Menu
Brasília

Transportes escolares esperam melhora com volta às aulas presenciais

Profissionais precisaram adotar protocolos sanitários para receber os alunos

Vítor Mendonça

09/08/2021 4h30

Atualizada 08/08/2021 19h59

Transporte escolar

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Com o retorno às aulas presenciais na rede pública de ensino, além dos professores, os motoristas de transporte escolar também precisaram se preparar para receber os estudantes do Distrito Federal, que estão voltando de maneira escalonada e já necessitam dos serviços dos trabalhadores. Eles começaram a levar os alunos do Ensino Infantil quinta-feira passada (5), e hoje retornam também com os do Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano).

Por quase um ano e meio, os trabalhadores tiveram de enfrentar a crise gerada pelo fechamento das instituições públicas de ensino, uma vez que não levavam nem buscavam mais as crianças e adolescentes nas escolas. Mas a demanda que esteve escassa durante toda a pandemia da covid-19, está sendo reacesa aos poucos com estas etapas de retorno às aulas presenciais.

Álcool em gel, máquinas de aferição de temperatura, tapete sanitizante, máscaras e higienização constante fazem, agora, parte da nova lista de prioridades da categoria, que não teve nenhuma orientação ou protocolo para o recebimento dos alunos nos veículos, e, por isso, precisou de se preparar por conta própria.

Além disso, na empresa Norte Transporte Escolar, dos proprietários e motoristas Aracele Ramos – tia Ara para as crianças -, 43 anos, e Maurício Sobral, 37, que leva estudantes residentes no Paranoá a escolas públicas da Asa Norte, os trajetos serão feitos com a capacidade dos veículos – duas vans e um ônibus – reduzida em 50%.

Quando os responsáveis ligam para a companhia, as primeiras perguntas feitas são justamente sobre os novos protocolos de segurança sanitária a serem adotados nos veículos para levar os filhos. “A cada parada que fizermos para pegarmos os alunos, passaremos o álcool em gel e, quando formos encerrar nossa linha, faremos a higienização toda do carro. Agora, [por conta das novas medidas de segurança] não vamos deixar que os alunos comam dentro dos veículos também, porque teriam de tirar a máscara”, explicou Ara.

Para ela e Maurício, a volta às aulas presenciais significa uma chance de ter as contas de casa estabilizadas novamente, uma vez que a crise gerada pela pandemia os forçaram a sobreviver com bicos e fretes. Segundo ela, a demanda aumentou apenas porque antes não havia serviço a oferecer aos pais, mas, apesar da recente procura dos responsáveis, a busca pelo transporte escolar está menor por dois motivos principais.

O primeiro porque alguns dos pais estão receosos em enviar os filhos de volta às aulas presenciais nos próximos dias, com medo da contaminação. O segundo, por outro lado, porque a organização feita para o retorno dos alunos, de forma intercalada com metade da capacidade das turmas em uma semana e o restante na outra, diminui ainda mais a quantidade de crianças transportadas em cada veículo.

Nesta segunda-feira, por exemplo, anteriormente levando 16 estudantes dentro de uma van, além de diminuir para oito a quantidade de pessoas para os assentos, apenas seis alunos deverão ir às escolas nesta primeira semana. Para a próxima, porém, dentro do revezamento, serão somente quatro crianças a serem transportadas às respectivas instituições de ensino.

“A maioria [dos pais], pelo que estou entendendo, está preferindo levar a criança do que colocar no transporte. Atrapalhou muito esse modelo misto entre presencial e remoto. Fica muito inconstante. […] E estão reclamando muito porque estamos cobrando um valor ‘x’ e a criança vai frequentar a escola durante duas semanas no mês apenas [devido à intercala] – e os pais não estão querendo pagar por isso”, relatou Ara.

Um preço menor até seria viável se não fosse o preço do combustível, segundo a proprietária. Este é o principal empecilho para não conseguirem oferecer um menor valor aos pais. “Eu entendo perfeitamente a situação e também acho justo que eles queiram que a gente cobre menos, mas, por outro lado, não conseguiríamos arcar com o diesel, que está lá em cima [o preço]. Não conseguimos rodar com o preço mais baixo na mensalidade por conta disso”, acrescentou a motorista.

