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Brasília

Dia dos professores: conheça 2 histórias inspiradoras no DF

Professores incansáveis. Conheça a história de uma pesquisadora de escola pública em Santa Maria e um professor que atua na ressocialização

Agência UniCeub

15/10/2020 13h09

O Projeto RAP trabalha com alunos do sistema socioeducativo. Foto: arquivo pessoal

Bruna Rossi
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

Há professores que fazem de suas salas de aula espaços transformadores e fazem de suas histórias pura inspiração, mesmo em dias de crise da pandemia e incertezas. Eles fazem de espaços públicos uma renovação de esperança.

Para a professora Vânia Souza, de geografia, e que trabalha no ensino médio do CED 310 de Santa Maria, a alegria de criar e dividir a experiência para que os alunos sejam protagonistas do aprendizado fez com que ela não parasse de inventar.

Ela em parceria com outros professores desenvolve seis projetos na escola: Projeto de Letramentos Geográfico e Cartográfico; Projeto do Uso do Atlas Escolar no Ensino do Distrito Federal; Projeto Nós Propomos; Projeto O Que Nos Conecta ao Mundo; Projeto Bem Estar na Escola e Projeto Meninas.comp, que insere meninas na computação.

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Ela afirma que, assim como várias mulheres, sempre tentou equilibrar a vida em família e como profissional. Conseguiu construir uma carreira de pesquisadora. Além disso, está em seu 4º livro, escrevendo suas descobertas em sala de aula. Ela faz parte de um time de professores incansáveis.

“Estou feliz em poder mostrar para as pessoas os desafios da vida dos professores nas escolas públicas. Tenho orgulho de ter ajudado na construção da autoestima de muitos alunos. E muito feliz por ter vários ex-alunos que se tornaram excelentes professores”, afirma.

O Projeto do Uso do Atlas Escolar no Ensino do DF objetiva a produção de material didático adequado às particularidades do Distrito Federal, porque, para o projeto, uma ação educativa, que considere a leitura e interpretação de representações cartográficas, proporciona um suporte eficiente ao exercício da docência, na medida em que possibilita o estabelecimento de estratégias, que provoquem a criatividade e inventividade dos professores e a utilização das experiências pessoais como fonte de aprendizagem e estímulo à participação dos alunos.

Professora é uma das autoras do Atlas Escolar do DF. Foto: Arquivo pessoal

Assim, há a proposta da produção de um Atlas Geográfico, Histórico e Cultural do Distrito Federal. Com esse projeto, espera-se contribuir para a formação de professores com um material específico que aborde a localidade sob o viés da análise espacial, de um lado, e formar nos estudantes um sentido cidadão de pertencimento a este território, de outro. A intenção é abranger toda a Educação Básica do DF. Para isso, é desenvolvido um projeto piloto em escolas públicas do DF, de formação continuada de professores e de construção do pensamento espacial e raciocínio geográfico de alunos.

Reconhecimento de professores

Esses projetos ganharam vários prêmios, como, o Prêmio Jovem Cientista do Ensino Médio, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em 2017, ela participou do Projeto Escola de atitude (trabalho coletivo), da Controladoria-Geral do DF e ganhou o prêmio. O projeto previa o desenvolvimento de ações cívicas pelos alunos. Ou seja, buscava a transformação física da escola através de mutirões, feiras e campanhas de preservação do ambiente escolar. O prêmio foi em dinheiro e encaminhado para as mudanças estruturais da escola. Os professores entendem que seria a melhor forma de homenagear o esforço cotidiano.

Também em 2017, ela iniciou o Projeto Nós Propomos, que estimulava os alunos a trazerem problemas de suas cidades. Um dos problemas trazidos foi relacionado à violência. Depois de muitas discussões, separaram um tipo específico, que é a violência contra a mulher. A partir de então, os estudantes começaram a articular ações para reduzir esse tipo de violência. Foram três anos de aplicação desse projeto. Então, ele se transformou em um projeto independente chamado Projeto Penha está na Escola, que, em 2019, ganhou o Prêmio Maria da Penha vai à escola.

