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Brasília

Quase 30 mulheres foram assassinadas no DF neste ano

Arquivo Geral

11/12/2018 7h00

Atualizada 10/12/2018 21h23

Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília.

Raphaella Sconetto
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Por conta de um celular, Mônica Benvindo da Costa, de 26 anos, perdeu a vida. Por suposta dívida de drogas do filho, Girlane Veras de Freitas, 38 anos, também teve o mesmo fim. Ambas moravam em Ceilândia e foram assassinadas nessa segunda-feira (10). Sem contar esses e outros possíveis casos em dezembro, o Distrito Federal registrou 27 assassinatos de mulheres neste ano até novembro. Foram 18 no mesmo período de 2017.

Segundo a polícia, Mônica Benvindo foi morta pelo namorado Wdson Luiz Santos de Souza, 23 anos, pai de dois dos seis filhos dela. A vítima foi ferida a facadas na madrugada dessa segunda-feira. Não se sabe, porém, o conteúdo do celular que motivou a briga. A 15ª DP (Ceilândia) investiga o feminicídio. O autor estava foragido até o fechamento desta edição.

Mônica e Wdson haviam se mudado para uma quitinete na última sexta-feira, localizada na QNM 20. Uma vizinha, que não quis se identificar, conta que não ouviu nenhuma briga e que os novos inquilinos teriam feito uma mudança tranquila. No mesmo local também mora o irmão do suspeito, que preferiu não dar entrevista.

De acordo com o delegado da 15ª DP, André Luis da Costa, o casal havia passado o domingo bebendo. Ao voltar para casa, teriam discutido sobre o conteúdo do celular. “Depois do desentendimento, ele pegou uma faca, desferiu golpes contra Mônica e fugiu”, conta.

“Estavam socorrendo a vítima quando o assassino voltou com outra faca. Aí ele empurrou o irmão. Deve ter pensado ‘agora vou terminar o que comecei’, e deu mais alguns golpes. A faca até quebrou”. André Luis da Costa, delegado, sobre a morte de Mônica Benvindo. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília.

O irmão de Wdson e a irmã de Mônica correram para socorrer a mulher. No entanto, o criminoso voltou para dar mais facadas contra a vítima. “Estavam os dois socorrendo a vítima quando ele voltou com outra faca. Aí ele empurrou o irmão. Deve ter pensado ‘agora vou terminar o que comecei’, e deu mais alguns golpes. A faca até quebrou. Depois, ele jogou na varanda e fugiu”, afirma o delegado.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a prestar socorro, mas a mulher não resistiu aos ferimentos e morreu dentro de casa. Não há informações se todos os filhos estavam no momento do crime.

Foragido

O crime aconteceu por volta das 5h. Por conta do horário, ninguém teria visto a fuga do homem. “A polícia está no encalço, mas não temos informações sobre onde ele possa estar”, pontua Leite. Wdson possui uma passagem pela polícia por porte e uso de drogas.

A faca usada no crime foi apreendida por agentes da 15ª Delegacia de Polícia e a perícia já foi realizada no apartamento. Até o fechamento desta edição, Wdson Luiz Santos de Souza ainda estava foragido. Por isso, quem tiver informações do paradeiro do homem pode fazer uma denúncia – mesmo que anônima – pelo telefone 197.

Wdson Luiz Santos de Souza, 23 anos, fugiu após matar a esposa dentro de casa, na QNM 20 de Ceilândia.

‘Mãe pagou preço que não era dela’

Segundo vizinhos, uma motocicleta com duas pessoas se aproximou da casa, quando seis disparos puderam ser ouvidos. “Entraram tranquilos. Na hora de sair não deram arrancada”, conta uma mulher que não quis se identificar. O primeiro a ver o corpo de Girlene foi um garoto que mora na casa dos fundos. A mulher estava no sofá com o celular na mão.

A vizinha que conversou com o Jornal de Brasília conta que a família havia sido ameaçada no domingo passado. “Vieram uns traficantes e começaram a cobrar o dinheiro que o filho devia. Depois foram embora”, afirma.