Aracele Ramos – tia Ara, para as crianças. Foto. Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Fretes para sepultamentos

Para arcar com as despesas a partir do início da pandemia e do fechamento das escolas, Ara e Maurício contaram com a ajuda dos familiares e procuraram formas de conseguir rendas extras. Também neste período de crise gerada pela covid-19, a Secretaria de Economia, em parceria com o Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), pagou nove parcelas de auxílio à categoria, sendo três iniciais de R$ 1.200,00, e outras seis prorrogadas de R$ 600,00. O último pagamento foi feito neste último mês de julho.

Entre as atividades que o casal buscou para conseguirem maior renda, Ara conseguiu bicos de faxina em algumas casas e Maurício realizou fretes para levar grupos de familiares a enterros de entes que foram perdidos para as complicações causadas pela covid-19. Acostumados com a alegria das crianças, a tristeza dos novos passageiros trouxe um contraste de sentimentos para os transportadores.

“É muito atípico do que estamos acostumados a lidar no dia a dia. Tivemos que fazer fretes até para amigos que perderam familiares”, relatou Ara. O mais recente foi feito neste último sábado (7), também para a família de um amigo, que perdeu a mãe para a mesma doença pandêmica. “Foi um ano bem difícil. Bem difícil mesmo. O ano passado inteiro foi perdido e não pudemos fazer nada. Passamos muito perrengue”, disse a motorista.

Situação similar é enfrentada também por outros companheiros da categoria. De acordo com o presidente do Sindicato dos Transportes Escolares do DF (Sintresc-DF), Nazon Simões Vilar, muitos chegaram até a desistir e mudar de profissão, vendendo os veículos para conseguirem renda para pagar as contas e sobreviver à crise. Uma das principais dificuldades é o financiamento das vans, que muitos ainda pagam e tentam honrar com os compromissos, mesmo sem demanda.

“Ninguém imaginava que passaríamos por uma pandemia e muitos tinham entrado com um financiamento de cinco anos e há dois pagavam as parcelas. Aqueles que não tinham reserva foram vendendo o que tinham – um carro usado ou outras coisas. Até que chegou um ponto de não darem conta de pagar”, destacou Nazon. “E bancos não têm dó nem piedade. Colegas tiveram depressão por conta disso tudo. Ver o banco tomar um dos poucos bens que se tem é muito sacrificante para a pessoa. É desesperador.”

A saída para a crise tem sido os bicos de entregas e fretes, que alguns começaram a fazer, e a volta às aulas presenciais da rede pública, já que cerca de 60% a 70% da categoria depende da educação governamental. O problema do preço pelo transporte, porém, também atinge os outros trabalhadores. “Temos orientado os transportadores, como sindicato, para que façam aquilo que dão conta de cumprir. Não adianta aceitar receber metade do valor do transporte e no final não dar conta de cumprir com o serviço”, alertou Nazon.

O presidente do sindicato, também transportador, afirma que, anteriormente à pandemia, os gastos com combustível lhe custavam cerca de R$ 200,00 por semana. Atualmente, porém, segundo ele, o valor dobrou. Da mesma forma, o preço dos materiais de manutenção dos veículos cresceu, passando o valor de um pneu de aproximadamente R$ 400,00 para quase R$ 900,00. “E ainda tem o aumento da mão de obra pelo serviço”, acrescentou.

“Se o colega não colocar na planilha e calcular os gastos do compromisso que está arcando com o pai, ele vai pagar para trabalhar, e não vai dar conta. Uma hora vai quebrar, vai fechar a conta, e o pai vai colocar na Justiça. E aí ficam naquela briga [judicial]”, disse.

Ele espera que a volta às aulas possa ajudar a reaquecer as economias dos trabalhadores da categoria, que agora terá de se adaptar aos novos protocolos sanitários para evitar a proliferação da covid-19. “Precisamos ficar atentos. Todas as crianças vão usar máscaras, mas vamos ter de redobrar a atenção, porque crianças podem querer tirar. Mas ninguém vai entrar sem ela [o item no rosto]”, finalizou.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado