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Brasília

Comoção marca velório de professor esfaqueado em Taguatinga

“Transpirava bondade e mansidão. Era incapaz de gritar com alguém e a correção era tranquila”, afirmou o tio do professor

Vítor Mendonça

09/03/2020 17h14

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Uma das palavras que mais se repetem no velório do professor Herbert Silva Miguel, 25 anos, é “excelência”. Nesta segunda-feira (9), cerca de 200 pessoas entre familiares, amigos, colegas de profissão e alunos da Escola Municipal Machado de Assis do Goiás, onde lecionava, se reunem na capela 1 do Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga. O sentimento é de uma grande perda.

“Foi o cara com o maior coração que já conheci”, descreveu Daniel de Paula Miguel, 40, tio do professor. “Mesmo mais novo ele até dava conselhos pra mim com relação aos meus filhos. E profissionalmente tinha um futuro promissor”, contou. De acordo com ele, no apartamento de Hebert, folhas de planejamento semanal de aulas, estudos e alguns poemas cobriam parte da parede da moradia, em Samambaia.

“Ele queria prestar concurso e tinha muitos planos. Muito organizado. Mas, acima de tudo, era preocupado com o ser humano”, relembra o familiar. “Transpirava bondade e mansidão. Era incapaz de gritar com alguém e a correção era tranquila. Novamente: o melhor cara que já conheci”, finalizou Daniel.

Francisco de Assis Brito, 37, coordenador pedagógico da escola em que Hebert lecionava há um ano, no Novo Gama, afirmou que todos no colégio o admiravam no exercício da profissão. “Ele tinha naturalmente um perfil que a maioria de nós demora anos pra desenvolver, que é encarar as salas de aula na rede pública de ensino, como um entusiasta da educação”, declarou.

Francisco de Assis, coordenador pedagógico. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Nesta segunda-feira (9), a instituição de ensino fechou as portas em luto ao ocorrido. De acordo com Francisco, serão feitos trabalhos de acolhimento com alunos e professores durante as próximas semanas junto a psicólogos e mediadores educacionais.

O estudante do 8° ano do Ensino Fundamental, João dos Santos Gonçalves, de 13 anos, estudou com Herbert desde o ano passado. De acordo com ele, depois da chegada do professor na escola, uma notória melhora foi constatada. “Ninguém reprovou em história dessa vez, o que era comum”, destacou. “Estamos muito tristes. Era um Professor muito legal, pegava no pé de quem fazia bagunça, mas tinha aulas muito boas”. No dia em que Hebert sofrera a facada, a turma de João era uma das previstas no cronograma escolar.

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

O empenho em ajudar os alunos e transformar a condição social de onde moram era evidenciado principalmente na maneira pela qual Hebert tratava os estudantes, segundo Francisco. “Infelizmente ele foi assassinado pelo tipo de pessoa que acreditava que podia ajudar. Ele era um humanitário, acreditava nas pessoas. Ainda mais pelo deslocamento que fazia para uma comunidade tão distante também”, comentou o coordenador pedagógico.

Edno Fontenele, 30, também professor de história na escola afirma que o docente honrava a escolha que havia feito de curso e representava muitos com a mesma qualificação. “O Herbert mostrou pra família o porquê de se formar em história. Gostava de estar junto do aluno e fortaleceu a equipe. Ele sempre deixou claro que queria ajudar os alunos. Era um professor muito dedicado”, disse.

Leitor ávido, o perfil intelectual e filosófico era evidente na personalidade de Hebert para os colegas, segundo a professora de Língua Portuguesa, Vívian Maranhão, 47. O docente Manoel Pinto da Silva, 50, professor de matemática, teve uma relação estreita com a vítima no último ano. “Éramos confidentes. Tenho 25 anos de vida na educação e pude trocar muitos conselhos com ele. Sabia guardar segredos do que vivíamos dentro de sala. Um cara amigo”, pontuou.

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