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Brasília

As muitas desculpas da secretária para justificar o apagão na segurança

Arquivo Geral

11/10/2016 15h06

Hugo Barreto

Da redação
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Uma coletiva para tentar justificar o injustificável. Assim pode ser explicada a fala da secretária de Segurança Pública e Paz Social do DF, Márcia de Alencar, que juntou a imprensa para dar um colorido otimista aos péssimos números da pasta. Após um final de semana com dez mortes e 15 tentativas de homicídio, e diante do recrudescimento da violência, a secretária preferiu desqualificar os números do ano passado para justificar a crescente insegurança que assola a capital.

Para ela, o número de registros em setembro passado se deve à greve realizada pela Polícia Civil, quando foram paralisados os registros de ocorrência – como se a categoria não estivesse igualmente mobilizada este ano. “Setembro do ano passado é irreal do ponto de vista de análise criminal. Nós tivemos 20 dias de setembro passado em que não houve registro criminal, houve subnotificação desses casos”, afirma.

Na realidade fantástica de Márcia Alencar, isso justifica o crescimento da violência na cidade – e não uma política fracassada de segurança pública. Mas os próprios dados apresentados se encarregam de desmenti-la. O número de homicídios aumentou 22,7% entre os meses de setembro de 2015 e 2016. Os latrocínios dobraram no período de julho a setembro de 2016, quando comparado com o mesmo período do ano anterior, de 7 ocorrências para 14, neste ano. Para justificar a má defesa da vida do cidadão, uma surreal explicação:

“Este crime (latrocínio) tem uma evidência pelo perfil do autor. Existe uma maior parte de vítimas e autores dos crimes na faixa de 16 a 24 anos e o criminoso não quer cometer este crime quando o inicia, pois ocorre mais como uma frustração por não conseguir subtrair um item material”, afirmou. Ou seja, a culpa não é falta de policiamento. É “frustração”.

Em seu discurso, ela preferiu culpar o aumento populacional, a crise econômica a imprensa. Mesmo diante do aumento generalizado nos crimes contra o patrimônio, que cresceram 130% em setembro comparado ao mesmo mês do ano anterior, ela ainda preferiu culpar as informações que chegam ao cidadão.

“Medo e crime são fenômenos dissociados, mas como são divulgadas as informações, as pessoas só se sentem seguras quando estão acompanhadas ou em casa. Para a população, parece que o Plano Piloto foi contaminado por crimes contra o patrimônio, mas isso não é verdade”, afirmou, de forma inacreditável, na coletiva. Ou seja, a culpa não é da falta de uma polícia bem paga e aparelhada. Nem da livre ação dos bandidos. É do cidadão, que procura a informação.

Para contrariar a própria secretária, suas estatísticas. Do total dos roubos nos primeiros nove meses do ano, a maior parte corresponde a ações em coletivo (5,1%), comércio (5,5%), veículo (10,6%), furto a veículo (37,1%), roubo a pedestres (75,4%) e roubo a residência (1,7%). Ou seja, quem se sente seguro em casa não está de todo errado.

Em sua extensa apresentação, a secretaria considerou áreas críticas as regiões administrativas de Brasília (ou seja, o Plano Piloto), São Sebastião, Estrutural, Santa Maria, Planaltina, Taguatinga Samambaia e Ceilândia, com maior ocorrência de roubos entre segunda e quarta-feira, das 15h e a 0h. Segundo um mapa apresentado, a maior parte dos crimes contra o patrimônio ocorrem na 902 Sul, enquanto a “sensação de insegurança” é maior na 912 Norte. Sobre providências para corrigir, nenhuma palavra.

População vê outro quadro

A sensação de insegurança é tanta, que a professora Aline de Melo viu-se obrigada a se mudar para proteger a família. Ela saiu de uma casa em Taguatinga Sul, para morar em um apartamento em Samambaia Sul, depois de o vizinho ser assassinado na porta de casa. “Não tinha policiamento na região e morar em apartamento dá uma tranquilidade maior”, diz.

“Fico tranquila na hora de dormir, mas é sempre muito complicado sair da residência. Evito portar objetos de valor e procuro andar acompanhada pelo meu marido ou filhos”, completa Aline. No mês passado, o filho de 16 anos da professora teve o celular roubado por um criminoso enquanto aguardava em uma parada de ônibus, em frente ao Centro Educacional Católica de Brasília.

A dona de casa Camila Amaral, moradora de Samambaia Norte ficou traumatizada ao ter casa invadida por criminosos, no ano passado. À ocasião, estava grávida, a uma semana do filho nascer. “Eu estava no segundo andar da casa. Eles fugiram ao me verem. Acho que não estavam preparadas para encontrar alguém ali”, imagina.

Depois do episódio, ela mudou de residência, mas ainda se sente insegura. “Há duas semanas, meu marido viu um homem sendo abordado por um criminoso na rua de casa. Toda essa situação dá muito medo de sair e todo barulho já parecer ser provocado por um bandido”, lamenta Camila.

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