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Brasília

Polícia liberta jovem de cárcere privado em comunidade religiosa no DF

Arquivo Geral

07/01/2019 18h24

Igreja Adventista Remanescente de Laodiceia, no Gama. Foto: Raphael Ribeiro/Jornal de Brasília

Ana Karolline Rodrigues
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) resgatou uma jovem de 18 anos que estaria vivendo há quatro meses em cárcere privado mantido por uma seita religiosa do Gama. A menina residia na casa de uma líder da Igreja Adventista Remanescente de Laodiceia, onde, segundo a polícia, era obrigada a realizar trabalhos domésticos e estudar a Bíblia. Para os policiais, a jovem relatou que a líder a mantinha presa sob justificativa de que a menina estaria “endemoniada”.

De acordo com o delegado Vander Braga, da 20ª Delegacia de Polícia, a seita teve início há cerca de dez anos no Mato Grosso. Porém, o grupo foi expulso do local e partiu para Goiás. Atualmente, ocupa uma chácara na DF-290, no Gama, onde se praticam os cultos há cerca de dois anos. Segundo ele, a polícia já os investiga há um tempo e, há duas semanas, obtiveram a informação por meio de denúncia anônima que a seita religiosa cometia crimes e fazia várias vítimas. “Descobrimos que praticavam trabalho escravo, exploração sexual e cárcere privado. É uma comunidade de 300 a 400 pessoas”, contou.

Braga explica que, ao chegar ao local no dia 28 de dezembro, a polícia precisou de insistência para que a líder religiosa os levasse até a menina. “Eles negaram que essa menina existisse lá, porque eles trocam o nome de todas as pessoas que entram”, disse. “Na residência onde a vítima estava, as portas estavam todas fechadas e as janelas eram gradeadas . Ela [menina] disse que foi colocada ali e mantida em cárcere privado sob alegação da líder religiosa de que estaria endemoniada. Então, demos voz de prisão à líder e a conduzimos à delegacia”, relatou o delegado.

Dependência
Segundo a polícia, a garota afirmou que a comunidade atua em todo o País pregando uma mensagem de que, para se obter o reino dos céus, os fiéis deveriam abandonar todos os bens materiais. Conforme explicou o delegado, é a partir desta perspectiva que os seguidores passam a depender da seita. “Assim, a pessoa dispõe de todos os bens e vai morar com eles”, afirmou.

Após a acusação, Ana Vindoura Dias Luz, 64 anos, a líder da instituição, foi presa em flagrante. Entretanto, ela foi liberada pela Justiça após a audiência de custódia. “Como ela não tinha nenhuma passagem pela polícia, como se trata de uma senhora de mais de 60 anos de idade, embora esteja em seu perfeito juízo, o entendimento do Poder Judiciário é de que a conduta dela não teria provocado muito clamor, bem como o ato inoficioso dela não teria sido tão exacerbado. O que a gente contesta, porque uma pessoa que fica quatro meses encarcerada num local, da forma como a gente viu a vítima, já com perturbação psicológica, extremamente abalada, eu acho que faltou um pouco de sensibilidade na manutenção da prisão dessa autora”, argumentou o delegado.

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