Menu
Brasília

Polícia investiga denúncia de estupro contra menina em festa junina de igreja

Colaborador JBr

08/06/2016 19h14

Reprodução/Shutterstock

Tainá Morais

[email protected]

A Polícia Civil investiga a denúncia de um estupro coletivo contra uma menina de 13 anos em uma festa junina da igreja Imaculado Coração de Maria, no Park Way, ocorrida no último fim de semana. O caso veio à tona após o medico responsável pelo atendimento da vítima fazer um desabafo emocionante no Facebook.

De acordo com a corporação, a jovem foi violentada por outros três adolescente após ser dopada com um medicamento conhecido como ” Boa Noite Cinderela”. Segundo relatos de testemunhas, a vítima foi levada para a festa pela irmã, que a deixou com algumas amigas da escola e foi embora. Em seguida, os suspeitos se juntaram ao grupo e passaram a ingerir bebidas alcoólicas.

Em  depoimento, a menina disse que perdeu os sentidos após consumir a bebida e que não se lembra de mais nada que teria acontecido no local. No dia seguinte, a vítima acordou na casa de uma amiga que informou à Polícia Civil que os adolescentes teriam dado bebidas para o grupo com o intuito de dopar as meninas, para, em seguida, praticarem o ato sexual.

Os suspeitos ainda não foram identificados.

Cuidados médicos

No último domingo (5), a menina  foi encaminhada para um hospital particular em Taguatinga, onde recebeu cuidados médicos. Em sua publicação em uma rede social, o médico Alexandre Paz Ferreira  disse que receitou medicamentos para prevenir a contaminação de doenças sexualmente transmissíveis, como HIV e Hepatite B, além de medicamentos contra a gravidez.

Emocionado, o médico confirmou ainda que utilizaram o medicamento Rupinol na bebida da vítima – considerado um potente indutor do sono. Segundo ele, as lesões físicas foram tratadas, mas as feridas emocionais ficarão para sempre na alma.

 

Confira a publicação do médico na íntegra

“Rohypnol, rupinol, flunitrazepam, boa-noite-cinderela. O famigerado “roofie”, pra quem já assistiu ao filme The Hangover (Se Beber Não Case). É um medicamento benzodiazepínico, potente indutor do sono, relaxante muscular, que gera amnésia. Frequentemente traficado para uso ilegal.

Ontem por volta das 17h uma garota de onze anos (onze anos!) estava numa festa com colegas de escola. Sem se dar conta, foi intoxicada com o flunitrazepam e repetidamente estuprada.

Eu, sonolento, de cabelo bagunçado, por volta das 5h da manhã de hoje, no meu plantão fazendo um trabalho muitas vezes repetitivo que é o de pronto-socorro pediátrico. Nossas histórias se cruzam.

Entram na minha sala um senhor numa cadeira de rodas – o pai – e a tal menina. Ouço a história. A infectologia me ensinou toda a teoria que eu precisava saber pra realizar tal atendimento. Enquanto o pai relata o ocorrido, calmamente e sem muitos detalhes, eu começo a vasculhar a minha mente sonolenta em busca de informações úteis. HIV, hepatite B, doenças, gravidez. Gravidez! Numa menina de onze anos! Percebo que na prática eu precisava de mais informações pra fazer aquele atendimento bem-feito. Precisava de muito mais que o protocolo médico me ensina. A teoria foi pouco. Precisava achar uma palavra de consolo pra dizer. Amor, esperança, sei lá. Precisava dizer algo positivo para aquela criança (sim, criança).

O que a minha mente exaurida encontrou pra dizer foi apenas que ela nunca deixasse que ninguém a fizesse acreditar que a culpa era dela. A culpa é do praticante do estupro, não da vítima. Nunca da vítima. Foi isso que eu disse.

Por algum motivo naquela hora também me veio à cabeça o projeto de lei que tramita no nosso estimado congresso, de autoria da nossa estimada bancada religiosa, composta por homens de bem, que limita o atendimento de vítimas de estupro pelo SUS.

É, minha amiga. Ajudei-te no que pude e consegui. Sei que o que fiz foi muito pouco. Você hoje viveu, cedo demais, o pior aspecto que se pode imaginar em ser mulher. Tenha força. Pode até ser que você não engravide, ou pegue AIDS, mas você vai carregar esse dia nas costas pelo resto da vida. Tenha força.

Quanto a mim, eu terminei o atendimento, fechei a porta do consultório e chorei como há muito não fazia. E fui pra casa escutando Beatles no último volume, pra tentar lembrar que ainda existe amor no mundo”.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado