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Brasília

Violência doméstica: frear por meio da educação

Órgãos se juntam e planejam diálogo com agressores para tentar solucionar o problema

Redação Jornal de Brasília

08/02/2021 6h25

Mayra Dias
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Uma possibilidade de os homens reconhecerem os vários tipos de violência cometidos contra a mulher.

É assim que Daniele Alcântara, coordenadora de Políticas de Prevenção de Crimes contra a Mulher e Grupos Vulneráveis (Senasp/MJSP) define o projeto de pesquisa “Enfrentando à Violência perpetrada por Parceiro íntimo (VPP): Avaliando Intervenções com Homens Perpetradores versus Mulheres Vítimas”, que recebeu, na última semana, um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) por parte do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

O projeto, que foi apresentado pela Universidade Federal do Ceará, pelo Coordenador Professor Doutor José Raimundo, será desenvolvido por um consórcio de cientistas e coordenado pela instituição. O objetivo, dessa forma, é desenhar, desenvolver, implementar e avaliar os impactos, em variáveis socioeconômicas e criminológicas, de intervenções com parceiros.

O resultado, por sua vez, irá ajudar no aperfeiçoamento do atendimento, pelo Poder Público, de mulheres vítimas de violência. “O ACT visa prover apoio técnico e institucional para o desenvolvimento do Projeto de Pesquisa”, diz Daniele Alcântara.

Violência no DF

Como mostram os dados disponibilizados pela Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), entre janeiro e setembro de 2020, a capital registrou 11.628 casos de Violência Doméstica. O número, no entanto, é menor que em 2019, quando tiveram 12.107 casos.

Os crimes de feminicídio no ano passado também apresentaram queda. Tratando-se do mesmo período de 2020, 13 crimes de feminicídio ocorreram, representando 13 a menos que no ano anterior. O documento da pasta mostrou que, neste ano que acabou, 409 crimes de estupro ocorreram no Distrito Federal.

Conforme afirma a delegada Anie Rampon Barreto, a colaboração da PCDF se dará justamente na medição desse impacto. “Fornecendo dados de antecedentes criminais e outras informações relativas aos sujeitos da pesquisa que aceitem participar do projeto e desde que expressamente autorizado”, explica Anie.

Bom exemplo

A coordenadora da Senasp/MJSP, todavia, relembra que o Brasil possui uma das melhores legislações de proteção à mulher, e que a esfera da segurança pública tem atuado por meio de suas organizações. Contudo, Daniele acredita que o novo projeto será de extrema relevância para esse enfrentamento. “O diálogo, com certeza, passa pela conscientização de que ‘ser violento’ não é uma opção coerente para uma sociedade que se pretende democrática, justa, humanitária e preocupada com as mulheres, e assim atuaremos”, finaliza.

A coordenadora destaca que o processo acontecerá por meio da definição, da testagem e da validação de metodologias de “Grupos reflexivos de homens” e de Curso de Conscientização em Gênero e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, ‘CÍRCULOS DE MARIA: cuidado e autocuidado para o bem viver de mulheres’. “Tivemos diversas reuniões com os parceiros neste ACT, até que conseguimos finalizar o acordo para que o projeto pudesse ter início”, completa. O projeto-piloto acontecerá na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e terá início ainda este mês.

Metodologia

O método como o trabalho será aplicado foi desenvolvido pela equipe do Núcleo Judiciário da Mulher – NJM/TJDFT. Na prática, acontecerão seis encontros semanais com duração de duas horas cada. Os grupos serão formados por 15 homens, e, nesses momentos, serão trabalhados temas como sistema de crenças, mitos e masculinidades, gênero e violência contra a mulher, habilidades relacionais, a Lei Maria da Penha e auto responsabilização.

“Enfrentando à Violência perpetrada por Parceiro íntimo

Como avalia a psicóloga e pesquisadora do Grupo Saúde Mental e Gênero (CNPQ-UnB), Maisa Guimarães, já se tem confirmação de eficácia do método com outras iniciativas pelo país, o que faz a profissional acreditar na sua funcionalidade. “Já existem diversas iniciativas a nível nacional e internacional que realizam trabalhos de responsabilização e reeducação com homens autores de violência doméstica contra mulheres”, argumenta. Maisa revela que, nos últimos anos, diversos estudos e pesquisas têm sido realizados em relação a tais intervenções, indicando que essas iniciativas estão relacionadas a diferentes fatores.

“A compreensão da violência a partir de uma perspectiva de gênero; uma leitura crítica a respeito das masculinidades, entendendo que os padrões tradicionais do que se atribui e se legitima como masculino são muito associados a questões de agressividade, de autoritarismo e de rigidez emocional e uma atuação em rede com outros áreas de enfrentamento à violência são alguns desses elementos”, esclarece a psicóloga. De acordo com Daniele Alcântara, é comum que casos de violência contra mulheres comecem com agressões verbais e psicológicas, avançando para a violência física até chegar ao assassinato.

Para a coordenadora, ouvir esses agressores e insistir na sua reeducação pode influenciar de forma positiva nos casos de reincidência desses crimes. “Ouvir os homens, buscando uma reeducação deles, pode contribuir para redução dos casos de repetição do erro”, disse. A representante acredita ser preciso conhecer o fenômeno da violência e, por meio de debates, possibilitar que os homens entendam a gravidade dgas consequências destas violências dentro e fora da família. “Para isso, precisamos pensar na reeducação de mulheres e homens. Todos precisam entender a violência como tal e que existem outras formas de resolver conflitos sociais”, completa Daniele.

Maisa diz que a a desigualdaderesultante da crença de um sexo superior é reflexo de cultura machista presente na sociedade.

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