A professora Vânia Souza recebeu o prêmio pelo Projeto Maria da Penha vai à Escola. Foto: Arquivo pessoal

O Projeto Penha está na Escola é articulado pelos alunos através dos debates, pesquisa com outros alunos, produção de vídeos, cartazes e, acima de tudo, a realização de rodas de conversa, sobre questões de gênero, cuidados nos relacionamentos e ações preventivas de proteção à mulher. Os próprios alunos trazem as temáticas a serem abordadas nas rodas de conversas.

Essas rodas têm convidados, que são os profissionais do Núcleo Judiciário da Mulher, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Nos três anos de discussões sobre a violência contra a mulher na escola, foi possível constatar uma maior união e solidariedade entre as meninas, além de uma mudança do discurso machista, especialmente por parte dos meninos.

A professora acredita que há um alcance social desse projeto pelos depoimentos transformadores dos alunos, que mostram a sua responsabilidade social para diminuir a violência contra a mulher.

Pelo Projeto Bem Estar na Escola, o ambiente escolar se transformou em ambiente de escuta e proteção de meninas. Em 2020, ele recebeu o Prêmio Selo das Práticas Inovadoras da Educação no DF pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Porém, não houve cerimônia de premiação, devido à pandemia. Foi um projeto premiado duas vezes.

Para a professora, sus projetos podem sim inspirar as pessoas.

“Eles mostram a autonomia e a criatividade dos alunos e a importância da participação do estudante nas várias tarefas da escola. Os alunos dinamizam o ambiente escolar de uma maneira cativante. Eles criam os próprios espaços de ação. Os projetos podem mostrar para o estudante que ele é importante na sociedade. Além disso, ele aprende a trabalhar em equipe e faz coisas maravilhosas. Constrói também uma auto estima para que eles avancem em várias ações e conquista de espaços na nossa sociedade”, disse.

Impacto da pandemia

Em relação ao período de pandemia, a professora Vânia Souza ressalta que houve mudanças nas formas de interação e aprendizagem. Segundo ela, o aluno precisou se adaptar ao ensino remoto e os professores à forma de ensinar, sem perder a qualidade e a atenção dos estudantes.

“Está sendo um grande desafio. Na nossa escola, a prioridade foi o cuidado com o outro, o acolhimento. O incentivo à continuidade no estudo e no trabalho. Nossa escola trabalhou em um movimento de união que fortaleceu a comunidade escolar. No meu trabalho docente, desde o primeiro momento, eu me motivei para estar em contato com os alunos, virtualmente, para ouvi-los e orientá-los. Ouvi muitas histórias tristes e dei muitos conselhos para que eles não desistissem. Expliquei a eles que o mundo não é o mesmo, eles têm que se adaptar e nós estamos juntos nessa caminhada”, disse.

Empoderamento

O professor de História, especialista em Educação Inclusiva, Mediador Social, Produtor Cultural, Pesquisador, Palestrante e Diretor Pedagógico da Associação Respeito e Atitude – AREA, Francisco Celso, é idealizador e colaborador de diversos projetos pedagógico/culturais voltados ao empoderamento da juventude preta, pobre e periférica do Distrito Federal e Entorno.

Dentre esses projetos, há o Projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo), que faz alusão ao gênero musical, mas com ressignificação para a realidade do sistema socioeducativo. Existe desde 2015, quando o professor passou a dar aulas no sistema socioeducativo. Ele percebeu que os meninos e meninas não se viam nas histórias narradas nos livros didáticos, mas sim nas narradas em letras de rap. Então, Francisco começou a utilizar o rap como ferramenta pedagógica.

No sistema socioeducativo, a rotatividade é muito grande e você não consegue dar sequência aos conteúdos como em uma escola regular. Você entra em uma turma hoje e na semana seguinte pode entrar na mesma turma que já não é mais a mesma porque teve aluno que foi transferido para outra unidade, teve aluno que já foi liberado porque terminou de cumprir a sentença, teve aluno novo que chegou, teve aluno que mudou de turma porque houve algum conflito de convivência”, diz Francisco.

