Por Camila Coimbra
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A região da 26 de Setembro, localizada em Vicente Pires, enfrenta desafios diários devido à falta de infraestrutura básica. O local atualmente abriga cerca de 30 mil moradores, que convivem diariamente com ruas de terra, alagamentos e um cenário de abandono que reflete décadas de omissão do poder público. Em situação irregular, aguardando um processo de regularização que, segundo previsões, deve ser concluído apenas em 2026, os moradores vivem em uma comunidade que cresceu nas sombras da regularização fundiária, onde sofrem com a ausência da pavimentação, do saneamento básico entre outros.
Ronaldo Macário, 44 anos, mora há uma década no assentamento 26 de Setembro, uma comunidade marcada pela ausência de políticas públicas e infraestrutura básica. Para ele, a invisibilidade imposta pelo Governo do Distrito Federal (GDF) é evidente em cada aspecto da vida local. “Aqui falta tudo: asfalto, saneamento básico, iluminação pública. Mas, acima de tudo, falta gestão”, afirma. Ronaldo destaca que, embora haja um gestor responsável pelo assentamento, falta uma equipe técnica para planejar e executar melhorias. “Um gestor não precisa ser técnico, mas é fundamental que ele tenha engenheiros, topógrafos e outros profissionais capacitados. O que vemos são máquinas operando dia e noite, mas sem um objetivo claro. É dinheiro público sendo desperdiçado enquanto o básico não é feito.”
Maria Santa Lopes Sobrinho Nicácio, de 63 anos, vive há sete anos na região e administra um comércio local. Para ela, as chuvas trazem não apenas prejuízos materiais, mas também uma sensação constante de abandono. “Quando começa a chover, tudo o que vem das partes mais altas desce até aqui: lixo, lama, terra e até entulhos. Perdi materiais inteiros no meu comércio. Uma vez, tive um prejuízo de mais de R$ 6 mil. Além disso, a água entrou no porão, destruindo tábuas, portas e janelas. Cada chuva é um lamaçal, um trabalho enorme para limpar e recuperar o pouco que sobra”, lamenta.

Maria Santa também critica a falta de retorno do governo. “Votei no governador Ibaneis acreditando que ele olharia mais pelas pessoas da periferia, mas estamos abandonados. Meu carro paga IPVA, mas para quê? Para andar em ruas cheias de buracos e lama?” Para ela, o problema é reflexo da falta de respeito com os moradores. “Brasília não nasceu legalizada, mas nem por isso deixaram de investir no Plano Piloto. Nós também merecemos dignidade e infraestrutura. Não somos bichos, somos seres humanos.”
Regularização
Criada em 1996, durante o governo de Cristovam Buarque, a área inicialmente destinada a atividades agrícolas foi, ao longo dos anos, transformada em um setor habitacional irregular. Hoje, o processo de regularização avança a passos lentos, com previsão de conclusão apenas em 2026. Enquanto isso, os moradores enfrentam o caos imposto pela urbanização desordenada.
Gilvando Galdino, administrador regional de Vicente Pires, explica que, por se tratar de uma área irregular, a 26 de Setembro não pode receber investimentos públicos significativos. “Trabalhamos com reparos emergenciais, mas é como enxugar gelo. A chuva destrói tudo em um dia, e no outro estamos lá novamente”, afirmou.
Segundo Galdino, o governo planeja iniciar obras estruturais no segundo semestre de 2026, com projetos que incluem drenagem, terraplanagem e pavimentação. Contudo, até lá, a comunidade permanece à mercê de soluções paliativas.

Resposta do Governo
O Governo do Distrito Federal reconhece que a situação na 26 de Setembro é resultado da falta de infraestrutura urbana, mas justifica que a área está em processo de regularização. Em nota, a Secretaria de Obras informou que está finalizando um edital para contratar projetos que atenderão a região a partir de 2026. Enquanto isso, ações paliativas, como drenagem emergencial e limpeza de vias, continuam sendo realizadas para mitigar os impactos imediatos.
A Novacap reforçou que as limitações legais impedem investimentos estruturais até que a área seja regularizada. “Os estragos registrados na 26 de Setembro são reflexo da falta de infraestrutura adequada para atender os moradores da região. Vale lembrar que a área está em processo de regularização, podendo receber apenas ações paliativas da companhia junto à administração”, informou a empresa.
Já a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) destacou que os estudos para enquadramento da área na estratégia de regularização fundiária estão no escopo da revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), que atualmente está na fase de consolidação de propostas para posterior apresentação à população.
Apesar das promessas, os moradores permanecem céticos quanto ao futuro. Para Ronaldo Macário, ações concretas precisam acontecer antes que mais tragédias sejam registradas. “Somos cidadãos, pagamos impostos e merecemos respeito e dignidade.”
Enquanto a 26 de Setembro aguarda por soluções definitivas, a comunidade luta e se recusa a ser esquecida, que esperam transformar o cenário de abandono em um futuro mais digno e seguro.