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Cinema

“Aves de Rapina” alça voo para nova fase da DC Comics

Leonardo Resende

06/02/2020 12h08

As protagonistas de Aves de Rapina. Foto – Divulgação

Não há como fugir. O subgênero – atualmente quase uma categoria completamente nova – de adaptações de quadrinhos é um campo em crescimento e por mais que fãs declarem saturação, os cofres dos estúdios apontam o contrário: saturação, para um produtor, é sinônimo de esquecimento do gênero, algo que, atualmente, está está bem distante de acontecer. Porém, para o público, o contexto é oposto. Quase ninguém consegue acompanhar os inúmeros lançamentos anuais. Por isso, inovar, trazer novas roupagens e perspectivas é o verdadeiro know-how dessa vertente cinematográfica. Aves de Rapina (E a Fantabulosa Emancipação da tal Arlequina), que estreia nos cinemas da cidade hoje, é esse novo aspecto necessário que o gênero tanto necessita.Arlequina (Margot Robbie), Canário Negro (Jurnee Smollett), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Cassandra Cain e a policial Renée Montoya (Rosie Perez) formam um grupo inusitado de heroínas. Quando um perigoso criminoso começa a causar destruição em Gotham, as cinco mulheres precisam se unir para defender a cidade.

É fático que a DC Comics começou trilhando caminhos bem ruins no início (Vide Esquadrão Suicida e Liga da Justiça). Tentar emular a fórmula da concorrente – que possui uma cultura de personagens bem mais limitada e cartunesca – foi uma das piores ideias que a Warner Bros. poderia encontrar para ganhar o gosto do público. Por se basear na Arlequina, Aves de Rapina pode ser recebido com certo ceticismo devido ao fiasco de Esquadrão Suicida. Porém, conseguiram unir os melhores elementos (que são poucos), incluindo Margot Robbie, e potencializaram um filme que emana a verdadeira identidade da DC Comics, fugindo de qualquer aparência da concorrente.

Margot Harley Quinn Robbie. Foto – Divulgação

Aves de Rapina não é o primeiro que alça um voo incrível de personalidade. Depois das interferências nos roteiros de Zack Snyder e David Ayer, os produtores deixaram os diretores tomarem suas decisões criativas de forma autônoma. Dirigido por Cathy Yan (dramédia indie Dead Pigs), esse filme aparenta ter toda a independência criativa que todo filme de heróis precisa. E graças a isso, Yan alcança um nível estupendo de criatividade, que pode ser justificado com as cores, trilha sonora e a – deliciosamente filmada – violência.

Ewan McGregor (outro ponto altíssimo do filme) como Máscara Negra: violento e divertido na medida certa. Foto – Divulgação/Warner Bros.

Definitivamente não é um filme para crianças, as protagonistas quebram pernas, pescoços e joelhos. Há cenas de esfolação, muitos palavrões e um senso de humor ácido nunca visto nos títulos da DC. Ou seja, tudo que Esquadrão Suicida deveria ter sido ou tentou ser, Aves de Rapina alcança sem muitos esforços. Yan soube equilibrar muito bem suas referências cinematográficas dentro desse filme, fazendo uma mistura de Quentin Tarantino, filmes de policial (em formato paródia) e heróis.

O fator Harley Queen

Nem mesmo Bruce Timm, criador da Harley Quinn, tinha noção da dimensão e impacto cultural que sua personagem causaria entre os fãs. Criada para a série animada dos anos 1990, a vilã foi desenvolvida apenas como um braço direito do Coringa, não recebendo muito destaque durante as temporadas. Entretanto, a personagem foi notada pelos fãs e foi ganhando espaço ao longo do desenvolvimento da série, onde sua história foi contada em Amor Louco.

Os primórdios de Harley: dentro de um relacionamento abusivo e apresentações sexualizadas da personagem. Foto – Divulgação/Internet

Nos quadrinhos, ela apareceu em Esquadrão Suicida e posteriormente com uma franquia somente sua, tendo uma parceria muito querida com Hera Venenosa. Hoje, sob a pele da atriz Margot Robbie (quem provou com este novo filme que nasceu para interpretar a personagem), esta rainha vilanesca é um dos maiores feitos da Dc Comics. O que deixa os fãs sonharem com filme das Sereias de Gotham, que conta com Hera Venenosa, Mulher-Gato e a própria Harley.

As Sereias de Gotham: o sonho de todos fãs depois de verem Aves de Rapina. Foto – Divulgação/Panini

Afinal, de quem é o filme?

Durante a campanha de marketing do filme, muitos internautas questionaram: É um filme das Rapinas ou da Harley? O roteiro de Christina Hodson (Bumblebee) ausenta qualquer preocupação dessas indagações. A habilidade de Hodson para desenvolver diametralmente cada personagem é muito sucinta e eficaz com a direção alucinógena de Yan. Uma parceria incrível de mulheres (tanto nas câmeras e bastidores). Por isso, a resposta seria: de todas.

As protagonistas de Aves de Rapina. Foto – Divulgação

Em suma, por mais que Aves de Rapina retrate com muitos elementos lúdicos, em certos momentos, é uma alegoria do que Hollywood tem feito com diretoras: a todo momento, elas vivem (e sobrevivem) em corriqueiras emancipações com produtores homens para realizar um filme. Quando a Canário Negro canta It’s a Man’s Man’s Man’s World, de Tom Jones, Yan expõe sua verdadeira mensagem com o filme: é sim, de fato, uma Hollywood dominada por produtores e diretores, mas não seria nada sem uma mulher.

Cathy Yan dirigindo Margot Robbie: a verdadeira emancipada do filme, ser diretora. Foto – Divulgação.

 

Por Leonardo Resende

@leonard0resende

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