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Brasília

Aulas: “Educação sempre foi elitista”

A socióloga Olívia Assis esclarece os motivos para essa desigualdade social estar mais à vista nesta pandemia

Redação Jornal de Brasília

03/08/2020 6h21

Ensino a distância escancara desigualdade na pandemia

Vítor Mendonça e Pedro Marra
[email protected]

A falta de privilégios também se reflete nos problemas sociais no DF, como as poucas oportunidades que a classe mais pobre tem – sem contar a falta de incentivo do Estado na educação de qualidade para todos. É o que dizem especialistas ouvidos pelo Jornal de Brasília.

A socióloga Olívia Assis esclarece os motivos para essa desigualdade social estar mais à vista nesta pandemia. “A educação no Brasil sempre foi elitista, nunca foi para pobre e nem para os pretos. É uma realidade que estamos ano após ano tentando modificá-la, mas não se modifica assim de uma hora para outra. Quem não tem um computador em casa hoje, há muitos anos também não tinha. Essas crianças estão na periferia, onde vários pais e mães não tiveram essas condições. Temos um problema cultural. Em função disso, temos um problema socioeconômico agora. Uma coisa puxa a outra”, aponta.

Olívia afirma que o momento demonstra mais ainda a necessidade de sobrevivência desses estudantes carentes. “Esse computador é o arroz e feijão na casa dessas famílias. O problema é muito mais profundo que a gente imagina. Mas não sei até que ponto essas pessoas vão conseguir se manter.”

A especialista comenta que os alunos sem acesso a uma tecnologia para ter aula on-line não terão um bom incentivo na vida. “Vamos ter um grupo de pessoas à margem da sociedade para os próximos anos. Imagine os meninos em 2020 no terceiro ano do ensino médio pleiteando uma vaga na universidade. Agora imagine os que estão em uma escola pública sem celular, tablet ou computador, muito menos internet. Vão desistir porque agora ficou pior. O choque emocional e psicológico é maior porque eles não têm um computador, por exemplo, que leva as informações com mais qualidade. Temos um indivíduo colocado até abaixo da margem social. Ele simplesmente vai desistir”, afirma.

Saiba Mais

Para a psicóloga infantil Ciomara Schneider, em termos de desenvolvimento afetivo, de interações sociais e até mesmo desenvolvimento psicomotor, as duas contrastantes realidades no DF sofrem perdas. No entanto, para quem vive em comunidades carentes, há um outro prejuízo. “Além de perder o contato com os amigos e os professores e todo esse ambiente da escola, perdem também muito conteúdo”, analisa.

“Esse conteúdo precisa ser passado e, quando as famílias são mais desfavorecidas socialmente, normalmente os pais têm menos estudo e talvez não possam atuar como professores dos filhos”, destaca. “Se trata de uma falta de melhor estrutura para o ensino à distância na escola pública, com certeza”, completa a psicóloga.

Conforme percebeu nos atendimentos psicológicos que fez durante a pandemia, a profissional relata que as aulas à distância, por mais que fossem novidade e gerassem grande interesse dos estudantes, também revelam outro agravo.

“Para as crianças e ou mesmo os adolescentes, que costumam lidar melhor com a questão, está havendo prejuízo emocional geral para todas as idades. Mas também [há perdas] para o desenvolvimento psicomotor de crianças menores, que vão do Ensino Infantil até a alfabetização”, finaliza.

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