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Economia

Vitória de Biden pode congelar acordos comerciais com o Brasil

O próprio acordo de facilitação de comércio assinado em outubro entre os dois países não deve ser afetado se Biden for eleito

Marcus Eduardo Pereira

06/11/2020 18h31

A vitória do candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, deve colocar na geladeira negociações de novos acordos comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos. A avaliação de fontes do governo e do setor privado ouvidas pelo Estadão/Broadcast é de que, ao menos em um primeiro momento, a mudança na administração paralisará conversas que vinham avançando com o governo Donald Trump e culminaram na assinatura, há duas semanas, de um acordo de facilitação de comércio.

Os negociadores brasileiros têm na lista outros entendimentos que vêm sendo discutidos com os norte-americanos, como de eliminação de dupla tributação, investimentos e compras governamentais. Pelo lado brasileiro, o sonho é um acordo de livre comércio entre os dois países, que pode ficar mais distante no governo democrata.

A expectativa é que a mudança do partido no comando da principal economia do mundo coloque as negociações com o Brasil em espera por dois motivos. Primeiro, pelo fim do “alinhamento automático” que existe entre os governos do presidente Jair Bolsonaro e o colega norte-americano Donald Trump e que ajudou a abrir portas de órgãos norte-americanos e possibilitou o avanço do acordo comercial.

O Acordo de Comércio e Cooperação Econômica vinha sendo negociado desde 2011, mas estava em hibernação até a eleição de Bolsonaro, com a retomada das negociações em março do ano passado. Sem essa “ordem do andar de cima”, a expectativa é que negociadores americanos não priorizarão encontros e agendas com os brasileiros, como vêm fazendo no atual governo.

Além disso, há razões práticas para que as negociações sejam congeladas, como o foco em questões domésticas que a administração democrata tende a ter no início do governo “O primeiro ano do mandato do Biden será muito centrado na política interna. A agenda comercial com os principais parceiros vai demorar um pouco mais para ser retomada, não só com o Brasil como para outros países”, afirma o vice-presidente da Câmara Americana de Comércio (Amcham), Abrão Árabe Neto.

Apesar de o fechamento dos acordos ficar mais longe, a avaliação de envolvidos nas negociações é que elas não serão enterradas. A expectativa é que Joe Biden, atuante na área de comércio exterior durante suas passagens pelo Senado e como vice-presidente dos Estados Unidos, terá uma posição pragmática e manterá a intenção de manter por perto antigos aliados. Mas em novos termos.

“Não acho que as portas serão fechadas. Mas será necessário construir novas pontes. Se houver a mudança de administração, hoje comércio e meio ambiente, que são tratados de maneira separada na relação bilateral, passarão a ser dialogados de maneira conjunta, o que será mais um desafio para o Brasil”, completa Neto.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson de Andrade, a indústria brasileira tem bom histórico de relacionamento com candidatos republicanos e democratas e, independentemente do resultado das eleições, há uma oportunidade para a negociação de “uma agenda ambiciosa” de acordos entre o Brasil e os Estados Unidos.

“O setor privado tem grande expectativa para o início das negociações dos acordos de livre comércio e para evitar a dupla tributação. Também defende um diálogo para a remoção de barreiras ao comércio e aos investimentos entre os dois países”, completa.

O próprio acordo de facilitação de comércio assinado em outubro entre os dois países não deve ser afetado se Biden for eleito. O entendimento ainda não entrou em vigor e depende da aprovação do Congresso Nacional brasileiro, o que não deve ocorrer em menos de um ano, em uma estimativa otimista.

Em tese, Biden poderia revogá-lo, mas a avaliação de representantes da área é que isso dificilmente ocorreria, já que se trata de um acordo de desburocratização de regras, que tem o apoio do setor privado e não entra em temas polêmicos.

Ainda neste mandato de Trump, brasileiros e americanos terão ainda que se debruçar sobre a tarifação de etanol e aço, dois temas em que foram adiados para depois das eleições. Nos dois casos, o comércio está sendo feito com base em cotas de isenção, mas há expectativa de uma decisão permanente sobre como será tarifado o aço brasileiro nos EUA e o etanol norte-americano no Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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