Apesar de o jovem ser usuário de drogas, a mulher alega que a família não dava problemas. “Eles moravam aqui há dois meses. Vieram para cá porque o menino devia no Sol Nascente e estava sendo procurado por traficantes de lá”, pontua. “Mas eles são tranquilos. Nunca usaram a casa como ponto de droga. Infelizmente, a mãe pagou um preço que não era dela”, completa.

Até a publicação desta reportagem, filho e pai não haviam aparecido na residência. A ausência dos dois foi motivo de comentários na rua. “Dá a impressão de que o pai e filho já estão mortos, e vieram matar a mãe só para não ter nenhuma testemunha. Procuraram o pai no lugar onde ele trabalha, mas ninguém encontrou”, alertou um outro vizinho, que também não quis se identificar.

Ciúme e sentimento de posse fatias

“Era um homem extremamente ciumento”. A definição dada pelo delegado  Adval Cardoso de Matos se refere ao vigilante   Cláudio da Silva Rosa, 43 anos. Com a ajuda do filho, ele teria matado Franciele da Silva Moreira, 22 anos. Ela foi assassinada na chácara em que o vigilante vivia,  próxima à BR-080, em Brazlândia, em dezembro de 2016. A prisão preventiva dos agressores só ocorreu ontem.

Segundo o delegado-chefe da 18ª DP, Franciele manteve um relacionamento com Cláudio por quatro anos, e havia rompido com ele pouco antes do ocorrido. Por não aceitar a decisão da jovem, o vigilante a matou. “Como ele a sustentava, achava que Franciele era propriedade dele. Criava perfil falso no Facebook para acompanhá-la, enviava outras pessoas para observá-la durante o dia. Era doente”, constata.

Matos explica que Franciele havia terminado o relacionamento devido a recorrentes ações agressivas de Cláudio. A jovem teve que abandonar o emprego em um atacadão em Taguatinga por conta de uma crise ciúme do então companheiro. “Ele fez um escândalo no supermercado. Ameaçou funcionários porque ela tinha feito amizade com eles”, disse.

O assassino teve a ajuda do filho, o comerciante Wilker da Silva Rosa, 24 anos, para concretizar o crime. O  delegado conta que  Cláudio chamou Franciele para um encontro na chácara, afirmando que queria reatar o relacionamento. No entanto, tudo já havia sido planejado. Após discussões, o vigilante e Wilker asfixiaram a jovem e a levaram em um carro  rumo ao Poço Azul, área rural de Brazlândia, para enterrá-la.

Franciele havia chegado à chácara de motocicleta. Segundo a polícia, veículo teria sido enterrado junto ao corpo da vítima – embora até agora nada tenha sido encontrado. De acordo com o delegado,  Wilker era bastante próximo ao pai, mas tinha raiva de  Franciele por ela ter sido o pivô da separação dos pais, que ficaram casados por cerca de 30 anos.

De acordo com o delegado, ambos os acusados negam os crimes afirmando não haver provas, uma vez que o corpo ainda não foi encontrado. Entretanto, Matos confirma que a polícia reuniu ‘provas de sobra’, além dos vários testemunhos de pessoas próximas a eles.

Divulgação PCDF


NÚMEROS

27
feminicídios foram registrados no DF de janeiro a novembro deste ano, além dos dois de ontem
18
casos foram contabilizados no mesmo período em 2017, segundo a Secretaria de Segurança


Saiba Mais

Cláudio também é acusado de falsidade ideológica. Antes de cometer o feminicídio, o vigilante habilitou dois números de telefone de terceiros  para conversar com Wilker e planejar o assassinato.

“Foi totalmente premeditado porque ele habilitou estes dois números antes do crime e foi uma forma de desviar o foco das investigações”, afirmou o delegado.

Alguns meses após o registro de desaparecimento de Franciele, a polícia passou a investigar o acontecimento como assassinato. Matos explica que como os acusados usavam outros números de telefone para se comunicar, a polícia teve dificuldades em chegar até os agressores. Neste ano, após o andamento das investigações, conseguiram identificar os suspeitos.

“A gente já tinha certeza da autoria, mas faltavam mais provas para a prisão, que conseguimos agora”, informou.

Cláudio já tinha passagens na polícia por furto e ameaças de agressão a outras pessoas.

Por conta dos crimes, pai e filho podem pegar uma pena de até 40 anos de prisão, caso sejam condenados pela Justiça

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