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Brasília

Vídeo. Motorista arquitetou plano para matar diretora do HRT e enganar família

Arquivo Geral

30/01/2019 13h06

Gabriela Cunha. Foto: Reprodução/Facebook

Raphaella Sconetto
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Por três meses, Rafael Henrique Dutra da Silva, 32 anos, agiu livremente ao enganar família, o namorado e empregadores da médica Gabriela Miquelino Rebelo Cunha, 44 anos, que era diretora do Hospital Regional de Taguatinga (HRT). A mulher foi morta no dia 24 de outubro, mas só no dia 27 de dezembro a família procurou a polícia para registrar o desaparecimento. O caso foi elucidado nesta quarta-feira (30).

Segundo a polícia, Rafael trabalhava havia dois anos como motorista de Gabriela. A relação era de confiança, pois a mãe do homem trabalhava com a família da médica há anos, também como motorista. O filho assumiu a função depois que a trabalhadora teve câncer.

Por conta da intimidade, Gabriela deu a Rafael uma procuração pela qual ele tinha plenos poderes para movimentar contas bancárias, imóveis e outros bens dela. “No decorrer desse período, ele sacava para si pequenas quantias das contas, de modo que ela não percebesse. Algo em torno de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil”, explicado o delegado-chefe da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS), Leandro Ritt.

A relação, porém, se estremeceu quando a diretora do HRT começou a namorar um homem, identificado apenas como André, no segundo semestre de 2018. André passou a questionar a namorada sobre a liberdade que o motorista tinha. Chegou a relatar que achava “suspeitas” as atitudes de Rafael e que era inseguro ele ter acesso a tudo. Gabriela, então, pediu a procuração de volta.

“Isso gerou insatisfação a Rafael, porque ele voltou a ser apenas o motorista da Gabriela. Ele não teria mais a renda que tinha. Na mente dele, resolveu que, para ter os bens, valores das contas, precisaria matá-la. E começou a arquitetar o plano”, conta Ritt.

https://www.youtube.com/watch?v=pOBX32-STwg&feature=youtu.be

“Plano perfeito”

Rafael sabia que Gabriela tinha um compromisso em uma agência bancária de Sobradinho no dia 24 de outubro de 2018. Ele disse que a levaria. Com um comparsa, planejou que, na volta, simularia uma pane no carro, na altura de uma parada de ônibus. Era o momento em que o outro homem entraria no veículo, anunciaria o assalto e renderia a vítima. Assim fizeram.

“Naquele dia, ela trabalhou no HRT pela manhã. Foi a Sobradinho resolver o compromisso na agência. Ao voltar, Rafael disse que tinha ouvido na rádio que o trânsito estava ruim e que pegaria outro caminho, sentido Sobradinho II. Em uma parada, ele parou o carro, o comparsa entrou pela porta traseira com uma faca, e Rafael voltou ao carro fingindo ser vítima”, detalha o delegado.

Eles partiram em direção à DF-001, no caminho para Brazlândia. Na altura do km-101, pararam o carro. “O comparsa tirou a Gabriela do carro, entrou na área de cerrado e a matou no matagal”, afirma Ritt. Ainda não há informações de como a médica foi morta. Em depoimento, Rafael alegou que foi por enforcamento. Em troca do crime, o comparsa – que ainda não foi identificado – recebeu R$ 5 mil, em espécie.

Delegado fala sobre o crime. Foto: Raphaella Sconetto/Jornal de Brasília

Enganação

Dos dias 24 de outubro a 27 de dezembro, a família não desconfiou do paradeiro de Gabriela. Tudo isso porque Rafael conseguiu enganar a todos se passando pela médica. “Ele se apropriou do celular e começou a se passar por ela. Criou a história de que ela estava internada em uma clínica de repouso e só retornaria no Natal”, descreve o delegado da DRS. Segundo Ritt, a diretora do HRT já havia feito uma internação semelhante, por isso, a família não estranhou.

Durante os dois meses, Rafael movimentou cerca de R$ 200 mil da patroa. “Ele conseguiu atrasar as investigações. Nesse tempo, movimentou as contas bancárias – já a partir do dia 24 -, demitiu a empregada doméstica, rescindiu contrato de aluguel, comprou dois carros, fez rescisão contratual de outros dois empregos dela”, acrescenta. Toda a movimentação foi possível porque o motorista tinha uma cópia da procuração e ele mesmo mandava mensagens do celular de Gabriela para o dele, como se estivesse recebendo ordens.

Rafael chegou a ir até o Hospital de Taguatinga e assegurou que a médica apresentaria um atestado médico, comprovando sua internação na clínica.

Gabriela foi morta por asfixia. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Registro de ocorrência

No Natal, Gabriela não retornou. A família achou estranho, pois não tinha mais notícias da médica. No dia 27 de dezembro, familiares registraram ocorrência na 12ª Delegacia de Polícia. De lá, o caso foi encaminhado para a Divisão de Repressão a Sequestros, que iniciou as investigações no início de janeiro deste ano.

Em duas semanas de investigações, a Polícia Civil já sabia do paradeiro de Rafael. Nesta semana, ele foi preso no Itapoã. Após a prisão, o autor levou os policiais até o local onde enterrou o corpo da médica. O Instituto Médico Legal (IML) confirmou que a ossada era de Gabriela por meio da arcada dentária.

Em depoimento, Rafael confirmou e relatou todo o plano. O homem irá responder por latrocínio e ocultação de cadáver. Nas diligências, os policiais ainda encontraram na residência do autor inúmeros objetos da casa de Gabriela, além de cartões bancários e dois carros da médica.

Saiba mais

Gabriela era cirurgiã-geral, ocupava o cargo de diretora do HRT desde 6 de março de 2018, mas havia ingressado na Secretaria de Saúde em 2006. A médica morava na Asa Norte e tinha uma filha de oito anos, que em todo esse tempo ficou sob a guarda do pai.

Por nota, a Secretaria de Saúde lamentou o caso. “A Secretaria de Saúde do Distrito Federal manifesta profundo pesar pelo falecimento da servidora Gabriela Rebelo Cunha, 44 anos, vítima de homicídio em outubro de 2018, crime investigado pela Divisão de Repressão a Sequestros da Polícia Civil e divulgado nesta quarta-feira (30). A profissional, que era muito dedicada ao serviço, ingressou na Secretaria de Saúde do Distrito Federal em 10 de janeiro de 2006 e, na maior parte da carreira, atuou no Hospital Regional de Ceilândia”.

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