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Brasília

Idoso de 72 anos foi morto mesmo após entregar chave de carro

Arquivo Geral

23/02/2018 9h10

Foto: Jessica Antunes

Jéssica Antunes
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A camisa azul ensanguentada no asfalto movimentado da Avenida Comercial Norte de Taguatinga indica o local de um crime. Paulo Afonso Silva, 72 anos, foi vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) quando voltava à casa da mãe com compras. Ele foi surpreendido por uma dupla que buscava oportunidade de assaltar e foi alvejado quando teria tentado pedir para pegar algo no veículo levado pelos criminosos. Também ontem, houve ao menos outras duas tentativas de latrocínio.

O caso aconteceu na QNE 7, próximo ao centro da cidade, por volta das 8h, quando as lojas começavam a abrir e trabalhadores passavam. Não foi o único crime grave do dia e que, por conta da paralisação dos policiais, pode ter a investigação comprometida.

Os delitos graves cometidos durante as 72 horas de paralisação da Polícia Civil até são registrados, mas as investigações só devem ter início amanhã. Em assembleia com indicativo de greve na segunda, os policiais pretendem intensificar a estratégia que tenta conseguir, mais uma vez, paridade salarial com a Polícia Federal. Apesar do movimento, o local do crime foi periciado ontem pela manhã e será investigado pela 17ª DP.

“Não reagiu”

A diarista Sheila Santos, 37 anos, presenciou tudo da sacada de casa. “Eu vi os dois homens em uma moto. Estavam esperando uma oportunidade”, lembra. A mulher conta que o idoso, que ia diariamente ao local visitar a mãe, voltava com uma sacola com bolos quando foi rendido. “ Ele se aproximou do carro, abriu a porta e os bandidos o abordaram”. O homem que estava na garupa assumiu a direção do VW Jetta.

Sheila garante que o idoso não reagiu. “Ele entregou a chave, mas falou alguma coisa. Acho que pediu para pegar algo no carro. Foi quando um deles colocou a mão na cintura, pegou a arma e atirou. Só então ele gritou, pedindo socorro”, relata. Paulo caiu no chão e as compras se espalharam pela rua. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência o levou ao Hospital de Taguatinga, onde morreu.

Paulo Afonso Silva era empresário e fez aniversário há quatro dias. Ele e os sete irmãos se revezavam para cuidar da mãe, Maria Morais, 93, em um apartamento na avenida. Segundo a irmã, Simone Aparecida, 61 anos, ele havia dormido ali e saído para comprar alimentos e água. “É uma dor sem tamanho”, resume, com as mãos trêmulas. A família não sabia como contar para a mãe, enferma.

Arrasada, a professora conta que o local era ponto de encontro da família. “Paulo era equilibrado, manso. Uma pessoa maravilhosa. E não é porque era meu irmão”, diz. “Isso aqui é um horror, sempre tivemos medo. Nós é que somos reféns dos bandidos. Nós é que temos que ficar presos dentro de casa”, indigna-se. Simone teme pelo andamento da investigação. “A greve com certeza vai prejudicar”, reclama.

Medo constante

No ano passado, Taguatinga teve 21 mortes por crimes. A maioria, homicídios. Houve também 59 tentativas de assassinato. Nove casos diários de roubos a pedestres foram registrados, além de um comércio alvo a cada dois dias. Os dados da Secretaria de Segurança se referem ao período entre janeiro e novembro de 2017.

“Essa área sempre foi perigosa”, relata João Pedro Fernandes, comerciante de 22 anos. De acordo com ele, assaltos e arrombamentos de lojas são os crimes mais comuns, mas delitos graves não seriam raros. “No ano passado, em uma briga de vizinhas, uma pessoa pegou uma chave de fenda e enfiou no peito de outra”, conta.

Duas vítimas escapam do mesmo crime

Ao menos outras duas tentativas de latrocínio foram contabilizadas na manhã de ontem no DF. Às 6h, o caso foi na Quadra 203 do Recanto das Emas. Conforme o boletim de ocorrência registrado na 27ª DP, testemunhas relataram que dois ladrões tentaram assaltar um homem de 25 anos, que reagiu e entrou em luta corporal. A vítima conseguiu escapar de um, que estava com faca, e fugiu. No entanto, o outro envolvido sacou uma arma e atirou pelas costas. Levado ao Hospital Regional do Gama, o homem passa bem.

No Gama, no fim da manhã, o condutor de um carro levou dois tiros no meio da rua. Segundo testemunhas, ele fazia um retorno próximo a um posto de combustíveis quando dois suspeitos se aproximaram em um Fiat Uno. Um deles teria descido do veículo, anunciado o assalto e disparado duas vezes após suposta reação da vítima.

Alvejado, o homem ainda dirigiu por cerca de 50 metros até chegar ao estabelecimento. Ele foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado ao HRG.

Investigações param

Com base na média diária de registos do sistema da corporação, o Sindicato dos Policiais Civis estima que mais de 250 mil investigações estejam paradas.

Segundo a entidade, mil ocorrências diárias deixam de ser registradas em 51 delegacias de polícia da capital.
Além disso, pelo menos 400 carteiras de identidade não são emitidas nos postos de identificação e 50 laudos periciais ficam parados.

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