Então, o professor afirma que, para dar aula no sistema socioeducativo, é preciso pensar em algo que seja significativo para aqueles meninos naquele momento.

Professor Francisco Celso é o responsável pelo projeto Rap. Foto: arquivo pessoal

Francisco resolveu utilizar o rap para debater alguns temas que estão no currículo em movimento da educação básica do DF, que são os três eixos transversais: diversidade; direitos humanos e sustentabilidade. O professor trabalha com raps que dialoguem com um desses três eixos. A partir daí, eles debatem o tema e há o processo criativo dos meninos e meninas, que expressam o que eles aprenderam nos conteúdos, seja por meio de poemas, desenhos, letras de rap etc. O professor começou a construir parcerias para musicalizar as produções deles. “Tudo que é produzido pelos meninos é aproveitado”, explica.

O projeto é reconhecido nacionalmente e, agora, internacionalmente, com a indicação ao Prêmio Global Teacher Prize,  o Nobel da Educação. Em 2017 e 2018, ganharam o Prêmio Itaú UNICEF. Em 2020, ganharam o Selo de Práticas Inovadoras na Educação Pública do DF. O professor também recebeu o Prêmio Cultura Brasília 60, como um dos 36 melhores produtores culturais do DF.

O Projeto RAP hoje trabalha com o seguinte tripé: fazem o trabalho dentro da unidade de internação, que é o pontapé inicial do processo de ressocialização desses adolescentes; fazem o trabalho de acompanhamento dos egressos, muito importante porque os adolescentes são de extrema vulnerabilidade social e fazem o trabalho preventivo nas escolas regulares.

É difícil de mensurar o alcance social do projeto, segundo o professor, porque, segundo ele “não há como colocar em números isso e, às vezes, o resultado vem em um jovem que fala para você que o projeto mudou a vida dele”. Além disso, Francisco disse que o projeto é muito procurado pelas escolas regulares para realizar o trabalho preventivo, pelas unidades de internação e por outros estados que fazem trabalhos parecidos e inspirados no Projeto RAP.

O Projeto RAP trabalha com alunos do sistema socioeducativo. Foto: arquivo pessoal

O que me dá mais orgulho no projeto é saber que eles não me enxergam somente como um professor, mas como um amigo”, disse Francisco.

Além disso, ele lembrou que, quando eles receberam o Prêmio Itaú Unicef, em São Paulo, no ano de 2018, pela primeira vez eles conseguiram que um adolescente saísse de Brasília e fosse para outro estado não para ser transferido de uma unidade para outra, mas sim para receber um prêmio de um projeto que ele era protagonista.

Durante a pandemia, o projeto acontece de forma virtual e materiais virtuais são montados para chegar até os adolescentes. “Com o dinheiro das premiações conseguimos adquirir televisões para todas as salas e, durante a pandemia, gravamos o material para as aulas serem passadas aos alunos. Tentamos sempre manter a nossa característica da união da educação com cultura, mesmo com as aulas virtuais”, disse o professor.

“Se eu fosse deixar um recado para os educadores e educadoras, seria mapear a comunidade que você está inserido, saber o que é significativo para ela. Escutar mais e horizontalizar as relações para que todas as vozes sejam escutadas, principalmente a dos adolescentes”, finaliza Francisco.

Mais informações do Projeto Atlas:

Instagram: @atlasescolardf

Facebook: Atlas Escolar DF

Mais informações do Projeto Penha está na escola:

www.periodicos.se.df.gov.br/index.php/comcenso/article/view/700

Mais informações do Projeto Meninas.comp:

www.meninas.cic.unb.br

Mais informações do Projeto RAP:

https://www.instagram.com/projetorapdf/

https://twitter.com/ProjetoRap

https://www.facebook.com/ProjetoRapDF/

www.youtube.com/ProjetoRAPDF

https://www.areadf.com/projetorap

https://open.spotify.com/artist/3a6PLatrkSBmVEjd1yn6CZ?si=Hg9Gmi90SReyKHEds5INhQ

http://www.deezer.com/artist/91905932

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