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Entrevista: UnB entra em período eleitoral e quatro chapas disputam reitoria

Pela primeira vez as eleições da universidade serão totalmente virtuais, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, e acontecem em meio a volta às aulas, que ocorrerão no dia 17 de agosto

Redação Jornal de Brasília

14/08/2020 15h35

foto : Fabio-Rodrigues-Pozzebom-Agencia-Brasil

Nos dias 25 e 26 de agosto ocorrerá o primeiro turno das eleições para reitoria da Universidade de Brasília. Quatro chapas disputam o posto para estar à frente das cerca de 58 mil pessoas ligadas a UnB de 2020 a 2024.

As chapas candidatas são, em ordem alfabética, Somar (86), da atual reitora Márcia Abrahão, que tenta a reeleição, já o vice é Enrique Huelva. Tempo de Florescer (83) é da candidata a reitoria Fátima Sousa e da vice Elmira Simeão. Em 2018 Fátima se candidatou ao Governo do Distrito Federal pelo PSOL e terminou as eleições com 4,35% dos votos, o que representou 65.648 dos eleitores. UnB pode muito mais (89) é do ex-decano Jaime Santana e do vice Gilberto Lacerda. E Unifica UnB (81) do professor do Departamento de História Virgílio Arraes e da vice Suélia Fleury.

Pela primeira vez as eleições da universidade serão totalmente virtuais, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, e acontecem em meio a volta às aulas, que ocorrerão no dia 17 de agosto, após cerca de 6 meses sem atividades. A data foi aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da instituição de ensino.

Os dois primeiros debates entre as chapas já ocorreram e, com isso, restam dois, um no dia 18 de agosto e outro no dia 24 do mesmo mês. Após os debates, ocorre o primeiro turno das eleições, nos dias 25 e 26. O segundo turno está marcado para os dias 8 e 9 de setembro. Dia 10 é o prazo para recurso de alguma das chapas e o resultado será divulgado no dia 11 de setembro.

Cabe ressaltar que a reitoria é responsável pela gestão dos quatro campi da UnB no Distrito Federal, localizados na Asa Norte, no Gama, campus focado para a área de Ciência e Tecnologia, em Ceilândia, campus focado na área da saúde e em Planaltina, com faculdades de Agronegócio e meio ambiente.

Em enquete feita pelo Canário, portal de notícias voltado à UnB, a chapa da professora Fátima Sousa aparecia com larga vantagem em relação aos outros candidatos na intenção de votos no início do mês, mas a atual gestora, Márcia Abrahão, parece ter se recuperado nas pesquisas do dia 11 de agosto, que mostra pequena diferença entre as duas. Já as chapas UnB pode muito mais e Unifica UnB trocam de posições no terceiro e quarto lugar.

Jornal de Brasília conversou com os candidatos de todas as chapas para saber melhor quais as prioridades de cada uma delas. As quatro chapas responderam às mesmas perguntas ao JBr e as entrevistas estão disponíveis abaixo, em ordem alfabética. Confira os principais destaques e assista as entrevistas completas.

  • Somar (86 – Márcia Abrahão e Enrique Huelva)

Márcia Abrahão, da chapa Somar, tenta a reeleição e comentou os problemas financeiros pelos quais a universidade passa. Caso seja reeleita, disse que não pretende reduzir despesas. “Nós não temos mais de onde cortar”, explicou. “A gente vai trabalhar para que não haja a redução orçamentária”.

A reitora explicou também que a dívida da UnB com a CEB, que gira em torno de R$ 1,5 milhão, é cobrada indevidamente. “Nós não temos essa dívida junto a CEB. Na década de 90 a universidade foi considerada isenta de pagar água e luz por uma Lei Distrital. Depois essa lei foi considerada inconstitucional e a CEB cobra essa dívida da UnB”, disse.

Márcia deixou claro que a UnB não reconhece essa dívida e relatou ter achado o corte estranho. “Havia um descontentamento porque a UnB não teria parado as aulas após um decreto do Governador. Depois eu conversei com o Governador e expliquei que todas as nossas decisões são colegiadas.”

Márcia também comentou a fraude de cotistas, descoberta no mês passado. “Fui eu quem expulsei eles” disse.
Quanto ao combate de ideias dentro do campus Márcia falou que a UnB tem trabalhado de maneira muito democrática e aceitando todas as ideias. Em relação aos combates que ocorreram em 2018 dentro do campus Darcy Ribeiro a reitora disse que “a universidade está pacificada. Todos podem se manifestar democraticamente.”

Ao ser perguntada quanto aos primeiros passos caso seja reeleita Márcia destacou o apoio aos programas de pós-graduação de acordo com a avaliação dos cursos. “Vamos dar o apoio sempre com o olhar inclusivo, não excludente”. Além do desafio de retornar às aulas em meio as consequências da pandemia.

  • Tempo de Florescer (83 – Fátima Sousa e Elmira Simeão)

A professora Fátima Sousa, candidata a reitoria pela chapa Tempo de Florescer, destacou em suas falas que tem conhecimento do quadro financeiro grave pelo qual a UnB passa e que a situação se agravou com os cortes do Ministério da Educação às universidade do Brasil. “Nós temos consciência disso, mas temos que buscar alternativas a estes cortes para não ficar limitados a este tipo de cortes sucessivos do governo, que sabemos a que veio”, disse.

