dessa conexão. Acho interessante essa reflexão.”

Sua Jaluzi reina em Sodoma, a cidade dos excessos – e, por isso, teria sido destruída pela ira de Deus, assim como Gomorra. “São personagens amorais. Ela mata com uma facilidade, acha que é tudo normal. Agora, é um personagem maravilhoso, porque ela é multifacetada, é divertida, é terrível, mas, ao mesmo tempo, também tem suas fragilidades, é um personagem que vai do ápice até virar prisioneira. Ela perde esse poder. As pessoas vão poder acompanhar um pouco a trajetória desse personagem, e como ela se perde em si mesma”, antecipa a atriz, que aponta alguns destaques da superprodução, como o cenário virtual do palácio e os números musicais.

Em suas redes sociais, Beth costuma compartilhar notícias de seus trabalhos, bem como pensamentos e mensagens. A atriz usou também esses espaços para deixar os fãs de Nicette a par de seu estado de saúde durante o período em que esteve internada. “Acabei naturalmente dividindo com as pessoas o processo todo que ela viveu, e percebi que isso ajudou muita gente que estava vivendo isso, que não sabia muito como viver isso, e que se sentia, de certa forma, amparada por alguém que também estava passando por isso.”

O caso de Nicette acabou sendo um alerta. “Muita gente falou: ‘Depois que aconteceu com sua mãe, a minha mãe aceitou ficar sozinha, aceitou não ir junto’. Porque é claro que a mamãe também, de certa forma, permitiu, porque teve saudade, ela estava havia quase um ano nesse processo. A gente sabe que não é fácil para ninguém. Às vezes, você abre a guarda. Não abra a guarda, falta tão pouco, a vacina está aí”, diz. “Não pense só em você, aquele momento imediatista: ‘Quero ir à festa neste momento, não importa o resto’. Claro que importa. Você não vai levar só para dentro da sua casa. Vai estar passando o vírus para qualquer pessoa que cruze com você. Mude sua postura.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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