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Brasília

Hora certa? Pais estão inseguros com a reabertura de escolas

Associação pede participação das famílias nas discussões sobre volta às aulas

Vítor Mendonça

29/07/2020 7h05

Foto: Vitor Mendonça/ Jornal de Brasília

A Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal solicitou participação para se manifestar nas discussões do poder público quanto ao retorno das aulas presenciais na capital. “Queremos, como pais, informações seguras, gestão administrativa das autoridades públicas para garantir o ambiente seguro, protocolos adequados e a fiscalização, caso necessária. Queremos uma comunicação clara com a Secretaria de Educação [SEE/DF]”, afirmou o presidente da entidade, Alexandre Veloso. 

O cenário, segundo ele, “é de muita incerteza”. “Muitos pais querem voltar, mas nesse momento de uma evolução da doença no DF, querem aguardar; outros não. Temos que respeitar”. O apelo feito é que se mantenha, entre Secretaria e Associação, uma comunicação clara quanto às normas de ajuste e protocolos de segurança. “Pedimos que ela [pasta] seja a grande gestora nessa transição, de modo que possa coordenar com as demais entidades interessadas no assunto”, finalizou.

A volta às aulas presenciais na rede particular de ensino do Distrito Federal ainda é incerta após decisão judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª região (TRT-10), no último sábado (25). A resolução adiou em 10 dias o retorno às instituições de ensino.  O cenário de disputa gera dúvidas quanto à segurança e acompanhamento do órgão junto às escolas. “As escolas privadas estão submetidas aos mesmos protocolos de segurança que as escolas públicas”, afirmou o secretário de Educação do DF, Leandro Cruz, sobre a questão.

O chefe da educação local ressaltou que “cada escola terá seu cronograma” e que coube à pasta educacional “definir os protocolos e a fiscalização da aplicação deles”. A Secretaria informou ao Jornal de Brasília que as medidas de prevenção à disseminação do vírus são de responsabilidade individual, coletiva, mas que também “poderão ser acompanhadas por comissões locais estabelecidas pelos gestores das escolas”. 

Preparados, mas sem alunos

No Centro Educacional Inei, localizado na QI 7 do Lago Sul, as aulas presenciais retornariam na última segunda-feira (27), seguindo as exigências dispostas no decreto nº 40.939, de 2 de julho. A diretora da unidade de ensino, Gecilene Rodrigues relatou que 25% dos pais de alunos da escola tem a intenção de levar os filhos para as aulas e que o retorno seria gradativo, iniciando com as crianças no Ensino Infantil e Fundamental I – de 2 a 11 anos. Na semana seguinte, a volta seria feita com os alunos do fundamental II e Ensino Médio.

“Ficamos muito decepcionados, tanto os professores quanto os alunos e pais. Fizemos as testagens dos colaboradores, palestras, mapeamento de sala, desinfecção no fim de semana, mas no fim do dia de sábado recebemos a notícia”, lembra. De acordo com ela, a necessidade da volta é crucial em alguns casos. “Esses 25% são famílias que realmente precisam da escola, porque a maioria delas precisa deixar as crianças no sistema integral. Outros que ficariam em casa acharam bom não retornar”, continuou.

A escola pretende retornar às aulas in loco com o sistema de ensino híbrido – as duas modalidades, virtual e presencial, ao mesmo tempo -, permitida pela SEE/DF às instituições privadas. Grecilene explica que, na sala de aula serão dois educadores: um explicando a matéria e outro auxiliando os alunos que permanecerem no sistema remoto. “Haverá um notebook com a câmera voltada para o quadro. A pessoa que estiver no computador vai acompanhar dúvidas e mediar a comunicação com a professora”, explica a diretora da unidade.

Patronais vs. professores

De um lado, a ação movida pelo Ministério Público do Trabalho contra o Governo do Distrito Federal (GDF), que levou a justiça a suspender o retorno às aulas presenciais, tem o apoio do Sindicato do Professores da Entidades de Ensino Particulares do Distrito federal (Sinproep-DF).  Do outro, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe-DF) defende o retorno e tenta recorrer à decisão.

Em nota, o Sinproep-DF afirmou que “discorda e deplora da posição do Sinepe-DF, tendo em vista que a situação de contaminação e de óbitos no Distrito Federal, ainda é considerada, pelas autoridades sanitárias, demasiadamente alta” – ontem a capital obteve recorde nos registros de mortes: 52. A atividade presencial, segundo o órgão sindical, “colocaria em risco a saúde e a vida dos profissionais da educação privada e da comunidade escolar”.

“Esse retorno significaria 280 mil alunos e uma quantidade enorme de pessoas circulando pela cidade. São 800 escolas particulares, mas grande quantidade não vai conseguir cumprir com o protocolo, que seriam os equipamentos de testagem dos professores, sanitização, etc”, analisou o presidente do Sinproep-DF, Rodrigo de Paula.

“Nós defendemos que o retorno seja feito de forma gradual, começando pelos mais velhos em faculdades e Ensino Médio até chegar à educação infantil. O que as particulares estão fazendo é o inverso. Acho que isso pesou para a decisão do magistrado”, pontuou. “Esperamos para os próximos dias que haja um debate com a participação dos pais, professores e sindicatos patronais para que possamos construir esse retorno com a nossa participação discutindo o melhor momento”, defendeu.

A reportagem tentou contato com a presidência do Sinepe-DF para maiores informações, porém não obteve resposta.

Retorno difícil

A menor taxa de contaminação e de mortes por coronavírus no DF é a que cobre os alunos da rede de ensino até o Ensino Médio. De acordo com última atualização do balanço da covid-19 no DF, pouco mais de 7 mil indivíduos com idade igual ou menor que 19 anos foram contaminados pela doença – houve 3 mortes e outros 5,81 mil recuperados.

Hemerson Luz, infectologista das Forças Armadas, entende que as causas para o baixo índice se devem a duas questões principais. “[Primeira:] No isolamento, há menor exposição ao vírus quando ele está em circulação e [segunda:] a letalidade é muito mais baixa nessa faixa de idade. São quadros mais brandos e a letalidade aumenta conforme a idade da pessoa, intensificando-se acima dos 60 anos, com os idosos”, explicou o especialista. 

Pelos sintomas mais brandos e menor taxa de disseminação da doença, o infectologista entende que as regras estabelecidas para o retorno são suficientes para mitigar o contágio nos ambientes escolares. “Em nenhum momento devemos pensar que será fácil a volta. Não é uma tarefa fácil, mas as regras que estão sendo impostas devem ser seguida com muito rigor”, ressalta.

“Não vão zerar [os índices de contaminação], porque sempre há a possibilidade de alguém quebrar as regras, mas estão dentro das normas adequadas de controle”, completou. “[…] Mas é possível sim voltar com todo o cuidado, tentando diminuir ao máximo a quantidade de transmissão, sabendo que não vai zerar; zerar não tem como”, explicou Hemerson.

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