Fátima também reconheceu que, durante a pandemia, as universidades estão “salvando vidas” mesmo com a crise.
Para Fátima houve uma ineficácia na volta às aulas da UnB. “É bem verdade que,nem nós, nem o mundo, estávamos esperando uma pandemia dessa envergadura, mas nós tivemos avisos prévios. Na China, na Europa, com o primeiro caso em São Paulo, ou seja, a UnB não foi desavisada. Por isso, ficar quatro meses sem alternativa foi retardatário”, ressaltou. De acordo com a professora o projeto de retorno da UnB “deixou muita gente pra trás”.

A candidata a vice-reitora, Elmira Simeão, comentou o combate de ideias que existe dentro da UnB e que, em 2018, levou grupos a entrarem em combate dentro do campus. “Acho que a gente precisa resgatar o sentimento de pertencimento e as características que a UnB tem”.

Quanto às primeiras medidas que seriam tomadas pelas candidatas caso vençam, Elmira falou que pretende construir uma universidade que respeite o ser humano. Disse que a chapa pretende valorizar a relação multi-campi e fortalecer a discussão quanto a sustentabilidade. Fátima disse que pretende abrir as contas da UnB. “Vamos abrir as contas e chamar a comunidade para saber o que podemos fazer”.

  • UnB pode muito mais (89 – Jaime Santana e Gilberto Lacerda)

De acordo com Jaime, candidato a reitor, é preciso proteger a educação brasileira. Para ele uma opção para driblar os problemas financeiros é propor uma forma mais eficiente de aproveitar melhor o patrimônio imobiliário da universidade. “Nós temos dois terrenos vazios. Um na 207 e um do outro lado do Brasil 21. Os dois terrenos valem, no mínimo, R$ 2 bilhões. Eles são patrimônio da UnB, mas quem sabe a gente não preserva o patrimônio e consegue dinheiro pra universidade?”, indagou.

Sobre a segurança, a chapa “UnB pode muito mais” propôs a criação de um mecanismo que ajuda os alunos do período noturno a se sentirem mais seguros. “A gente vai pedir um aplicativo [desenvolvidos por alunos] para que todos tenham. Na hora que ele [o aluno ou servidor] for sair de algum lugar, pede um segurança pelo aplicativo e a pessoa acompanha o aluno ou o servidor até o carro ou ponto de ônibus. Simples assim”, disse Jaime.

Quanto às nomeações, Jaime disse que parece que simples, mas não é. “A universidade tem quadros maravilhosos. Nós não vamos buscar pessoas externas à universidade”, ressaltou. “Hoje tem gente na secretaria de planejamento que é de fora da UnB, que não conhece de ciência, não conhece da importância de fazer um laboratório, por exemplo.”

Jaime ainda lembrou que é errado achar que o ensino na UnB é gratuito. “Não existe nada gratuito. Quem paga o ensino público brasileiro é a população com seus impostos. E a gente tem que devolver.”
Quando questionado sobre quais serão as primeiras atividades no exercício do cargo caso vença, Jaime disse que pretende fornecer plano de saúde para servidores e docentes.

  • Unifica unB (81 – Virgílio Arraes e Suélia Fleury)

Virgílio e Suélia, candidatos da chapa Unifica UnB, deixaram claro que a escassez financeira impacta o desenvolver da universidade. “Nós temos que ter alternativas para suprir isso”, explicou Virgílio. “82% do nosso plano de ação é composto por ações que a gente consegue executar de dentro da universidade”, disse Suélia para exemplificar uma maneira de driblar o problema financeiro da universidade.

Suélia ainda ressaltou a importância das Empresas Júnior das faculdades. De acordo com a candidata a vice-reitora essas empresas são outra alternativa para solução de problemas dos campi.

Na avaliação de Virgílio, o tempo parado por conta da pandemia de coronavírus poderia ser menor. “Não é uma situação fácil. De todo modo, a interrupção poderia ter sido menor. Entre março e abril a universidade já podia ter tomado medidas que pudessem ter antecipado o início do primeiro semestre, como outras universidades fizeram”, argumentou.

Suélia ainda avaliou que os cursos de pós-graduação, por exemplo, poderiam ter tido pausas pequenas, por precisarem menos do modelo presencial para acontecer.

Virgílio ressaltou que, caso sua chapa vença, a UnB voltará a usar o SISU. “Fazer parte do SISU traz, como contrapartida, verbas de programa sociais importantes”, explicou. “Se a chapa 81 tiver êxito, deverá voltar a adotar o SISU”, completou.

A chapa ainda criticou a decisão da universidade de oferecer uma bolsa a estudantes para que eles comprem seus computadores e assistam as aulas à distância durante a pandemia.”Você simplesmente dá 1600 reais para o aluno comprar um notebook, sem analisar a configuração mínima do computador para realizar um curso de design, por exemplo. Imagina a quantidade de softwares que esse aluno tem que instalar e o peso do processador que eles tem que ter? Um computador não sai menos de R$ 2.500”, questionou Suélia.

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